terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Força de vontade

Eu tinha preguiça de tudo. Vontade de dormir, mas eu tinha acabado de acordar. Não pensava em me mover, fazer qualquer coisa de útil, ou de inútil, que seja. Só pensava em duas coisas: ir à academia e fazer sexo. Não sou viciado em academia, nunca gostei de academia, mas meus braços finos estavam grossos e eu não queria que eles afinassem novamente, não era um culto ao corpo, mas era um culto ao meu tríceps. O sexo eu era viciado, era por isso que eu desejava-o. Enfim, o tempo passava e eu nem notava. Eu não fazia nada para os meus braços voltarem a crescer, nem tinha ninguem para satisfazer os prazeres da carne. Eu pensava comigo: será que a mãe precisa de mim para alguma coisa? E eu continuava deitado na cama, lendo o meu Misto-Quente (1982, Charles Bukowski), esperando que alguma coisa acontecesse, torcendo para que o sono não tirasse a minha atenção do livro.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Profissão: escritor

"Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor. Nada do que eu lia tinha a ver comigo. Eu tirava livro após livro das estantes. Por que ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava? Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por outra como ela."
Charles Bukowski sobre John Fante.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Animal I am

Ele entrou na igreja berrando por perdão. Jesus olhou para ele com aquele olhar melancólico de sofrimento, pingando sangue no chão do altar enquanto ele esperava morrer pendurado na cruz.

- Você se julga perdoável?
- Não sou eu que julgo, é o Senhor.
- Filho, Jesus perdoa, pois é tolo. Jesus perdoa, pois sofre por toda a pilantragem, a fraudulência, a malícia de vocês, humanos.
- Isso quer dizer que me perdoa?
- É óbvio que te perdôo, é a minha função te amar, sobretudo, independente dos teus erros. Mas me diz uma coisa, na sinceridade, você se julga perdoável?
- Eu julgo que não mereço o seu perdão, Pai.
- Como não?
- O Senhor perdoa, pois sofre pelos humanos. E por nós?
- Animais? Bestas?
- É...
- Não és uma besta, meu filho.
- Acho que sou, Pai. Não sei mais ser gente.
- Eu lhe perdôo, pois você é gente, ainda que tenha se esquecido disso. E você? Se perdoa?
- Não me sinto culpado, mas me culpo por deixar os pilantras, os fraudulentos e os maliciosos me transformarem nessa coisa animalesca. Pai, não quero mais ser por quem você sofre.
- Era o meu receio. Não te perdôo, pois você podia ter se tornado um anjo.
- Como?
- Você não queria ser mais gente, então escolheu ser besta. Podia ter escolhido ser anjo, jamais precisaria chorar nos meus pés ensanguentados.
- Anjos não tem sexo, anjos não pecam, anjos não são felizes.
- Você é?
- Eu tenho sexo, eu sou pecador, me basta. Estou vivendo.
- Então viva, sozinho na escuridão. O Diabo não dá apoio às bestas como Deus dá aos anjos. Seja essa besta solitária que se alimenta das vulgaridades. E se um dia quiser perdão, se um dia quiser ser gente, venha aqui.
- O Senhor não está morrendo?
- Estou, mas a tua vida é mais curta que a minha morte.
- Por quê?
- As bestas vivem rápido e brevemente. A minha dor é eterna. Espero que você me busque antes de sucumbir.

Levantou-se e partiu, sem falar uma palavra. Acabou esquecendo que um dia falou com o filho de Deus, ou que um dia sentiu amor, ou que um dia foi alguém. Endiabrado, criou o seu inferno, mas viveu bem, comeu bem, se sentiu bem. Sozinho, mas bem.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Drama

E sorri. Sem mais. Só acho que demorou para acabar.

Você vai dizer às amigas que o sexo nem era tão bom

Embriagado pelo poder, eu ia cambaleando pelas ruas escuras. Não me preocupei se a chave ainda estava no bolso, nem com a possibilidade de eu ser assaltado àquela hora da madrugada, só andei sem sentido, me encostando nos postes para respirar.
Eu sabia que estava na rua errada, no bairro errado, na cidade errada, no estado errado. Mas não me assustei, talvez tenha me feito rei, imperador, ou algum megalomaníaco do gênero. A chuva escorria pelos meus cabelos oleosos enquanto eu ria-me das desgraças alheias, pois eu era invulnerável e não sofria de desgraças.
Cheguei numa praça nova, onde um grupo de drogados me esperava, convidando-me para uma dança calorosa. Basta-me de drogas, ou de sexo, ou de rock'n'roll, eu dizia. Clichê, era óbvio que iam apelar para a minha sexualidade supostamente fragilizada pelas minhas escolhas. Beijei a bela moça que vomitava na calçada, ela riu e abriu minhas calças.
Sinceramente, não tive vontade. Acontece, uma ou duas vezes por ano. Esse viciado por sexo sossega. Eu sei, é quase impossível, mas acontece. Mandei-os que me buscassem uma bebida, um carro, que me fizessem massagem. Eu, rei, não ganhei nada além de um veneno que destruia os figados daqueles porcos bastardos.
Segui em frente, virei a esquerda, depois a direita. Talvez eu nem tenha virado para nenhum lado, não que essa informação seja relevante. Deitei na poça de água que tomava a rua e chorei. Deixei que as lágrimas se escondessem nos pingos da chuva que inundavam o meu rosto. Depois eu ri, me sentindo sozinho, dessa vez vulnerável até às sombras. Me escondi num canto e esperei o dia amanhecer. Que belo amanhecer...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Museu

Dizem por aí que museus são feitos de velharias, são tolos esses que dizem tal blasfêmia. Os museus guardam a arte, sobretudo, de todos os tempos, e ainda guardam a história em imagens ou palavras. A História começou no dia que alguém decidiu criar um museu, ainda que tenha sido um museu pessoal. Começou quando um homem colecionou o passado de uma outra pessoa, com o objetivo de entender o mundo de antigamente.
Todos nós somos museus, criando, reservando e armazenando histórias. Histórias de nós mesmos, histórias dos outros, histórias da História. Eu lembro bem daquele amigo de infância, que era meu irmão, não de sangue, mas que jamais me deixaria. Tinhamos planos de viver juntos para sempre, de sermos vizinhos, de termos filhos que se tratem como bons primos se tratam. Aconteceu que perdemos contato, não viveremos juntos, nem seremos vizinhos, nem teremos filhos que se tratem como bons primos. Eu lembro bem daquele amigo de infância, que era meu irmão, não de sangue, mas que jamais me deixaria. Tinhamos planos de crescer juntos, de descobrir o mundo juntos, de atravessar à adolescência como vencedores. Aconteceu que perdemos o contato, até crescemos juntos, até descobrimos o mundo juntos, até atravessamos à adolescência como vencedores, mas nos perdemos com o tempo.
As histórias estão guardadas na minha mente, cheias de sentimentos. No começo a euforia, depois o descaso, assim são os relacionamentos. Mas hoje eu não vivo de passados, vivo de orgulhos. Como é interessante ter orgulho de alguém. Cada um com o seu sonho, cada um com a sua luta, e quando esse cada um acredita e conquista tal sonho, é um vencedor. Hoje, meu melhor amigo não é parte do museu, há de ser algum dia, mas tudo a seu tempo. Hoje, meu amigo, que não é de infância, nem de muito tempo, conseguiu pôr em prática um de seus projetos. Admito que não é lá grandes coisas tal projeto, na minha cabeça não é, mas na dele é. É só por isso que meus olhos se enxeram de lágrimas e eu pensei comigo "Que os sonhos, por mais tolos que sejam, um dia se realizem."

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Blá blá blá

A desvantagem de ter um amigo imaginário.

- Escreve!
- Escreve sobre o que? Não quero escrever...
- Escreve!
- O que, porra?
- Escreve! Põe as palavras sublime, páginas, segredo, juntas!
- Meu, o que tem a ver?
- Põe! Vai ficar bom!
- Como assim? Não vai ficar bom.
- Ah, então faz uma fábula!
- Que?
- Sobre uma raposa e o seu amigo!
- E o que acontece?
- Ah, a raposa faz seu papel, que é a de trair o amigo.
- Eu prefiro gatos.
- Então escreve uma fábula onde o gato trai o amigo.
- Não acho que gatos sejam traidores.
- Então diz que o gato guardava páginas de segredos, ele era escritor...
- Meu, pára.
- Escreve!
- Não vou escrever! Cala a sua boca!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Luto

Choque
Ele não acreditou no que ouvia, seus músculos se contrairam, seus poros se abriram e deles saiu o suor frio. Não obstante com o choque, se pôs a rir, zombando da situação.

Negação
Não negou a existência do ocorrido, na bem da verdade, conseguiu captar rapidamente a informação, dando tempo só para a calma instaurar e o choque passar. A negação surgiu quando ele disse estar bem, negando todo sentimento que ele sentia naquele momento turbulento.

Raiva
Não foi uma única vez que ele se perguntou da sinceridade, da amizade, do amor, dos sentimentos como um todo. De pouco em pouco ia notando que o estômago doia, sentia uma náusea horrível que lhe dava vontade de vomitar. Ele não negava mais, sabia que sentia algo, mas antes de qualificar qualquer sentimento, prefiriu entender. Mania dele, entender. Era culpa de quem? Culpa de todos, que faziam descaso da amizade, do amor e da existência dele. Que raiva daqueles filhos da puta, ele pensava. Queria odiar todos, inclusive aqueles que não tinham nada a ver com a situação.

Depressão
Passou a raiva dos outros. Não queria mais odiar ninguém, só queria se odiar, afinal foi ele o culpado. Era tudo simples, até que ele começou esse processo desgastante, julgando necessário mexer com algo que não deve ser mexido. Ele foi burro em acreditar que as coisas passam, que as pessoas mudam, que as coisas funcionam. Ele foi coitado em ser usado, em ser julgado, em ser traido. A única vontade era de se esconder no escuro, para que as dores do estômago pudessem queimar o peito todo e acabar com a dor no coração. Queria chorar, pois se via sozinho e de ideais estraçalhados.

Aceitação
É verdade que, no fundo, ele não ficou surpreso. A qualquer hora isso poderia acontecer, no fundo foi bom que aconteceu. Agora ele se sente mais claro da vida, mais inteligente, mais malandro. É, às vezes a malandragem não faz bem, mas acontece, não podemos evitar que ele se torne o que vem se tornando. Não é culpa dele, é verdade. O pior é que ele não liga, não se importa com mais nada. Esqueceu que é bom amar, só sabe que a solidão lhe faz bem. Que fique assim, com saudade do carinho da mãe, pensa ele.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O monstro que se sentiu humano

Passei por bons bocados, senti um pouco como é ser gente, afinal senti um pouco. Mas a realidade nos mostra quem realmente somos, podemos evitar a verdade, mas não podemos ignorá-la. Uma hora acabamos nos vendo sem saída, debatendo-se no mesmo lugar, aquele do qual nós estavamos lutando tanto para sair. Acontece, às vezes nos contentamos, cansados do nadar e morrer na praia. E admito, eu só não lutei mais por temer ser machucado, eu sou assim, sempre medroso. Mas que bom que tive medo, eu sou muito melhor monstro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Simplicidade

You know me, talking and fucking are always holding hands.

sábado, 7 de novembro de 2009

Turbilhão

Me perdi na insanidade. É plausível, já que os meus pensamentos desaguam em mil mares diferentes. Minha mentalidade estúpida que me toma a noite toda, não é que ela me esteja dando insônia, é que me canso de pensar em dormir quando tenho tanto a pensar. Podia eu me deitar e lembrar de quando a vida era mais simples, mas quando foi isso? As coisas são complicadas desde que me conheço por gente, nós temos medo de morrer, nós temos medo de viver, nós temos medo de amar, nós temos de ser amados. Podia eu me deitar e ficar encarando a galáxia que fica na minha parede, escolhendo onde vou criar uma imagem, uma história, um passado e um futuro. Ou podia me deitar e dormir pra sempre, até que unhas leves me acordassem com um carinho eterno, ou seja, não teria motivos pra levantar. Aliás, esse desânimo todo provém da cabeça. Ela me põe em posição de defesa quando eu só pretendia estar sorrindo. Sorrindo e sofrendo, existe um meio mais belo de enfrentar o dia?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Prós e contras

