domingo, 6 de dezembro de 2009

Você vai dizer às amigas que o sexo nem era tão bom

Embriagado pelo poder, eu ia cambaleando pelas ruas escuras. Não me preocupei se a chave ainda estava no bolso, nem com a possibilidade de eu ser assaltado àquela hora da madrugada, só andei sem sentido, me encostando nos postes para respirar.
Eu sabia que estava na rua errada, no bairro errado, na cidade errada, no estado errado. Mas não me assustei, talvez tenha me feito rei, imperador, ou algum megalomaníaco do gênero. A chuva escorria pelos meus cabelos oleosos enquanto eu ria-me das desgraças alheias, pois eu era invulnerável e não sofria de desgraças.
Cheguei numa praça nova, onde um grupo de drogados me esperava, convidando-me para uma dança calorosa. Basta-me de drogas, ou de sexo, ou de rock'n'roll, eu dizia. Clichê, era óbvio que iam apelar para a minha sexualidade supostamente fragilizada pelas minhas escolhas. Beijei a bela moça que vomitava na calçada, ela riu e abriu minhas calças.
Sinceramente, não tive vontade. Acontece, uma ou duas vezes por ano. Esse viciado por sexo sossega. Eu sei, é quase impossível, mas acontece. Mandei-os que me buscassem uma bebida, um carro, que me fizessem massagem. Eu, rei, não ganhei nada além de um veneno que destruia os figados daqueles porcos bastardos.
Segui em frente, virei a esquerda, depois a direita. Talvez eu nem tenha virado para nenhum lado, não que essa informação seja relevante. Deitei na poça de água que tomava a rua e chorei. Deixei que as lágrimas se escondessem nos pingos da chuva que inundavam o meu rosto. Depois eu ri, me sentindo sozinho, dessa vez vulnerável até às sombras. Me escondi num canto e esperei o dia amanhecer. Que belo amanhecer...