Eu não dou muita atenção para as pessoas a minha volta. Dou atenção ao meu umbigo e ao meu jeito de viver. Nesse jeito de viver, as pessoas vão passando. Presto atenção por pura curiosidade, procuro entender suas manias, seus jeitos, seus pensamentos. É verdade que não sou curioso, mas tenho uma paixão pelo entendimento da psique humana.
Não tenho vontade de saber quem faz o que, ou quando faz, ainda que eu adore uma boa fofoca. Nos entremeios da minha curiosidade iminente, digo que me importo com os méritos das atitudes. Gosto muito de dar pontos positivos e negativos para as escolhas que as pessoas tomam. Não é que eu esteja me subordinando a espionar a vida alheia, é só um aprendizado, um pouco de reflexão do que eu faria ou deixaria de fazer.
É meu mal, querer entender. Sou muito científico e matemático, não basta classificações vazias como a bondade e a maldade, com isso justifico o meu placar que soma os certos e os errados. Já tive meu tempo de buscar a beleza do espírito das pessoas, esses com essências boas ou ruins, mas essas crenças passam, ora ou outra as fés desabam, dando espaço para novas fés. Daí veio essa crença boba do mérito. Sei lá, vai ver, em seguida, eu preze pelo passado e pelas histórias, classificando as pessoas de acordo com o seu histórico. Basta que um dia eu veja que estou errado e que eu entenda que Deus não faz justiça por mérito e sim pelos antecedentes... Tudo a seu tempo...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O monstro que temia os humanos

Fui deixando de ser gente aos poucos. Cada minuto era uma vida nova, pois meu lado humano ia morrendo e o monstro de coração gelado tomava conta do meu ser. Foi num final de inverno quando me tomaram a minha capacidade de sentir, me obrigando a ser o que sou. Podia ficar sofrendo a vida toda, como poucos fazem, podia fazer meu papel de monstro ferindo os outros, como a maioria faz, mas preferi manter distância e estudar a humanidade. Por que mesmo eles têm sentimentos? O que faz eles se tornarem insensíveis?
De pouco em pouco minhas perguntas estão sendo respondidas. Eu entendo que quando alguém é machucado, perde a fé no amor, sendo esse o sentimento mais humano de todos os sentimentos. Aos poucos essa falta de fé se torna repulsa e sem querer ela está lá, trantando-o como se ele fosse carne qualquer que pode satisfazer os prazeres dela. Não acho que ela está errada, pois assim que ela perdeu a fé no amor que tinha por ele, acabou conquistando a liberdade de tomar a relação como casual e sexual.
Quem diria que eu, que vivi tanto tempo como um monstro, sugando dos corpos alheios, ia encontrar respostas que me falassem quem sou eu? O que eu não esperava era que quando eu descobrisse o que sou, eu mudaria. Sinto alguma coisa, e é diferente da libído. Só me pergunto se estou pronto para começar a ser gente de novo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Adocicando

Eu tinha esquecido como era ouvir "eu gosto de você" sem sentir medo.
É melhor do que eu lembrava. Vai ver é isso que adoça minha vida.
Vida com gosto de chiclete de morango com recheio de limão: é doce, mas com um pingo ácido das mágoas que impõe. Antes com o pingo do que o chiclete ser todo azedo.
Vai ver é isso que me faz sorrir.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Azar no jogo, azar no amor

Nem tudo depende de esforço. Achei que Deus era justo aos batalhadores, mas não, Deus é alheio às sequências da vida. Escolhas da vida, me parecia sensato quando eu ouvia repetidamente. E quando não se podem ser feitas escolhas? Esse ou aquele? Não posso abrir mão de um, então tenho de abrir mão do outro? Como funciona esse negócio de ser impotente sob os caminhos que aparecem pela frente?
Não basta pensamento positivo, acordar cedo, trabalhar duro. Mas basta muita sorte, ou você acha que ganhadores da Mega Sena ganham por merecimento?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Declarações em vão

O vestido amassado não marcava a calcinha, mas deixava ela a mostra quando a garota respirava fundo. O cabelo loiro desajeitado e o olhar de ressaca davam a impressão de que toda a moralidade tinha sido despejada do alto de um arranha-céus. As pessoas olhavam com olhares repressores, julgando a posição da menina, fofocando sobre a vida que ela levava. É fato que essas pessoas não conheciam a vida dela, mas ainda sim inventavam informações e desgraças, falando sobre a sua vadiagem, seu alcoolismo, sua vida sexual muitissimo ativa.
Fui o único que resolvi falar com ela. Que foi, bela moça? Os olhos azuis se enxiam de água aos poucos, ela me abraçou. Pensei em dar conselhos que ajudassem-na a solucionar os problemas que eu nem sabiam quais eram, mas preferi fazer o que sei fazer de melhor, me calei. As lágrimas dissolviam a maquiagem, que por sua vez escorriam na minha camisa branca.
Deixei estar. Que me suje, que chore, desde que se sinta protegida por mim, eu pensei. Mas ela leu meus pensamentos e se envergonhou, saiu apressada em busca da porta. Óbvio que não pude evitar de olhar para as pernas maravilhosas enquanto ela saia, óbvio que eu podia deixar de fazer esse comentario tolo.
Volta aqui! Peguei-a pelo braço e ela disse: eu te amo, seu idiota! Pois não me disse antes por quê? Quantas vezes eu não esperava ser amado novamente, quantas vezes não procurei nos olhos das pessoas que passam pela rua o amor? Eu te amo também, mas acontece que você me machucou, eu disse. Ela não tem o direito de pisar e de amar, tem? Existe o orgulho, acima de tudo. E quando eu vou saber que ela vai me machucar de novo?
Tão bela. Se me lembro bem, nos beijavamos nos finais de semana chuvosos. Mas me jogou fora, como se eu fosse um papel usado. Eu a beijei depois da declaração, pois era isso que era esperado de mim. Mas logo em seguida liguei pra minha namorada, fui viver a minha vida, tinha mais coisas pra fazer, sei lá, me esqueci como amar.

sábado, 17 de outubro de 2009

Respiração

Eu gostava de ouvi-la respirando enquanto dormia, mas não sinto saudades. É como uma música boa, que fica na memória, que se guarda num local específico, o qual eu posso sempre buscar e lembrar. Não sinto vontade, se sentisse, eu buscaria ela pelos cabelos para que pudesse dormir ao meu lado e respirar eternamente. Basta que eu respire sozinho, que eu durma sozinho, que eu sonhe com ela, mesmo que eu não lembre quando acordar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Cicatriz

É, definitivamente eu tenho medo de relacionamentos duradouros.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Talkative, but blameful

- Oh God, why do you keep falling down to pieces?
I ask myself what's the reason about this bullshit.
All about the fucking unfaithful gift of being someone new.
I've been searching for this heaven that you told me.
But all I can see is illness.

- Be brave, my boy.
Be brave.
Fell this heart near yours.
Someone would like to be felt.
So feel it!
Don't be afraid to fly again.

- We are over, sweet Lord.
We are over.
I am over.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Comparação estúpida

O verão está chegando, os dias estão ficando mais longos, mais quentes. Eu estava saindo da aula para jantar, caminhei devagar para aproveitar o clima delicioso do crepúsculo sancarlense. Durante o dia o termometro chega aos 30 graus, mas no fim da tarde pode-se aproveitar uma sombra fresca de 22 graus. Enfim, enquanto eu caminhava e aproveitava a caminhada, vi um grupo de pássaros negros. Em São José dos Campos, os únicos pássaros negros que se viam eram os milhões de abutres que povoavam o céu sem núvens de lá. Aqui, são pássaros que nunca tinha visto antes, apareceram agora, no começo da primavera. Eles são negros, como disse antes, têm bico parecido com bico de papagaio e têm uma cauda comprida, de modo que quando eles pousam, a cauda pesada segue inércia e quase o derruba para frente.
Comparação tola, mas os pássaros negros daqui são bem mais belos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Maldita memória

Hoje é um daqueles dias que eu tenho saudade de casa. A nostalgia e a saudade se dobram no peito e o calendário passa a viver em minhas mãos. É quando eu quero casa que eu analiso os prós e os contras, os certos e os errados, é quando eu analiso a minha vida.
As minhas analises são fúteis, muitas vezes. Eu olho para as valetas nas ruas e penso que o sistema pluvial da cidade é horrível. Eu olho para as árvores e penso sobre a primavera. Ouço a música e penso na solidão do momento, a tão merecida solidão que a música oferece.
Essas analises, são, sobretudo, literatura. Coisa que o leitor ia se orgulhar de ler, pois ele se cansa dos mesmos monótonos e subjetivos assuntos que meu blog trata. Infelizmente, a minha memória me priva de uma boa escrita e priva o leitor de uma boa leitura. Enquanto caminho, escrevo na minha cabeça texto após texto, cheio dos significados, ainda que sobre as mais pequenas coisas. A singularidade de cada ação, a singularidade de cada objeto, a singularidade de cada momento, que eu deixo de transpor aqui por puro esquecimento.
Largo meu rabisco aqui, inscrevendo esse texto que lembrei agora pouco. Foi quando eu andava pela rua XV, indo à caminho da USP, que eu pensei: que droga, tinha tanta coisa para escrever, mas me esqueci.

Segredos a parte

Eu acredito que é boa companhia.
Das saudades que eu tinha da cama.
Das saudades que eu tinha do carinho.
Não é malícia, é aproveitar o que me agrada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Minhas contas não pago eu

Eu sinto que fiquei calado quando deveria ter dito.
Sinto que falei quando deveria ter ficado calado.

É que eu sempre acho que devo fazer tudo certo, não do meu jeito.
Se eu falasse o que queria falar, não os faria feliz, penso eu.
É que eu não falo nada, dai não os faço feliz.

Sinto que ainda tenho um cordão umbilical,
Mas só percebi agora.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Seu sorriso, meu esforço

Eu sou um palhaço, mas sou incompreendido.

sábado, 19 de setembro de 2009

Água e vinho

As coisas mudam tão fácil, do dia pra noite. Se não me falha a memória, ano passado, eu vivia num mundo de depressão e solidão. Era estudar, dormir e comer, sem diversão, sem família, só lágrimas de saudade e fraqueza. Eu tinha medo de não conseguir, agora eu digo com a boca cheia: que bom que não consegui, que bom que falhei, mas que bom que fui forte o bastante pra lutar até o final. Esse final, eu devo à minha mãe, que me dava as forças que eu precisava pra acordar de novo.
Parece que era outro mundo, era outra vida. Ontem mesmo eu explodia de felicidade, sem motivo aparente, só por acordar. Eu dizia pros amigos: que dia lindo, faz tempo que não tenho um dia assim. Minha vontade era contar pra todo mundo sobre o meu sorriso que não descolava da cara. Que bom que falhei, agora eu sou feliz.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Novo segredo

Eu procurava um segredo, uma escolha proibida, e assim fiz.
Só não quero estragar tudo, mas a ideia me seduz.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Imagem e ação

A vontade de manter uma imagem pode dar asas à hipocrisia. Dou como exemplo um sujeito que conheço: se faz de homem másculo, cheio das vulgaridades e do jeito machista de encarar o sexo, mas no fundo é bom moço. Ser bom moço não é ter bondades, afinal de bom ele não tem nem os olhos, mas é um menino recluso, estudioso, e sem ninguém saber, ama uma bela moça, que, seguindo o meu raciocínio, deve ter com ele um relacionamento agradável, aquele típico casal que fala fofuras com voz de criança.
Eu não me importo com a imagem. Deixo claro o que sou. E que fique claro, se dei a entender que fui o que fui, é por quê fui. É que tenho mil e uma fases, que mudam de acordo com o gosto da Lua. Agora mesmo, estou numa transição sutil, que muda o meu lado sexista e vulgar para um sujeito calmo e musicalista. Não é por quê me acalmei que tenho que manter minha velha aparência, é?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Angelical

Já não me apetece mais a idéia de lhe tornar pior.

domingo, 13 de setembro de 2009

Contraste

Você pode me dizer a diferença entre sentir prazer e sentir culpa? Afinal, os prazeres da carne são famosos pelos seus significados pecaminosos.

"Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia, (...) que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus."
Referência bíblica, Gálatas 5: 19-21.

Não julgo como pecaminosa a tal lascívia, o pensamento que conduz a sexualidade, mas também não o julgo como correto, quando o pensamento é proibido por imposições de um outro relacionamento. É que, como questionei no texto anterior, eu tenho as minhas vontades, ainda que essas sejam omissíveis. Me falta o critério divisor de águas, que limite o certo e o errado e que deixe claro quais ações são ou não são fazíveis. Como não sei de nada, fico a olhar o tempo passar, as vontades passarem, os julgamentos serem esquecidos.

sábado, 12 de setembro de 2009

Satisfação

Eu não posso te amar. Não é que eu desgoste de você, só não posso te amar. Nossa amizade não permite que eu lhe deseje. Eu posso ser amigo dos outros, quando precisar. Posso também fazer como você quiser, pois é assim que eu sempre fiz: satisfazendo o desejo alheio. Será que eu não tenho minhas próprias vontades? A minha vontade é fazer o mundo mais feliz, mais satisfeito. Mas eu não posso te amar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Paz

O som do seu coração batendo e da sua respiração não me surtem mais efeito.
Acho que estou sob uma paz incontida, que me impede de sofrer por você.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Levemente atrasado

Hoje me sinto mais sensível, como um menino que apaixonado que vive com a amada oscilando na mente, dançando uma valsa eterna enquanto esbanja beleza em seu brilhoso vestido. Não que se trate de uma paixão dessas, já que me falta uma paixão palpável, mas se trata das pequenas coisas que têm me completado. Paixões tolas: como o orgulho curitibano repentino, a vontade de escrever, as núvens no céu escondendo o corpo dos morros esverdeados, a voz aveludada do comandante do avião, que nos diz na sinceridade: bom feriado.

Esqueci de escrever ontem, mas que fique marcado aqui que eu lembrei de dizer a você: bom feriado, meu agradável leitor.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prisão

Preso em uma solitária, esperando por liberdade. Enquanto isso falo com os ratos sobre os noticiários lá fora. Eles me dizem que eu não preciso falar sobre isso: pode desabafar, fale sobre o amor. Já me bastam os ódios que o mundo sofre, não preciso dos amores, pelo menos assim eu tento enganar os pequenos roedores.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Não diz nada

Elas têm esta mania boba de se expressar. Não é que eu tenha algo contra à paixão, muito pelo contrário, acho a paixão um sentimento mais precioso que o amor. Só desgosto do jeito vicioso que me dizem o que sentem. Não precisa ser dito, fica no calor da relação, afinal nem tudo precisa ser qualificado. Sei que já disse que amo, não me arrependo de tal fato, mas ainda acho que errei. Não por ter expressado meus sentimentos, mas por ter caido no estereótipo que estou criticando. É por isso que eu mantenho essa falsidade: don't ask, don't tell, fica como está. De quando em quando evolui, dos beijos às cobertas, das cobertas ao sexo, do sexo ao comprometimento, mas que evolua com seu jeito natural de evoluir.
Como diriam os Pokémaniacos: Não vale a pena dar Rare Candy para o Pokémon evoluir, é melhor que ele ganhe níveis lutando. (oh fuck, nerd mode on)

domingo, 23 de agosto de 2009

Início sem fim

Era madrugada, quando decidiu ousar, dar início a um projeto. Ele jogava as tintas no lençol branco, afirmava que um dia aquele lençol seria um quadro valioso. Os anos foram passado e o lençol esquecido foi reencontrado ao lado da máquina de lavar roupa.
- Meu Deus, que porra é essa? São rabiscos, é tinta escorrendo, é sujeira!

Atrás do velho lençol, ele começou a desenhar um rosto, o seu rosto, afirmava que um dia aquele lençol seria um quadro valioso. Mas, como era de se esperar, ele nunca acabou o que começou. Passaram-se mais alguns meses e ele olhou pro lençol.
- Meu Deus, que zona... Dum lado, a sujeira, do outro, um desenho de um moleque narigudo... O que isso faz aqui?

Jogou o lençol do lado da máquina de lavar, onde jogava tudo que ia começando e parando: o futebol, o jóquei, o francês, o italiano, o romance que escreveu, a pós graduação, a sua mulher, os seus filhos e suas paixões.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ensaio

Ela estava com os braços para cima, olhando fixamente para a luz que cegava os dois, enquanto isso ele provia prazer, fazendo carinho nos braços brancos dela. Aos poucos ele seguia o tronco, desviando pelos cantos dos seios, fazendo ela sentir que não se tratava de apenas um carinho besta. Ofegante, ela fechou os olhos, deixou que ele a excitasse, a divertisse, mesmo sabendo que os dois estavam fazendo algo que não deviam fazer. Não sei como, a consciência dele não os afastou, permitindo que ele a provocasse, como se esperasse que quando as luzes se apagarem ambos ficariam desnudos.

Eu estava sozinho, estava assustado e queria acreditar que era injustiça, afinal era eu que precisava de um novo segredo, de um novo amor. Tudo a seu tempo, creio eu, que eu fique sem as diversões e fique só com os mesmos sexos sem graça.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pobreza

Essa é boa de escrever: era amaldiçoado pelas próprias escolhas, por isso tinha medo do futuro, do presente e do passado. De quando em quando fazia suas cagádas, prá depois tentar dizer sem dizer que precisava de ajuda.

sábado, 8 de agosto de 2009

Caos

Caos é se apaixonar por um Deus apaixonado.
Vastos impérios em profundas intempéries,
Vidas amaldiçoadas por erros inconsequentes,
Era de esperar o castigo, o ódio, o fim e o caos.
E o Criador, ocupado, não lhe dá os olhos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Bolor

O bolor se fez perto dos livros esquecidos.
Não se sentiam vulneráveis, só esquecidos.
Queria que os vissem, os lessem.

Mas, inconvenientemente, a gente acaba prestando atenção na madeira velha.
Pelo menos, eu não lembrei dos livros.

domingo, 2 de agosto de 2009

Inverno

Vale dizer que o clima indulgente me fez esquecer da cara do Sol.
Se me lembro bem, sorria como tolo às desgraças do mundo.
Cara amarelada, que seria o jeito dele de demonstrar sua fúria.
Fusão nuclear, deixemos o papo intelectual de lado, enfim, esta era a fúria.

Fazia calor nos meus ombros, quando andei pelos meus caminhos.
Agora só tenho esse frio inconveniente e essa escuridão.
Frio que assusta a gente da rua, que nos faz abrigar na cama quente.
Pois se bem lembro, ouvi dizer que o Sol é a vida, mas que saudade...

Plágio

Diz que chorar é ruim.
"Põe um sorriso na cara!"
Mas quem nunca chorou por emoção?
Choro bom, choro bonito, choro sorridente...

Lágrima ruim é a da tristeza
Que destrói laços e esperanças
Mas quem nunca chorou por tristeza?
Vai ver Deus não quis que fossemos perfeitos.

Felicidade e tristeza,
Riso e choro.
Emoção, traição.
Talvez o Diabo criou a mágoa.

O Diabo dói n'alma.
Esquece o papo de esperança
Esquece o papo de sentimento.
A mágoa destrói o indivíduo.

O choro é um artista circense
Que equilibra os pensamentos inquietos.
Estrutura a forma de ver as coisas.
É o único jeito de a alma expelir as excreções.

Se de Deus ou do Diabo,
o choro é magnífico.
Purifica a podridão
Limpa o coração.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Esperando o céu ruir

"Ao me ver evaporando de seu corpo
Naquela noite muito fria
Desejei estar na pele de um homem mais feliz
Suspirei nos intervalos do seu caso
E assumi meu lado fraco
Dirigindo embriagado
Esperando o céu ruir."
Poléxia - Esperando o céu ruir

Conteúdo vulgar

Esta situação me lembrou dum episódio do livro de Gabriel Garcia Marquéz...
(e vira-se para procurar a citação)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Banho

Garoto adorável, que se dispôs a sofrer como sofrem as viúvas. Acordou numa segunda feira chuvosa com o pé direito. O banho de água quente lhe lavou a alma, levou as lamúrias pelo ralo. Depois disso eram só sorrisos e bons planos, queria redescobrir o mundo que havia descoberto quando era corajoso. Não sei se foi a água, ou o calor, sei que a felicidade foi mais forte.

Incompleto

Minhas palavras não pediam beijos. Até me estranho, pois não ligo pros beijos, enquanto todo o mundo liga. É verdade que tenho um apetite sexual animalesco, como quem precisa sanar as necessidades do cio, mas também não era disso que diziam as minhas palavras. Também não falavam de segurança, pois seguro é um homem solitário, que abre mão do perigo da traição. Falava do sentimento puro e completo, sem vazios para as atitudes completarem. Não falava de abraços, carinhos e presenças. Falava do amor, somente do amor. Acontece que de vez em quando um homem precisa prometer a vida, não as basta o amor.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Vingança

O jeito mais efetivo de se curar um orgulho ferido.

domingo, 26 de julho de 2009

O beijo, e o companheirismo

Que nem ele espera. Os pastos, as margaridas, tudo belo e mágico.
Fala com jeito de nostalgia, buscando entreter com respeito.
Que respeito? Falavam de sinceridades!
E desde quando ser sincero serve de alguma coisa?

sábado, 25 de julho de 2009

As I say

Burn, burn, burn the fuckers down, down.
Burn the fuckers down.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Loose lips lose lips

Não gostava de ser ruim, tinha saudade dos seus tempos de grande homem, mas foi descobrindo que cada esforço que fazia surtia o mesmo efeito que cada sonho que sonhava. Assim preferiu dormir, já que nos sonhos ela não parecia tão incorreta para as necessidades dele.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Back to the wall

All those sheeps sharing informations,
Noisy and creepy needles, needing skins,
Sharing things like fear and fondness,
Well well, are you starting to fell nervous?

My lips can handle while you stare me this way,
But will my white teeth be white for all this time?
Move your heart for those trumpets screaming outloud,
Maybe music can save you from yourself.

sábado, 18 de julho de 2009

Holding for you

Era um homem bastante sensato, certo das palavras que dizia. Passou o tempo e a sensatez se despedaçou como se despedaçam castelos de areia, mas ainda sim estava certo das palavras que dizia, por mais que as envolvesse com um certo charme e uma certa ironia, mais esta do que aquele. Ainda que agora fosse insensato, mostrava que sabia que entendia que existem limites entre certos e errados, pois antes da sensatez há a sanidade. Portanto fugiu, como fogem os covardes, como fogem os sensatos da paz e da paciência.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tanta gente feliz

Se puder, passe aqui para ouvir a minha poesia.

"Sei que espera mais de mim
E tento compensar, fingindo no olhar
O amor se foi daqui."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Antes pecar por excessivo que por diminuto

De quando em quando o coração dá um sinal de vida,
Na maioria das vezes é dizendo que dói e sente saudades.
Eu reclamo desse meu oco, mas é, sobretudo, um bom oco,
Pois ora o coração que diz coisas tolas sobre a solidão,
Ora a paz se instala nesse meu imenso vazio.

Vazio é paz,
Longe de todo bem
Ou todo o mal
Ou de qualquer outra coisa.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Amizade da mais pura

E eu fui embora, que fim deu essa história? A principio não passava de eu tracejando um futuro novo, mas de pouco a pouco foi mostrando-se um eu sem você. É que nos elogiavamos, independente se o elogio fosse necessário. Sei lá, eu costumava gostar das tuas coisas, não sei se gostavas das minhas. Na verdade não me importo, só lembro.
Você preferia largar na memória, mas eu tendia a escrever tudo, as vezes que senti saudades, as vezes que senti vontades, as vezes que senti que precisava de você aqui. Foi um sentimento bonito, pelo menos eu achava, nunca tive isso por alguém.
Hoje eu acordei e não tinha mais vontade de você. É que esqueci as vezes que passávamos horas sentados, falando besteiras, fofocando como sempre. Não digo que não te quero mais, muito pelo contrário, é que cada um tomou um rumo, eu só sinto saudade.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Esforço em vão

Quando eu era moleque, chamava os ciclos viciosos de círculos viciosos. Minha mente matemática dizia que era completamente plausível que os ciclos tornassem-se círculos, mas fui crescendo e descobrindo que os ciclos só se formam círculos se forem infinitos. É, a expressão remete à forma do círculo, que não tem começo nem fim, vai ver ficamos velhos e caducos, contrariando o certo justamente para criarmos um certo. Pois já velho fui notando que os ciclos são tão viciosos que todos os ciclos já são viciosos, ou seja, tudo é sempre igual e tende a mudar, mas voltar a ser igual, até mesmo os diferentes círculos.

Depois que me dei por cópia quis cortar o círculo, diferenciar os fins dos começos. Mas as tentativas de trazer um sorriso às bocas mal-humoradas são desgastantes, é que para sorrir, o orgulho deve ser ferido. Falo aqui do orgulho como se esse fosse invulnerável, no entanto a razão pelo meu desejo de cortar o círculo veio do meu orgulho ferido. É como se eu quisesse fazer desvanecer aquela máxima de os filhos virarem os pais, os filhos dos filhos virarem os filhos, eu queria ser algo novo. Que tolice, é bonito um filho com orgulho dos pais! E é esse orgulho que incita a existência do círculo. Tão bom ter heróis como os meus heróis.

Hoje eu sinto que estou mais velho. Como se essa semana de sossego tivesse me posto na cabeça que poucas coisas são importantes e essas devem ser valorizadas. Talvez amanhã me sinta moleque de novo, me importe com as bebedeiras e as bucetas que venham ao meu caminho. Daí depois de amanhã eu sou velho de novo. E novo. E velho. E novo. E velho. Com pequenas interrupções em seu trajeto vicioso e pleonástico: ora a adolescência espreitando às mudanças entre o novo e o velho, ora a morte declarando o fim do velho e dando início ao novo.

Hoje, que sou mais velho, percebo que ontem eu também me sentia velho. Se me senti mais velho ontem, qual o motivo de comemorar a velhice hoje? Por que não comemorar o dia 2 de julho? Parabéns Eduardo, o senhor viveu o dia 2 de junho 20 vezes! É circular, estático, monótono. É dia após dia, sendo todos os dias dias que jamais vivemos, mas que, de forma ou outra, não nos serão completamente novos. Eu não comemoro aniversários, comemoro tempo. Parabéns Eduardo, o senhor viveu 15 anos 9 meses e 10 dias com o seu irmão!

Só não consigo mudar sozinho. E nem vejo mais motivos para que me ajudem a mudar, que fique assim, bom aos olhos.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cá entre nós

Virou obsessão, tomando todos os minutos do meu dia.
Pedir muito seria eu mudar e ir embora.
Fui esquecendo de vestir as roupas boas.
Até lembrei de fazer a barba, mas não vi sentido.
Adocicar o momento, amargando a memória.
Mas que fútil, só não lhe quero nunca mais.
Pode parecer antiquado, mas sinto falta.
Falta dos meus jeitos antiquados.
Levou o ar que respirava, inspirei.
Um pacto que fez daqui lugar novo.
Eu não devia ter ido, afinal aqui mudou.
Mas mudei e gostei, sinto falta.

domingo, 28 de junho de 2009

Vida

Idolatro todo o tipo de silêncio
Que esconde minhas verdades
E faz dos desejos simples acaso

Voltaria no tempo prá arrumar
Esqueceria do silêncio que cede
E faria dos desejos realidade

Avançaria no tempo agora mesmo
Vale dizer que até lá superei
E faria dos desejos o passado

Vivo o presente
Vivo o silêncio
Vivo o desejo

terça-feira, 23 de junho de 2009

Murmúrio

Queria piedade de Deus. Tira-me do peito tal amor imenso que me faz incoerente com o ser que sou! Faz com que o rasgo se cure e que eu possa amar novamente, ou talvez só me cure, pois me cansa o amor. Basta que eu sinta um simples valor pelo próximo, pois antes um simples valor que esse descaso incompreensível. Tira-me a dor, traz-me a fé. Que os outros julguem, mas que eu possa, um dia, me redimir comigo mesmo.

Conceitos

Eu não sou diferente.
Só não sou igual.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Orgulho

Ele disse: Pinta essas terras de vermelho! Precisamos largar essa comodidade de ter uma terra com cor de chocolate! Não somos mais crianças! Somos a revolução!
Todos olharam, perturbados com as palavras do sábio.
E tentou se explicar: Não quero sangue! Eu quero que voem daqui os não-orgulhosos!
E que tinha a ver? Alguém explica a exaltação do velho?
Eu queria ver a dança dos fantasmas! Ou achas que minha geração ainda está presente nos olhos dos teus olhos? Tornaram-se todos infâmes! Não lutam pelo amor, pelo povo, por nós! Lutam pelo sossego! Pela felicidade! O velho dizia, incorfomado da dúvida dos seus conterrâneos.
Um garoto levanta a mão, com medo da bengala do sábio, e diz rápido: Eu luto.
O velho se irrita, seus olhos ardidos ruboravam as faces de todos os presentes: Luta pelo quê? Pelos teus video-games? Pelos aviões que jogas no meio de uma aula em que teu professor tenta fazer que aprendas que o mundo não é só diversão? Pelas mijadas que faz nos muros dos vizinhos? Tu não lutas, moleque!
O garoto toma a razão, se levanta, e, de algum modo, fica três vezes maior que o velho. Bravou como leão: Eu luto pela razão, velho louco! Eu luto pela felicidade! Eu luto pela vida! Não luto pelas loucuras dos outros! Não luto pelos outros! Luto pelos meus pais! Luto por mim! E tenho orgulho da luta!
O povo vibra. O sábio olha para o seu público, que já elegerá um novo sábio, e abre suas asas. Ave negra, voa longe, que eu sou o orgulho.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Salvador

Daquela multidão efervecente sobram uns poucos que grudam.
De pouco em pouco os grudes se desgrudam e sobram os verdadeiros vínculos.
Todos pedantes, outrora heróis
Todos cheios de significado e sentimento, mas de fim trágico e inconsciente.

Mas sobra sempre um.
Aquele herói que alimenta os poderes que engolem as fraquezas.
Aquele herói que reluz como espada, defronte a qualquer batalha.
Aquele herói que, sem querer, torna-se Deus e Religião.

Herói mãe, que é mãe, é pai e é amigo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Do Podre ao Cio

As mulheres devem olhar para os homens com certa desconfiança. É por tal situação que escrevo às mulheres, a todas aquelas que um dia consideraram ouvir minhas apaixonadas palavras de humor com o coração. Não as julgo, muito menos as culpo, faço o mesmo comigo, pois me sinto culpado. É que de um jeito ou de outro acabei me estragando e me tornando o cínico dos nossos dias. Essa minha podridão está num estágio estado tão avançado que não acredito que haja remédio que me cure. E se houver, o único remédio que me cura é de tão grande qualidade que meus bolsos não podem comprar, não se trata de uma prostituta cara, muito menos de uma virgem puritana.

Eu juro, pela minha fé, que desejo sentir emoção, mas a vida não consegue mais me fazer sentir. Não é por mal que tento fazer com que outros sintam por mim. Por isso, sei que é normal que seus comportados botões, outrora eternamente lacrados, queiram abrir para que sua calcinha sinta os meus delicados dedos. Também não me espanto ao saber que suas coxas não consigam ficar fechadas, sempre atraindo o meu corpo para que nossos órgãos se toquem intimamente. Veja bem, não é por mal, como já disse anteriormente. Então, se um dia sentir a tal emoção com o coração, esqueça, não permita que o coração palpite e eferveça por algo podre como este ser que lhe escreve, faça só o que tem de fazer: goze.

sábado, 13 de junho de 2009

Aos vermes que corroem o meu bem

Esqueceu fora da geladeira e lá ficou. Os vermes tomaram conta do corpo e dele sobrou apenas a voz. Não sobrou muito da aparência, afinal nem o cabelo nem os olhos são os mesmos. Apodreceu como um velho solitário, esquecendo dos contratos sociais, dos respeitos e dos sentimentos.
Diziam que os vermes faziam um fedor inigualável, que o podre ele era de se jogar no lixo. Pobre, que não entendeu onde tinha apodrecido, achava que os novos conceitos de felicidade que faziam ele desgostoso. Eram os vermes, alguém pode dizer a ele que eram os vermes? Ele ficaria feliz em saber que a podridão tomou-lhe o corpo e que não era a maldade dele, era só um mal que veio e ficou, um mal que ele nunca convidou.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Martir

Ela me perdeu quando escolheu as palavras que me informavam do estado dela: "Sei lá, não sou idiota. Não quero ficar sofrendo por aí."
Eu disse pouco, mas fui sincero: " Pois somos de mundos completamente diferentes. Minha vida é sofrimento, eu sou sofrimento. Eu sou martir. Eu quero dor."

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Indiferença

Eu não posso esquecer os dias que fui herói. Faz tanto tempo que eu precisava de motivos pra crer em qualquer coisa. Hoje sou anti-herói e não me batem mais as dúvidas do credor. Deve ser o coração que decolou de mim, encontrou a Lua, bem longe de mim. Eu errei ao te encontrar, como quem erra a esquina de casa, perdido no labirinto que eu conheço bem. No fim, era só um herói que ligava pra ouvir tua voz e acreditava que a saudade durava pra sempre. Nunca disse que não preciso da voz dela, só acho que a saudade virou mais um tipo de humor, ora feliz, ora triste, ora saudade. Eu preciso é seguir um novo caminho, pois essa viagem pelo espaço já me deixou sem ar, burro fui eu que achei que o tempo ia fazer alguém perceber qualquer coisa.

sábado, 6 de junho de 2009

São só migalhas

Quando eu era moleque eu associava felicidade ao amor, portanto associava a felicidade à perfeição. Eu acabei achando amor, vivendo a felicidade. Depois do primeiro amor fui, desesperadamente, buscando outros amores. Vivia infeliz, fingindo amor às bocas que eu beijava para talvez acabar enganando minha cabeça e ela dizer que era feliz.
Depois de anos redescobri o amor, mas um amor sofrido e solitário, portanto infeliz. Amor não é felicidade, logo felicidade não é amor. Minha máxima acabou caindo e eu descobri que a felicidade é pouca coisa, não é perfeição. Feliz é aquele que ri a toa, que aproveita a vida aos poucos.
E eu, esquecido da arte de amar, tornei-me profissional da arte de ser feliz.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Someone's over

Era eu que vivia mal.
Era eu que dormia mal.
Era eu que comia mal.
Era eu que estava sozinho.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Dorme bem

No limiar do medo e da gargalhada você pode me encontrar te esperando, rasgando a tua inocência.
E daí? Nos meus olhos assustados você vai encontrar esperança?
Aproveita e dorme, que nos teus sonhos eu posso sumir.
Desde que você não tenha medo que os sons dos meus olhos te deixem acordada.

Mentiras a torto e à direita

Misturava as palavras de amor e paixão com a as coisas rudes que dizia sobre o despudorado sexo dos homens. Falava de coisas belas e ria-se das idiotices do mundo. Não fazia por gostar de mostrar o que sentia, pois não sentia nem um pingo de amor ou de paixão, muito menos pensava nas coisas belas que a vida tem a mostrar. Cuspia essas coisas lindas como meio de mostrar quem era de verdade, alguém que se perdeu a pouco tempo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Volta ao mundo

Não é culpa minha, estou de férias!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Memória

Eu que vivia os dias como se fossem o último dia percebi que não disse o que sentia. Deveria dizer que te amo todos os dias, que sinto falta dos teus lábios, do teu pescoço, dos teus pés, do teu sorriso, do teu silêncio. É que eu acabei mudando, esquecendo que o amor é vida, lembrando que amor é dor. Então eu fico quieto, fingindo que eu não sei que você sabe que eu tenho ciúmes, que eu só penso em você, que eu já fui mais feliz quando tinha você perto de mim. E mesmo lembrando que todo dia deveria lembrar de te contar o que sinto, só penso em uma coisa: Que ela não lembre de mim.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ilimitado

Escolhi meu rumo. Escolha feita a dedo, rumo ao processo, ao progresso. Assim parecia quando me contaram das vantagens. Parecia lindo esse meu lerdo retrocesso. Eu escolhi o fim dos limites, a vida rápida e curta. Eu quis ser degustador, degustando as mais diferentes comidas, degustando as mais diferentes bebidas, degustando os mais diferentes corpos. Cada um com o seu processo adequado: começar para nunca acabar. Comer até passar mal, beber até apagar, transar até cansar. E não tinham me dito os contras. A falta de sentido veio nos finalmentes. Pois há de ter um jeito de sair daqui, buscar um rumo mais certo, que me faça certo, que me leve ao estrelato, que me traga uma vida lenta e demorada.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Críticas

Há quem precise de motivos para gostar de alguém. Há quem precise de motivos para desgostar de alguém. Já eu prefiro o meu jeito preconceituoso e pedulento de observar as pessoas. Pois, de segunda mão, tomo as minhas prévias impressões e comparo-as com as impressões que tive depois. De duas uma, ou estive certo, o que é agradabilíssimo, pois é mágicamente interessante estar correto, ou estive errado, o que é agradabilíssimo. Não há motivos para o agradável da segunda parte, que a frase fique do jeito que está, sem sentido, como tantas outras coisas.
Maravilhado com a preguiça de sempre, resolvi fazer as críticas corriqueiras do dia. Não há um dia em que eu não me contente com um singular olhar, esse olhar há de se transformar numa crítica. Pois bem, estava eu mergulhado numa crítica direta bastante pesada. Até que me dou conta que eu sou a minha crítica. "Oh, que amável, parece que você não é o único!" E as punições variam, desde o auto-flagelo até a mais estúpida constância de um humor inconstante. E aí que é agradável, imagina eu de humor constante? Dentre certos limites do exagero, é quase como se uma canion se fechasse, fazendo da fenda uma planície.
Vai ver eu tenho medo de ter motivos. Prefiro a incerteza de estar certo ou errado.

sábado, 23 de maio de 2009

Sociedade Individualizada

Sou eu que transformo o mundo. Faço dele o paraíso e o inferno. Sou eu que imponho os certos e os errados por aqui, dito as regras, dou os papeis para as pessoas, assim eu digo quem é o que. Não me intrometo na vida alheia, a vida alheia que vive às minhas custas. Não me preocupo com o que o outro diz, mas obrigo ele a dizer o que eu quero que seja dito. Eu sou o Deus do meu mundo.
Eu que respiro ofegante, que como até passar mal, que não penso nas besteiras que digo, que digo se o teu cabelo fica melhor atrás da orelha ou não, que acho que se eu não lembrar de nada eu serei mais feliz.
Pois bons mesmo são os meus sentimentos, os únicos que valem.

terça-feira, 19 de maio de 2009

José Cuervo Prata

Vicio. Vicio errado. Me faz mal, faz passar mal, faz querer falar o que não devia, faz querer dizer o que não devia, faz sentir o que não devia.

Vicio. Vicio eterno. Vicio que amo. Me faz feliz, mesmo sem saber que me faz.

Mais perto

Os pés dela caminhavam pela minha canela.
Os olhos dela nadavam sob a minha alma.
O sorriso dela fazia de tudo perfeito.

Perfeito se meus sentidos pudessem ser ignorados.
Eu só estava revivendo o que um dia vivi com gosto.
Não aproveitei como devia.

Senti uma saudade ruim.
Senti que eu queria que ficassemos abraçados debaixo dos cobertores para sempre.
Senti que queria dizer que a amava.

Triste foi eu olhar nos olhos de quem eu não via.
Triste foi eu sentir quem eu não sentia.
Triste é amar alguém que já se foi há tanto tempo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mal de velho

Ele compunha por compôr. Não era nenhuma mensagem. Não era um jeito de extravazar os sentimentos. Ele compunha por compôr. Achava que as letras jogadas iam inibir aquele sentimento inquieto que era a solidão.

Semi angelical

Vulnerável e sem sentido. É assim que todo mundo deveria se sentir. Mas não sente por puro disfarce. Usa-se uma técnica especial de esconder o mundo dos olhos. E o verdadeiro mundo está lá, sempre pronto pra destruir e corroer aquele que acha que vê o que vê. Têm gente que vê orquídeas douradas, outros veem lírios roxos, há ainda aqueles que veem uma grande e espessa mata, cheia de vida e cor. Têm gente que vê pobreza, outros veem fome, há ainda aqueles que veem as guerras civis intermináveis, cheia de morte e sangue. Têm gente que vê religião, outros veem sentimentos, há ainda aqueles que veem a felicidade em si, inexorável, independendente dos sentidos. Têm gente que vê tristeza, outros veem solidão, há ainda aqueles que veem um jeito de viver mortos, sem motivo para acordar ou dormir. Têm gente que vê chicletes, outros veem salgadinhos, há ainda aqueles que veem aquela dor de barriga e aquela dor na mandibula de tanto mastigar doces. Têm gente que vê tequila, outros veem maconha, há ainda aqueles que veem aquele meio de ficar insâno para sempre, vivendo a loucura eterna.
Têm gente que vê Deus. Têm gente que vê o Demônio.
Mas nunca ninguém vai ver que o mundo não é o que é. As pessoas não são quem são. E aquele que olha para o espelho e diz que se viu, mentiu, afinal, o espelho é luz. Luz por si só, que sai do infinito e passa distorcida aos olhos. Se viu Deus diga que viu o Demônio, ou vice-versa, ninguém vai acreditar mesmo! E se sou Deus ou o Demônio, também ninguém saberá, ou alguém me vê?

domingo, 10 de maio de 2009

Sentido

Esqueci dos detalhes, também esqueci de como era, talvez eu lembre de algumas passagens. Mas nada mais do que passagens, todas elas perdidas na cronologia temporal, algumas ligadas por músicas, por flashes, mas nenhuma ligada ao tempo ou ao sentimento. De quando em quando eu acho que elas deviam ligar-se uma na outra, prá tudo ter sentido, pois não há sentido no que eu sinto, muito menos no que você não sente. Mas prá quê? Prá dar uma cutucada no ego cristalizado? Que fique assim! Cheio dos orgulhos e dos ódios!

Quem sabe um dia eu volte prá casa, encontre meu gato no lugar que deveria estar. Daí eu me deito, a saudade materna se transforma em carinho. Carinho eterno, que me faz estático. Cada um vivendo o seu momento, até que o telefone toca e alguém me contar que aquela seria a mais alegre das noites. E seria de fato, ficariamos bêbados até cair, dancariamos até os dedos dos pés e os calcanhares pedirem socorro. Sentariamos no carro e conversariamos sobre os detalhes. Depois deitariamos no banco do passageiro e aproveitariamos o frio, o silêncio, o resto todo. E tudo teria sentido.

A criatura medo transforma esse idealismo em resistência. E eu deixo de esperar aquilo tudo prá esperar pouco menos. Fico com o gato, o carinho materno, nada que ultrapasse esses limites da minha necessidade. Afinal, se vivi esses tempos sem sentido, por quê ia querer o motivo agora?

sábado, 9 de maio de 2009

Sobre a desvantagem de Napoleão sob o inverno russo

Eu não posso voltar para a cidade que eu amo,
Pois ela já tirou tudo o que tinha para tirar de mim.
Eu não posso voltar para a mulher que eu amo,
Pois ela já tirou tudo o que tinha para tirar de mim.
Eu acho que é por isso que gosto daqui,
Pois eu evito de enfrentar quê me tirou o que eu tinha.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Palavras

Acho você hipócrita, digo que deveria dissimular menos.

Sentimentalismo solitário

Não é uma foda. Sei, foi o que eu disse: é uma foda. E pensando bem, seria exorbitante perder tanto tempo. É que eu não tenho mais coragem de admitir sentimentos, não tenho mais coragem de ser doce, quero ser sempre amargo. Eu sei, não a vejo faz tanto tempo que não lembro a voz. Mas o importante era o jeito que nos olhavamos e o calor que tinha o abraço dela. Só lembro do sorriso, e eu adoro quando alguém sorri das minhas besteiras.
Eu já não sei como contar, mas é um segredo que tenho aqui dentro. Uma vontade imensa de não desistir, outra de resistir. Eu lembro bem quando eu tinha essa mesma dúvida a tempos atrás. Foi só eu falar dos sentimentos que eu me senti completo novamente. É só o que falta, sentimento. E é por isso que eu queria ir. Não é uma foda, é sentimento.
Se for para viver assim, aos trancos e barrancos, não quero viver. Eu preciso de mais alguém além da minha mãe para me apoiar, para me acariciar, para me amar. Eu preciso de uma motivação para que eu acorde amanhã e diga que é lindo o dia. Mas não, eu larguei mão de tudo, de todos. Sou eu e só. Também não me importo. A única coisa que importa é a mãe tentando me mostrar que sou eu e ela.

Sorria

Eu menti ao dizer pra sempre.
Não que fosse minha vontade te magoar.
Minha vontade era te ver sorrir.
Era me ver sorrir.

domingo, 26 de abril de 2009

Correio

Ele tinha a mania de escrever, já que as palavras não lhe saiam bem da boca. Então resolveu escrever à ela, falar um pouco do relacionamento deficiente e dos gostos de ambos. Talvez se ele tivesse dito isso nos olhos dela as coisas mudariam, talvez pra melhor, talvez pra pior, quem sabe? Mas não, ele escreveu. É sorte que nunca entregou a carta, leu no dia seguinte e notou que tudo o que escrevia era rude demais. Prefiriu deixar as coisas como estavam.

"Oi, que frio.

Adoro nosso negócio, posso chamar de negócio? Acho que posso. Enfim, adoro nosso negócio. Enquanto os abutres tomam suas posições de ataque e te cercam, esperando comer você até as tripas, nós ficamos aqui, cada um num canto. Você passa, me olha. Eu não resisto, sorrio, não largo os teus olhos até você largar os meus. Daí alguém chama um de nós para conversar, que pena, os olhos se desgrudam. Ok, não é bem uma pena, pois se ninguém nos chamasse jamais tirariamos os olhos dos olhos alheios.
O problema do nosso negócio é que não tem papo, notou? As únicas palavras que falamos é oi, tchau, quando muito que frio. Obviamente são as únicas palavras que precisamos dizer. Oi e tchau é o sinal que devemos tocar os cantos das bocas, fingindo um beijo na bochecha. Que frio é sinônimo de me esquente, e nós nos abraçamos e nos apertamos tentando nos esquentar com nosso calor humano. Eu sei, nem sempre somos os que mais estamos com frio, normalmente até tem alguém tremendo mais, alguém que precisa de verdade daquele abraço, daquele calor humano. Mas de que adiantaria esquentar outra pessoa? No nosso negócio o que importa é teus braços em volta do meu pescoço e os meus em volta da tua cintura, sem palavras, só calor.
Mas que bom que seja assim, não faço questão de saber quem são seus pais, quem são seus amigos, quem foram seus amores, quem lhe faz feliz, quem lhe fez triste, quais são seus planos, seus interesses, o que é a sua vida. Não quero ouvir você dizer qual é o seu filme favorito, pois essas palavras não são do nosso dicionário.
Que fique assim, que você beije nossos amigos, que você seja amiga deles, mas não me beije, não seja minha amiga, seja o que somos.

Tchau."

sábado, 25 de abril de 2009

Marcos, muros e ombros

É bom que tenhamos marcos, muros e ombros para nos segurar quando estamos em maus caminhos. É bom também que acordemos, ou seja, notemos que os caminhos são maus. E também é bom que esses marcos, muros e ombros sejam úteis não só para nos segurar nos maus caminhos, mas que também segurem enquanto procuramos nossos bons caminhos.
Creio ser quase uma lei, digo quase por certas pessoas não se preocuparem em infringir tais leis, essa idéia de acordar, pois acho que um dia todos acordam. Seja numa conversa informal, seja numa solidão formal, seja no desespero da escuridão, há de ter um sinal que diga "este não é um bom caminho", ou talvez "PERIGO" e nada mais.
Daí o que dorme percebe que está dormindo há muito tempo. Ele diz que não tem mais jeito, que passou, tudo passou, e ele perdeu todas as oportunidades, mas se forem bons os marcos, os muros e os ombros eles levam o que dorme para um lugar que, lá no fim, dê para um bom caminho. Afinal, ele tem de descobrir os bons caminhos sozinho, só pode ter alguém pra se apoiar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

É o velho que come

Ela arranhou a cintura dele, do jeito mais doce e sensual que podia ter arranhado. Ele não deixou por isso, foi atrás, encostou narizes, falou palavras bobas, pediu um beijo. Ela disse que ele era muito novo, que seria o mais novo que ela beijaria. Ele não deu bola, disse que foda-se e que não se importava com idades. Ela disse que já era experiente, que casou aos 16, que descasou aos 18. Ele disse que não estava nem aí, pois ele também tinha 19, que nem ela. Ela não gostou de ser comparada aquele menino, ela era bem mais experiente, bem mais culta, bem mais bela. Ele só dava atenção aos lábios dela, que dançavam como bichos no cio numa dança de acasalamento a espera dos lábios dele. Ela começou um questionário, esperando se mostrar mais velha, e de fato ela parecia mais velha, toda superior às palavras dele:
- O que você gosta?
- Eu gosto de muita coisa...
- Aposto que você passa o dia no orkut, assiste MTv e ouve música do rádio.
- Não gosto de TV, muito menos de rádio.
- Você não vê TV?
- Sou viciado em seriados, mas seriados não contam como TV, pois assisto-os no computador.
- Gosta de filmes?
- Até gosto...
- ... - E ela começou com uma lista de filmes cults, mostrando que ela era mais cult.
- Não tenho tempo prá assistir filmes, eles demoram muito.
- E gosta de ler?
- Li pouco esse ano, estava fazendo cursinho, mas sim, gosto de ler.
- Estou lendo Guimarães Rosa! - Ela mostrava-se cult de novo, pois ler literatura brasileira e ouvir MPB é cult.
- Guimarães Rosa é livro de colégio.
- Quê?
- O único livro de colégio que gosto é de Machado de Assis. Gosto dele, pois ele usa muito da psicologia. Falando em psicologia estou lendo o Saramago, gosto também do Zygmund Bauman, do Roussel, do Foucult, do... - E ele fez uma lista de psico-socio-escritores. Ele não falou dos gregos por achar que ela ia falar que gregos são clichês, afinal ele queria mostrar que era mais inteligente que uma adolescente metida a velha.
- ... Mas... Quer dizer que você lê! - Ela olhava perplexa da maturidade daquele rapaz.
- É, pode-se dizer que sim.
- Tá bom, eu te beijo.
- Quê?
- Eu não ia te beijar por você ser novinho, mas vejo que tem maturidade o bastante, você merece o meu beijo.
- Deixa de ser criança! Eu quero é te comer!

Amor, ou qualquer sentimento equivalente

- Por que os homens gostam de olhar para o sexo?
- Não sei...
- Então pare de olhar!
- Tô olhando pro teu cabelo...
- Sei.
- Acho que gostam por querer comprovar a realidade, ter certeza que estão transando. Ou talvez gostem por se sentirem num filme pornô, os homens gostam de filmes pornôs, diferente das mulheres. Mas, na verdade, eu acho que gostam por querer transformar a transa em sexo.
- O quê?
- É como dizem, as mulheres fazem amor, os homens, sexo. Amor se faz de corpo colado, de olhos fechado, de beijos intermináveis. Sexo se faz com as partes a mostra, olhando-as, com toques que exprimem desejo, não sentimento.
- E você?
- Eu o quê?
- Tá fazendo amor ou sexo?
- Eu?
- ...
- Tô olhando pro teu cabelo...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sonho

Era uma quarta-feira de inverno, eu imagino que devia fazer uns 10 graus, ele nem imaginava quantos graus faziam, só sentia o frio castigando a pele desnuda. Acordou assustado, vinha nú, como veio no mundo. Olhou o teto de madeira distante, olhou a fresta de cortina que permitia um filete de luz gelada entrar no quarto, olhou quem esquentava a parte direita do corpo. Ela era linda, daquelas belezas que se veem em filmes.
A beleza da menina contagiou o coração daquele homem. Estranhamente, ele se desesperou, sentiu medo, sentiu frio, sentiu que poderia perdê-la a qualquer instânte. Nesse medo, beijou a testa da garota, beijou as faces, beijou os lábios, beijou o nariz, beijou até cansar os músculos da boca. Ela, adormecida, não moveu um cílio, muito menos o corpo, se fazia de Bela Adormecida aos beijos do plebeu. Coitada, ela que esperava um príncipe, foi ter na cama um sujeito qualquer. Aos meus olhos o sujeito não era de todo ruim, até acho que você, leitor, gostaria de conversar com o sujeito, imagino que até eu gostaria, pois enfim, não era um príncipe, mas de que serviriam os bilhões de homens do mundo se os bons sujeitos fossem só os príncipes?
Quando o homem se deu por si ficou perplexo. Não sabia o que dera nele, perguntava-se por qual motivo estava nú, perguntava por qual motivo estava beijando desesperadamente a face da bela moça, que agora não tinha mais a beleza dos filmes, mas ainda sim era bonita, perguntava que fim dera aquele sentimento seguro que era se ter sozinho, acompanhado dele mesmo. Pensou em procurar as roupas do lado esquerdo da cama, apanhar os pertences na cabeceira direita, em fugir dali, fingir que ele não sentira nada mais que uma felicidade decrépita por ter uma bela moça ao seu lado.
Pois ele não fez nada. Acho que esqueceu dos dois pânicos que teve, primeiro do sentimento de proteção que tinha com a garota, segundo do sentimento de medo que tinha da menina. Esquecido ou não, fez que não pensou em nada. Acabou por apertar ela mais perto do corpo, já que o vão dos seios dela permitia a entrada de uma corrente gélida de ar matutino que esfriva as pernas dos dois, puxou o cobertor de lã vermelha até o pescoço, temendo que o colo dela estivesse tão frio quanto os ombros, fechou os olhos e se pôs a sonhar, como se aquele mesmo fosse o sonho.

sábado, 18 de abril de 2009

Confessionário

- Padre, posso começar?
- Por favor, filho.
- Então, eu menti...
- Reze duas Ave Marias e um Pai Nosso.
- Calma, não acabei.
- Você quer contar a mentira?
- Quero, não posso?
- Por favor, filho.
- Pois disse que eu estava grato pela nossa amizade, e só pela amizade, sem mais.
- Não vejo pecado nisso.
- E beijamo-nos, como se nada que eu tivesse dito fosse verdade.
- Eis a mentira?
- É.
- Então... acho que pode rezar mais um Pai Nosso. Isso, dois Pais Nossos resolvem. Daí estará absolvido.
- Mas não quero rezar, nem ser absolvido dos pecados.
- Que é que veio fazer aqui?
- Me confessar!
- Mas com qual intuito?
- Falar o que não sabem.
- E por quê não os conta?
- Não quero.
- Está a mentir?
- Talvez esteja, não importa.
- Talvez você precise de mais uma Ave Maria.
- Já disse que não rezarei.
- Então conta!
- Contei já.
- E que lhe foi dito?
- Que eu devia rezar três Aves Marias e dois Pais Nossos, nada demais.
- Está dizendo que isso é nada demais?
- Pois acho que estou, mas me sinto melhor, precisava contar.
- Não te entendo, meu filho.
- Se eu quisesse ser entendido eu rezava as Aves Marias, os Pais Nossos, contava tudo.
- Pois quando precisar estou aqui.
- Talvez nem volte, mesmo assim agradeço por me ouvir.
- Volte filho, eu que ficaria agradecido.
- Adeus, padre.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Cosmo

Estava a ver o céu e me surgiu uma curiosidade: a disposição das estrelas lá em cima. Achei estranho que elas se agregassem perto do leitoso caminho que é a Via Láctea. Acredito que elas fiquem por lá para se alimentarem, beberem do leite da vida. Longe do leite as estrelas são escassas, e quando há estrelas são solitárias e perdidas, são que nem elefantes velhos correndo sozinhos pela savana.
As estrelas não são tolas, se juntam que nem gatos no inverno, um aproveitando do pêlo do outro, só que com elas é diferente, contra o frio da noite, se aproximam para se esquentar com o fogo da outra. Assim devem ser os céus: estrelas quentes, aquecendo outras estrelas, aquecendo os seus mundos, aquecendo meus sonhos.

domingo, 12 de abril de 2009

Conforto

A decência dos bons laços que ficam bem calados são dos mais corretos, dos mais respeitosos. Queria que não fossem decentes, que fossem bem despreocupados com o futuro, que se entrelaçacem sem medo de virar nó. Eu lembro bem dos nós da vida, é essa indecência que me traz das boas lembranças, não das mais corretas, muito menos das respeitosas, mas das lembranças felizes. Não sei qual é o meu medo em virar nó, em estragar toda uma relação saudável, afinal, é relativo o conceito da saúde do relacionamento.
Eu tenho medo de inovações e experimentações, mas tenho nojo do conforto estático. Quero sempre novos confortos, melhores confortos, a evolução constante dos confortos. Quero um carinho onde existem palavras amigas, quero beijo onde existe carinho. Quero o teu conforto, o mais confortavel deles.

sábado, 11 de abril de 2009

Eu te amo, porra

"É incrível quanto as pessoas gostam de julgar. Julga-se em todo lugar, continuamente. Provavelmente, para a humanidade, é uma das coisas mais simples a fazer."
Michel Foucault

Eu pensei que pararia de escrever, pois não gosto de escrever para o público. O público é humano, o público julga, o público difama, contorce, distorce. Eu gosto é de escrever para mim, para os meus olhos, para os meus ouvidos, gosto de jogar umas palavras tolas nesse blog tolo com o simples fim de dar fim a um vício.
Doa a quem doer, eu vou continuar a escrever. E se doer, saiba que não era para doer, pois eu não escrevo para machucar, escrevo para mim, como disse ali em cima. Eis a obscuridade que é ter um público, cada um lê o que lê, e a palavra escrita é muito mais forte que a palavra falada, então não consegue-se explicar o que quis ser escrito. E o leitor lê e tira das palavras jogadas aqui outras palavras diferentes, que elas, por si só, obtém contexto no meio, mas que não eram as palavras que eu tinha escolhido para expressar os meus meios.
É assim, cada um com o seu jeito viver, com suas dores escritas nos meus textos. É por isso que ando escrevendo em terceira pessoa, sobre uma outra terceira pessoa. As dores que eu escrevo são gerais, podendo ser minhas dores, as dores dele, as dores dela, ninguém pode dizer ao certo sobre quem eu escrevo. A única pessoa que diz sobre quem escrevo é o leitor que sente as dores, Escreveu sobre mim, filho da puta! Não é assim, sente as tuas dores, mas pode ser as dores de outros, as dores minhas, podem nem ser dores, sim amores ou felicidades, sentimentos meus que não estão expressos claramente.
Pode ser que você sinta o meu amor, mas ele não seja verdadeiro. Ou que sinta o inverso. Afinal, o leitor sente o que quer sentir. Pois calo-me.

Aliás, o silêncio que eu faço é uma tentativa de dizer que está tudo bem. O silêncio que fazemos é uma tentativa de fazer tudo estar bem. Eu preciso... Eu não preciso de você. Tudo bem.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O que você quer?

Não é que eu esteja perdendo tempo, só estou matando ele. Não vejo problema em ser pedra por uns tempos. Afinal, alguém precisa sofrer de vez em quando. Não precisa chorar, nem gritar, nem rezar. É só parar e pensar.
Pensando bem, as juras nem sempre se cumprem, as vezes por fraqueza, outras vezes por alguma força maior. Não há mal em parar pra ver as juras dos outros em fraquejo, virando farelo, como se tivessem esquecido que um dia prometeram pra Deus alguma coisa. Eu mesmo já dei por esquecido a minha jura, esqueci por uma força maior, só não consigo saber qual é ainda.
Aliás, não consigo saber qual é sobre nada. Diz que se não mata, soluciona, então vai lá, me deixa descobrir com meu tempo o que é qual. Não há mal em sentir sozinho de vez em quando, senão estariamos todos fodidos e preocupados com o tempo.
Eu sei o que eu quero: silêncio, estática, os teus carinhos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Confidências depressivas

A Morte sempre foi parte de mim, desde o início. Nasci prematuro, minha mãe teve uma gravidez dificílima. Antes do primogenito, eu, ela perdeu um filho. Tão fácil temer perder o segundo, quando se perde o primeiro, não é mesmo? A Morte segurou no meu calcanhar quando eu era um filhote em formação, dentro da enorme barriga da Dona Daisy.

Aos 14 para 15 anos a vida deixou de ser linda, pra ser horrível. Crises familiares, brigas, escassezes, adultérios. Até aquele ano eu era o filho que todo pai queria. Era, pois minha educação foi fantástica, não entendo o motivo, já que aqui em casa tudo foi muito liberal, muito "prostibulo", "zona". Mas ainda que zona, sempre fui criado embaixo das asas dos país e da avó. Pois nessa crise os meus pais deixaram de olhar pra mim pra olhar pro umbigo deles. Ninguém percebeu que eu comecei a fumar, pixar, odiar. Sou o que sou por causa desses anos, me tornei ruim, cruel. Um dia a Morte me bateu no ombro e perguntou:
- Está gostando de viver assim? Acho que ninguém está prestando atenção em você... Pra que viver monsenhor?
- Morte, quero a Morte.

E ela estava lá. Minha nobre amiga, me esperando pra me levar quando eu tomasse coragem. Na realidade coragem não faltava, faltava Daisy Silka deixar de ser Silka e Sergio Silka morar em outra casa. A separação dos dois era o marco da minha Morte. Eu e ela, sempre de mãos dadas, esperando o dia em que acontecesse o que tinha de acontecer.

Graças a Deus, sim, Deus, nada aconteceu. Um dia me cansei da Morte e ouvi Deus chorando por mim. Como poderia um anjo se tornar um diabo em tão pouco tempo? Deixei de ser diabo, deixei de esperar a Morte me levar. Achei a religião.
Pra quem não sabe, sou Espirita. Os Espiritas acreditam na vida após a Morte. Algumas pessoas afirmam ver Mortos, ou seja, fantasmas. Eu era uma dessas pessoas. A Morte, aos meus olhos, era viva. Era um prazer ver os Mortos (quando não era assustador, eu via cada monstruosidade). Minha paixão, Sarah, fora uma cigana espanhola, faleceu num massacre.
Talvez, você, leitor crítico e ateu, diga que eu era uma criança cheia de problemas. Na realidade os mortos não foram conseqüência da separação, foram conseqüência do crescer. Vi o primeiro "fantasma" aos 12 anos, muito antes dos traumas caseiros.

Até pouco tempo, a Morte era uma das mais nobres amigas minhas. Sei, parece mórbido, mas não era. A Morte era a verdade, a esperança, a religião.

Foi quando o meu Tio Nilo morreu que eu disse:
- Não és minha amiga, és o vilão que me persegue!
- Ok, mas não te largo. Um dia você será meu. - Cinicamente, morbidamente, a Morte dizia.

Nunca tive medo dela. Naquela experiência "discutindo com a morte" eu passei a odiá-la, mas nunca temê-la. Hoje temo. Meu medo é imenso. Nunca tive tanto medo de algo.
Não leitor, o medo não é de morrer, é de perder. Se eu morrer eu não perco nada, além da vida. Se alguém que amo morre, perco muito, posso até perder tudo.


Pensei nisso quando ouvi a história de uma mãe que suicidou-se. Deixou a filha adolescente cuidando do neto sozinha. Pra mãe, morrer deve ter sido delicioso, a vida não era boa, era dura. Pra filha, a morte foi a pior das coisas que podia acontecer. Aos meus olhos, a mãe é uma egoísta, a filha é uma injustiçada. Ouvir a história não foi tão complicada, ler as palavras da filha que me fez pensar. A filha perguntava sobre o merecimento das coisas, dos motivos das coisas, foi meio triste.

Daí eu vejo, a Morte é injusta, cruel, infâme, quem é amigo da Morte fica que nem eu, meio estúpido, meio inerte, meio inconsequente.

domingo, 5 de abril de 2009

Abraço

Olhei pra você e teus olhos vazios me diziam: me abraça, preciso de uma faísca pra reacender a minha vida. Acontece que eu não sou aquele que pode pôr os braços em volta do teu corpo. Até quis, pus a mão do lado do corpo quando deitado, esperando que você deitasse ali e ficassemos quietos, cada um curando a ferida do outro. E você balançava a cabeça enquanto falava, e todas as vezes que balançava eu imaginava que você deitaria.
Eu queria ser aquele que te consola, mas não posso. Há outras pessoas que devem te consolar, talvez você tenha que se consolar, enfim, eu não tenho permissão pra te ajudar nas tuas dificuldades. Eu quero, juro que quero, por saber que se eu te abraçar eu também serei consolado, é isso que eu preciso, teu consolo pras minhas dores. Pois que fiquemos assim, doendo eternamente.

terça-feira, 31 de março de 2009

Dor

"Às vezes, a memória fraca pode ser conveniente"
Marcelo Gleiser

Nunca havia pensado deste modo, mas: por qual motivo ele vai ao médico?
Pode soar tola a minha dúvida, mas, infelizmente, não a é. A outra, ele deveria seguir os passos da outra. Uns passos que são, claramente, um punhado de inúmeros desexemplos. Um desses desexemplos é a necessidade dele.
Explico. Ela e a medicina (a verdadeira, não a caseira) nunca partilharam de uma amizade concreta, por isso havia uma recusa: "Jamais estarei doente", mas no fundo ela sempre estava doente, por gostar de estar doente. É uma premissa no mínimo estúpida: fechar os olhos para o mal, se não o vejo, não o sinto. A demonstração mais real desse fechar de olhos dela é o esquecer de lembrar dos remédios. A mulher é inteligente, não esquece por tolice, nem por velhice, mas sim por teimosice. Ela sempre finge que não há doença, daí não há necessidade de cura, portanto não há remédio.
Voltemos para o caso dele. Ele é justamente o contrário, não digo hipocondríaco, mas sempre que precisa vai a um médico. Por que não fingir a ausência das dores como faz ela? Por gostar de sofrer. Ele vai aos melhores doutores da cidade, do país, do mundo, mas não pela cura e sim pelo diagnóstico.
O médico lhe diz: "Sua dor é essa", ele sorri, comprimenta o médico, e toma o seu rumo, felicíssimo do conhecimento das suas dores. É claro, já que não esquece de ir a um especialista, não esquece de tomar os remédios, não que remédio algum curasse as dores dele. Por isso que digo, antes uma inteligente negando do que um tolo insistindo. Tolo, pois ele se remedia por tolice, insiste na cura.
Talvez ele não sabe, primeiramente, que não quer ser curado, e, secundariamente, que não pode ser curado. Ou talvez eu que me precipito ao chamá-lo de tolo, pode ser que ele saiba disso tudo, mas luta para não perder algum fio de esperança. Pois bem, ele é como eu, não pode ser curado, mas é, sobretudo, mui tolo.
Existem duas alternativas para as dores deles: seguir a outra ou me seguir. Duas divergências que não curam de fato, afinal aquela não quer a cura, esta não pode ser curada, mas em ambas há o fim do sofrimento.

Caso o senhor esteja a ler, explico os seguintes passos: finja, como ela faz. A dissimulação é a melhor arma contra a dor, mas se você não quiser seguir a outra, pega a minha mão e aprende comigo. Se não quiser o sofrimento: esqueça a dor, apenas. Não há rezas brabas, ou remédios de tarjas pretas, ou conversas que resolvem a vida. Esquecimento é a melhor arma contra o mundo.

Como conheço ele, sei que prefirirá a terceira alternativa: ser ele mesmo e gozar com a própria dor, num sadomasoquismo ininterrupto. Isso, meu senhor, aproveite o seu orgasmo, só não venha atrapalhar a felicidade dos meus seguidores, pois nós já esquecemos faz tempo...

Meus

Eu gosto da janela daqui do apê. Dá pra uma árvore de flores rosas bastante bonita. Não gosto da janela pela árvore em si, ou pelo perfume da árvore, gosto por causa dos colibris. Vejo-os todos os dias se alimentando das belas flores. Não são daqueles beija-flores pomposos que brilham ao Sol, é só um passarinho preto, que voa pra lá e pra cá, com a sua beleza singular, não nas cores, mas no voar, afinal todo beija-flor fascina pelo voo. Hoje mesmo, na minha árvore, vi um canarinho amarelo, pequeno e delicado, pouco acima de um beija-flor, pequeno e delicado. São os meus tempos inúteis de observação da vida lá fora, das pessoas que passam, dos pássaros que voam, das folhas que caem, mas, sobretudo, são meus tempos.

Fraquejo

São fracos os bons, os fortes são os inconsequentes, aqueles que não medem consequência, aqueles sem valores, sem pudores, deligentes, delinquentes.
São fracos os bons.

domingo, 29 de março de 2009

Pointless

Ou seja, some da minha vida.
Cansei de estar sempre comparando tudo a você, cansei de estar sempre procurando você.
Não quero mais este exemplo de felicidade, as minhas memórias dos teus sorrisos.
Quero outras felicidades, algumas que representem o meu sorriso, só o meu.

sábado, 28 de março de 2009

Solidão

Estava pensando o que devíamos fazer com aqueles que amamos e acabam por nos ferir, por motivos que fossem. Quando podemos, nós tentamos curar a ferida, mas quando devemos, nós tentamos parar de amar essa pessoa. E, por mais que amor de verdade seja eterno, há um dia de acabar, ou seja, o tempo dirá se é possível de fato deixar de amar. Pois se o tempo disser que sim, fique feliz, pois a solidão é mais valiosa que a dor intermitente dos ferimentos expostos que o amor nos dá.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Agora

Eis uma revisão tola dos atos dos bichos homens, mas hei de fazer por este ser o meu trabalho, revisar os atos dos bichos homens. Portanto falo a ti, leitor, que considero a infância uma fase estúpida, porém necessária da vida. Nessa fase estúpida, elas, adivinho que todas elas, inclusive eu e você, costumam brincar de lutar. A luta, dizem os sociólogos, psicólogos e antropólogos, seria um meio de a criança começar a enfrentar os seus desafios, seus medos, seus concorrentes. Os extremistas diriam que é culpa da televisão, que impõe nas crianças a violência gratuíta, fazendo com que lutem entre si e, embora não seja o objetivo inicial da brincadeira, acabam se machucando. Eu digo que é macaquisse, criança é idiota e não tem o que fazer.
E nesse não ter o que fazer elas dizem frases de efeito, são elas que me fazem acreditar mais nos extremistas do que nos sociólogos. As frases de efeito são geralmente as ditas pelos heróis nos desenhos, frases prontas e fora de contexto, o que jamais acontece numa luta real. Na luta real os bichos homens se espancam e gemem, mas não param para dizer "Você vai aprender que o bem sempre vence" ou "As forças da natureza estão do meu lado, não há como você me vencer". Há frases e frases, inúmeras delas, todas sem sentido, mas uma delas estará presente em todas as lutas, sendo ela a única que realmente é expressiva e com conteúdo: "AGORA!". Agora naquele tom de explosão, que pode muito bem significar "Agora passei dos limites, estou pronto para te destruir!" ou "Agora amigos, saiam dos seus esconderijos!" ou simplesmente Agora.

Eu que ando minimalista, inconsciente das coisas, despreocupado e desleixado, andei pensando na frase de efeito e acabei por descobrir que nada é mais detalhado que a bendita frase de efeito. Como eu estou? Agora...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Conceitos da criação

Hoje são débeis os conceitos da criação, pois ela toma suas mais diversas formas, seus mais diversos trejeitos. É óbvio, cada qual com seus defeitos, mas a criação que seja tem o seu direito de ser livre para ser criada, ou seja, que o criador faça como bem entender.
Outrora muito dos passo-a-passos foram teoremas divinos, e que perfeitas que eram as criações que saiam desses manuais de criação, todas bem lapidadas, mas todas criações bem similares. Perfeitas, conquanto criação tem de ser algo novo, não uma cópia da primeira e única criação, portanto perfeitas cópias. O novo é errado, é incerto, é assustador. O novo nunca dá certo, mas quando dá, vira modelo.

domingo, 22 de março de 2009

Tédio

Das vezes que tentei entender a necessidade inscrita só recebi um bocado de situações momentaneas: ora uma tristeza corrupta, ora uma alegria termitente. E, por mais que as tristezas sejam ruins, ou que as alegrias que terminam também o sejam, tive meus bons tempos, minhas boas companhias. Por confusão explícita acabei por cansar da dependência que o sorriso alheio me traz, mas queria eu era um sorriso amigo, um abraço, uma dependência qualquer que desse fim a minha infinita busca pelo desconhecido. E os bons prazeres, daqueles prazeres que acabam com o tédio, acabam-se em gozo, por fim acabam, sempre acabam. Daqueles prazeres que acabam com o tédio, que quando acabam, viram tédio.
Eu queria alguma coisa, qualquer coisa, das dependências aos prazeres eternos...
Se ao menos acontecesse alguma coisa...

sábado, 21 de março de 2009

Verão

E eu que achava que o verão sem você não ia ser tão divertido.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Doce paraíso

Uma vez ouvi falar sobre um paraíso fora do comum. Dizia que quando morre-se, tem-se o direito de escolher o paraíso. Explico. Quando o sujeito morre, sujeito bom, cumpriu suas tarefas pela Terra, foi bom cidadão e tudo mais, ele pode escolher um único lugar para passar a sua eternidade. À princípio pensei que isso deveria ser o paraíso mais infernal de todos. Não conseguia me imaginar no mesmo lugar por toda a eternidade. A eternidade pode durar muito tempo, consequentemente entediaria o sujeito.

Pois passou o tempo, bastante tempo, e acabei por relembrar desse tal paraíso (sim, lembrança totalmente aleatória), daí pensei sobre a minha posição que eu tomava antigamente. Será que, se escolhesse bom paraíso, ele seria tedioso?
Sei que escolhi o meu paraíso. Transformaria o Museu do Olho no meu Céu. Não que eu não conheça lugares mais bonitos, mais divertidos, mais interessantes. É que meu paraíso seria completo, seria uma retrospectiva da minha vivência. Seria o melhor e o pior do que já vivi. Eis o anti-tédio do meu paraíso, seria tanto Céu como Inferno, eu seria Deus e o Diabo.

Seria um sujeito saudosista que não consegue largar o passado.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Quis dizer

Passou a vontade de exprimir tudo. Queria falar da vida, das pessoas que convive, dos olhos que vê. Mas agora não sente sentido na expressão. É como se, caso fosse falar, falaria sozinho. Eis o maior medo, a solidão e seus trejeitos, expondo a pequenas fraturas, pequenos medos, é ruim quando são pequenos. Longe de tudo que conhecia, perto de tudo que agora conhece, mas ainda sim sem rumo, sem vida, sem tempo, sem amores, sem olhares, sem nada que fizesse precisar lembrar. Lembrança vaga de todas as coisas.
Recebe bem meu adeus. Paciência...

terça-feira, 17 de março de 2009

Traz sabão

Não sei mais escrever, mas sei reclamar! Que há melhor da vida senão uma boa reclamação? Creio que os velhos rabugentos sejam os seres mais felizes deste nosso maravilhoso planeta em decadência.
Pois para você, leitor desocupado, que passa aqui por não ter nada para fazer, eu digo: puta caralho, que merda.

domingo, 15 de março de 2009

Far from where you are

I never know.
I never grow.

It happened before.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Anti-principe

Tomo um gosto tão contrário ao da psique comum. Todos lutam por um fim e o fazem com o puro intuito de chegar nesse fim, poucos se preocupam com o meio. Já eu sou bem anti-maquiavélico: os meios justificam os fins.
Não me vem na cabeça um bom motivo para esta correria inconsequente que é o fim pelo fim, mas vejo muito valor no meio pelo fim. Mais que esse valor, vejo o meio pelo meio como um produto do aprendizado e das consequencias das atitudes tomadas. Dizem que o fim pelo fim é o puro egoísmo, pouco sabem que o meio pelo mais é a mais grossa camada de egoísmo que pode-se ter. E eu, como bom egoísta, escolho pelo meu lado.
O meio pelo meio. Um passo por vez. Tudo pra mim. Feito por mim.

Enfim, os meios se justificam.

terça-feira, 10 de março de 2009

Saudosismo idolatrável

Queria uma música velha.
Domingo, barulho, paz.
Queria uma vadiagem que não valesse a pena.
Noite, frio, carinho.
Queria nada de esperanças ou planos.

Só tempo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Passei

Buscava pouco mais que esperança, afinal nem mais as pernas o aguentavam. Já era tarde, passava das duas, sem querer olhou o relógio. O tempo era uma espécie de religião, o relógio era a Igreja. Pois olhou, notando tardiamente que não devia ter olhado. Pobre, mal sabia que nem a esperança podia ser esperada; o tempo não esperou, queria crer que esperaria, mas não esperou, então por qual motivo devia esperar a esperança? Aliás, ninguém esperou, nenhum deles. Não muda, é sempre assim: não se espera.
Passou tudo, tudo bem lento, mas passou. Quem diria que passaria por tamanho desaforo?

sábado, 7 de março de 2009

Roça

De dia era trabalho, de noite era noite. Não tinha muita outra opção, senão viver essa vida de sempre. Vida dura, cansativa. Nós acordavamos cedo, antes do sol nascer, tomavamos um banho gelado no rio, tomavamos o nosso café-da-manhã e pegavamos as enxadas. O trabalho era de ofegar, mas nós nos aguentavamos até que o pai dizia Tô indo mijar. Era a felicidade da criançada e a tristeza do pai. Hoje eu digo que ele ia mijar só pra nos dar um recreio, quando eu era moleque eu só achava que era burro. Enfim, corriamos cada um pra um canto, subiamos nas árvores, mergulhavamos no rio, entravamos debaixo da casa, dos móveis, do trator. O importante era esperar ele chegar no campo e se ver sozinho, daí ele se acalmava e dizia, Que criançada maldita, vou trabalhar sozinho de novo. Era o dia inteiro festando, jogando bola, correndo, empinando pipa, nadando, até o anoitecer.
Eis o momento crucial do dia, a noite vinha pra nos assustar. Chegavamos em casa e o pai olhava com cara feia, Onde vocês estavam? Tive de trabalhar sozinho, agora vão levar surra, seus safados! E quem conseguia correr corria, quem não conseguia, apanhava. Mas não era só a surra que assustava. Lá fora acontecia muita coisa. Não era raro ver os olhos do Boi Tatá, espreitos à espera de alguém sair de casa. Se alguém saia os olhos seguiam o sujeito até a porta. De vez em quando, se demorava muito pra sair a janta, ouviamos barulhos fora de casa. Todo mundo sabia que o Seu Vitolino era lobisomem, aliás, como homem o Seu Vitolino era bom, sujeito simpático, mas os lobisomens não levam em consideração as simpatias que sentiram quando gente. O bicho tomava o corpo do Seu Vitolino e ele saia a roubar a janta do pessoal. O vagabundo não podia roubar um pedaço de carne, ou uma galinha; sempre roubava o porco, o maior deles.
Uma vez, depois de passarmos a tarde inteira brincando, o pai não quis nos bater e disse, O castigo de vocês é bater no lobisomem. Minha mãe não queria, pois Seu Vitolino, antes de ser lobisomem, era bom homem, mas o pai se importava mesmo é com a comida que faltava na mesa. A mãe disse, Além de quê, é perigoso! Se esse homem morde uma criança dessas? O pai não quis saber, fez-nos esperar atrás da porta da cozinha com paus e pás.
O cachorro entrou, era grande, forte, bem preto, ficamos quieto, sem saber o que fazer. Ele olhou pra mim, rosnou com aqueles dentes enormes, daí fechei os olhos. Ouvi um baque forte e o choro do cachorro, abri os olhos e estava meu pai com a enxada ensanguentada na mão. A mãe gritava, Falei pra você não fazer isso com os piás!
No dia seguinte Seu Vitolino mancava muito, as pessoas perguntava o que acontecera, ele dizia que caiu da escada. Nunca mais se ouviu falar dele perto de casa, muito menos de lobisomens.

domingo, 1 de março de 2009

Desde os dez

Na hora não fez sentido, afinal ela não parecia tão nova. Depois que fui entender que era precoce, que já vivera uma vida inteira num pedaço pequeno da vida, acho até que já podia morrer, afinal já tinha feito de tudo. Enfim, aos 19 ela fazia de tudo, cuidava das crianças, era diarista, quem sabe ela trabalhava de noite também. Todo esse esforço pra sustentar os filhotes. Eram 5, o mais velho já estava velho, era um menino grande, malandro, com pinta de bandido, o mais novo ainda usava fraldas, era bem gordo, bem bonito. Aliás, todos puxaram o pai, sujeito feio, decrépito, só o pequeno que puxou a mãe. Ela era linda, corpo escultural, nariz empinado e delicado, a pele negra, lisa, mesmo com 5 filhos ainda era bela.
Encontrei-a no ônibus, ofegante, suada, atrasada. O calor não combinava com a roupa pesada que ela usava. Falou pra amiga que queria sentar, mas achava que não caberia no banco, de tão gorda que estava. A amiga não pensou duas vezes, é verdade, você está tão gorda que parece um butijão. Minha reação foi instantânea, como não podia rir da gordinha zombando da outra gordinha? O butijão explicou-se, os cinco filhos, o trabalho, a vida, os anos, tinham detonado o corpo dela, afinal tinham se passado cinco longos anos. Ela, em cinco anos, viveu 15, e a beleza sensacional sumiu, ficou no rosto algumas marcas do nariz empinado, da pele bonita, mas era só.
Disse que tinha coisas pra fazer, como se aquele ano, digo dia, fosse acabar antes que ela acabasse tudo que tinha de fazer. Aos 24 parecia ter 40, aos 19 parecia ter 25, aos 10 parecia ter 15. Vai ver o tempo não fez bem a ela.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ê pai

Sei, não nasci pra ser pai. Achava que tinha que montar uma família grande, três filho, cachorro, papagaio, o Willy, mas não, acho que não. Pai tem que ser forte sempre, lutar sempre, ganhar sempre. Pai é herói. E eu não sou herói.
E ser herói não é fazer um mundo melhor, é espantar monstros de armário e de baixo da cama, é comer jujubas brancas que os filhos não comem, é matar baratas e é salvar lagartixas presas.

Não estou com vontade de jujubas, diz o herói, e pedimos que ele coma as jujubas brancas, pois são nojentas. Come pai, por favor, é muito ruim. Se ele estiver sendo um bom herói ele come, faz cara de prazer e diz Vocês não sabem o que estão perdendo, com vontade de ensinar aos filhotes que ser pai também é ser herói, uma lição distorcida que um dia será entendida.

E eu, que odeio as jujubas brancas, vou dizer o que? Ah, não estou com fome. Mas pai, diriam eles, come só essa, tá acabando! E eu poria-as na boca e engoliria duma vez, fazendo cara de nojo enquanto ninguém vê. Que jeito nobre de ser herói, ou anti-herói.
Ser pai? Cuido do meu gato... E olha lá.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Escreve mais

Parou. Queria escrever como escrevia antes. Queria mostrar que ainda era gente, que ainda era especial. Mas que nada. Estagnou por um período Sempre. Que sempre é só até que dure nós sabemos, mas esse sempre anda sendo muito. Anda sendo um sempre eterno, daqueles sempres que nunca existem.
Pois queria mostrar existência, mostrar pouco de si e pouco do mundo. Mas só sabia de saber coisas bobas, coisas que nunca entendi, que nunca entenderei, que nunca deveriam ser entendidas. As coisas que se não existissem, ninguém ia sentir falta. Sentiria é falta de saber. Só sei que sei as coisas bobas.

E parou. Queria escrever.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Flecha

Disse muito. O fiz como um meio de tirar todo o peso das costas, e o fiz bem, pois o peso não ficou. Acho que não acredita em declaração amorosa, ou em verdades, ou em mentiras. Bem acho que não acredita em muita coisa senão viver o dia-a-dia, um atrás do outro. Seria bem bom que acreditasse assim, afinal eu ia ver que no montante não fiz mal de dizer muito. Ruim mesmo seria se acreditasse diferente, ia fazer de tudo grande coisa, e meus feitos não são feitos para serem grandes feitos, são feitos para dar pena. E diria que eu que faço bem, que eu que sinto bem, que eu que amo bem. E daí tudo seria errado, diferente, e eu não estaria tão bravo para não mostrar. Seria bem como um conto de fadas a médio prazo, pois que foi um conto de fadas a curto prazo foi.
Que bom, teu caminho perfurante apenas pessou diante do meu olhar, perfurando tudo que eu tinha, mas apenas passou. Que bom que passou.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Levando a vida

O bom dos sonhos é que eles são recicláveis, mutáveis, assim como os sonhadores o são. Da noite pro dia, esquece-se do velho sonho, pois um novo sonho toma o lugar do velho sonho. E o ser humano é assim, necessitado de sonhos. Todos nós precisamos sonhar.
Ao objetivar o sonho sonhado, nós não simplesmente festejamos, buscamos criar outros sonhos, cada vez mais inalcançáveis. E é bom que sonhemos desse jeito, pois o chato da vida é dar-se por vencido e esperar que ela mesma te leve. Quem tem de levar somos nós, nós levamos a vida.
Que bom que existem sonhos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O novo é velho

As crianças são tão tolas, tão simples, tão puras. E a pureza que elas demonstram não é nada senão um jeito de nós, os velhos, vermos as crianças. As crianças são todas sujas, pois não sabem que é certo, que é errado. Tudo é bem certo, desde que os pais digam. Se os pais disserem, é certo, mas é preciso que o digam.
No fim, o novo, pequenino puritano, é o velho, o mais pútrefe e fétido velho. Desde que não saibam que o errado é errado, o novo é o velho.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Herança materna

"E bom é todo aquele que não ultraja, que ninguém fere, que não ataca, que não acerta contas [...], que foge de toda maldade e exige pouco da vida, como nós, os pacientes, humildes, justos."
Friederich W. Nietzsche

Que bom que ela me ensinou a ser bom. E me ensinou bem. É tanta bondade a dela! Que desgraça a bondade!
Ela só esqueceu de me ensinar a ser ruim também, pois um homem, para ser completo, tem de ser tão bom quanto ruim, afinal o mundo é mundo por ser completo, tanto bom quanto ruim. Então eu tive de aprender com os meus próprios meios, minhas próprias dores.
Ela devia mesmo é ensinar-me a gritar, a bater, a escarrar no próximo. Já que o amor ao próximo já está tão fora de moda, tão antiquado. Ela devia mesmo é ensinar-se a ser ruim, ruim sem pudores, ruim sem arrependimentos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jabuticaba

Os olhos eram negros, talvez fossem pretos, não negros, afinal um preto é mais escuro que um negro, não? Pois enfim, os olhos da cor da noite, talvez mais escura que a noite, pois a noite pode ser um pouco azulada. Que seja, eram os olhos mais pretos que podiam existir. E os olhos eram um negro só, como se não houvesse íris. Uma negritude intensa que podia me engolir a qualquer momento, levando isso em consideração eu tinha uma agradável mania de encarar, pensando com todas as forças: me engulam, assim moraria em ti para sempre, me engulam, negros olhos!

Nunca fui engolido de verdade. Vai ver eu tenha exagerado um bocado, então posso tentar admitir que talvez eu tenha exagerado, mas o exagero é sempre tão belo, tão romântico, tão heróico. E em nome do heroísmo eu digo que os olhos eram bem pretos, eu sei que não eram dos mais pretos, até podiam ficar meio verdes com o Sol, mas se eu contasse isso, não teria o mesmo charme, teria? Pois que seja, os olhos eram pretos, os mais pretos que podiam existir; e eu esperava ser engolido para fazer parte dela todas as vezes que meus olhos encontravam aquele abrigo.

Choro dos anjos

Pois eu espero.
Quem sabe o tempo faça o seu trabalho.
Quem sabe o tempo acabe com essa chuva.
Quem sabe o tempo se desfaça, com o tempo.

Pois eu espero.
Só me acorde quando esse verão acabar.
Só me acorde quando essa chuva parar.
Só me acorde quando o Sol voltar.

Pois eu espero.
Pois hei de ser feliz.
Pois hei de ser feliz.
Pois eu já fui feliz.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ilusão

Não sei daonde ela tirava aquela esperança tola. Os dois sabiam que nunca se amariam de novo.

Conflito

"Quanto à linha de conduta: para diante. É a honesta lógica das ações."
Raul Pompéia

Há os sãos e os débeis, há também os sós, há aqueles como eu, que são sãos, débeis e sós e obviamente há os mentirosos. Eu desgosto do povo da minha raça, dramáturgos inconsequentes impossibilitados de seguir em frente que temem o próximo passo. Mas os mentirosos não desgosto, os odeio.
Pois quando somos moleques os pais te dão uma lista de regras para decorar. Decoramos que temos que mastigar de boca fechada, respeitar os mais velhos e não devemos fazer aquele barulhinho nojento ao beber coca-cola. Decoramos também que devemos sempre seguir cegamente as regras da lista, senão ficamos de castigo, sem tv e sem video-game, e em alguma linha da lista há uma clara regra: Não mentir.
Quando nós, os moleques, vemos os pais mentindo sentimos que não há um porquê de seguir cegamente as tais regras. Por isso arrotamos, andamos descalços, zombamos de estranhos, mentimos. Não vejo maldade em não seguir as regras cegamente, nem vejo em arrotar, andar descalço ou zombar de estranhos, muito menos vejo na mentira. Pois é natural que mintamos, afinal as pessoas precisam mentir para se manter saudáveis, sociáveis, gostáveis. É natural que precisemos de alguém que nos goste, então mentimos.
Quando nós viramos adultos, pais, nós criamos uma lista imensa de regras. Regras que a sociedade obriga ao pai: crie as regras para que o teu filho seja um bom ser humano. E nós mentimos para as crianças que é feio peidar, que é feio gritar depois das onze, que é feio jogar bola no meio da rua, que é feio olhar pornografia na internet. Nada é mais feio que a nossa atitude, mentimos para as crianças, assim como nossos pais fizeram. E se não o fizessem o que seriamos? Um monte de macacos trogloditas incapazes de conversar com um ser do sexo oposto sem olhar para as suas partes íntimas. Seriamos incapazes de mentir, ou seja, incapazes de nos matermos saudáveis, sociáveis, gostáveis. E seriamos todos como eu: sãos, débeis e sós.
Mintamos, por favor, afinal o dia lá fora está lindo, não está?