terça-feira, 30 de março de 2010

Mãe

A vida foi passando. E ela foi ficando prá trás. Ela não se contentou e correu atrás da vida, mas, ora ou outra, tinha que cansar. E cansou. Hoje ela acorda cedo, leva meu irmão pro cursinho, fica assisitindo o padre (eu odeio padres de televisão, me parecem sanguessugas, sugando o dinheiro da fé das pessoas, mas ela não está nem aí para o padre, quer saber de Deus) na Band (acho que é na Band) até a hora do trabalho. Passa o dia todo sofrendo, dando o melhor num trabalho que ela nem gosta de fazer. Entre o trabalho e a reza, vem a saúde, seja do vô, da vó, do Leo, o povo aqui não é dos mais saudáveis. E quando a gripe me bate, eu ligo prá ela (é, eu reclamo da gripe enquanto todos tem problemas cardiacos, respiratórios). A vida vai passando e ela vai sendo a base que suporta um mundo inteiro: o mundo dos pais dela, o mundo do marido, o mundo dos filhos, menos o mundo dela. Ela não tem um mundo prá ela.
Um dia ela pode ter sido uma mulher aproveitadora, sacana, safada. Sei lá, não a conheci quando jovem. Sei de agora, enquanto o tempo passa, vai ficando mais pura. Antes não entrava a palavra "ódio" em casa, hoje não pode-se falar mal dos outros. Cada vez mais pura, cada vez mais politicamente correta, mais religiosamente correta.
Eu fiquei pensando sobre o momento em que os mundos que ela segura se despedaçam. Ela ficaria lá, com as mãos para o céu. Não rezando, mas segurando o ar, indignada com o vazio e a leveza do ar. Ficaria estática esperando o céu ruir, pois tudo estaria tão leve.
Agora, neste exato momento, ela está no hospital cuidando da mãe dela. A minha vó está com os pulmões mortos, a pressão está baixa, enfim, ela está internada. A mãe cuida da vó o dia todo, quando a vó dorme, ela cuida das outras pacientes que ficam naquele quarto. E cuida de todo mundo. Pois é por isso que ela nasceu: ser a mãe do mundo, fazer dele um lugar melhor. Ela é tão diferente de mim, que vim prá ganhar dinheiro, basicamente. E agora me dei conta que, se ela quiser, ela tem um futuro para as mãos vazias: que vire enfermeira, que espalhe o monte de amor que ela quer espalhar, pois quanto mais amor ela espalha, mais ela consegue disfarçar o ódio pela vida que ela guarda no peito.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vazio bem cheio

Curitiba. Curitiba. Curitiba. Curitiba. Curitiba. Conseguia repetir quantas vezes fosse necessário o nome da Cidade Ecológica, da Capital da Araucária, da Cidade Sorriso (me pergunto o motivo desse nome, pois os curitibanos são bastante secos), da Europa brasileira, da cidade do transporte público, da cidade dos mil nomes diferentes, mas só me importava um deles: a minha cidade.
Prestava atenção nas luzes, que se pareciam com luzes natalinas, ofuscadas pelas núvens finas que molhavam a cidade, e na loira deliciosa da poltrona da outra coluna do avião. E imaginava os deliciosos restaurantes caros que eu queria comer. Restaurantes que não podiamos ir, pois não podiamos pagar, mas que iremos de qualquer jeito para comemorar a minha estadia na casa da mamãe.
A casa da mamãe, que ela insistia dizer que era minha, nem sempre foi aconchegante, mas agora está um bom lugar para viver. Os animais não tem mais passe livre, não são permitidos gatos nos quartos, pois eles soltavam pêlos e a gata gosta de mijar nas camas, e em todos os restos das coisas. E eu gosto de ficar em casa, fazendo nada, sempre fazendo nada. Esperando para alguma coisa acontecer, não colocando as coisas para fazer numa ordem de prioridade e fazendo-a uma por uma. Um por um, tudo a seu tempo. Muito tempo. Sem fazer. Nada.

Dentição negra

Queria ser negro. Ter aquela cor maravilhosa que os negros tem, um marrom escuro que deixa a pele com a aparência de maciez. Queria ser negro e ter dentes perfeitos e ter um pinto grande. Sim, estou tendo crises dentárias e de pinto pequeno.
Primeiro fui tirar o siso, no consultório, o doutor me pede para escolher entre levar injeção, contra dor e outras coisas mais, na bunda ou no braço. Óbvio que escolhi na bunda, podia doer mais, pois eu não tenho bunda, mas pelo menos eu não veria a agulha. Depois disso, ele me dá bilhões de injeções na gengiva, eram as anestesias. Que dia infeliz da minha vida, eu, menino belonofóbico (que tem fobia de agulhas), estava cercado de picadas eternas.
Depois foi a odontologia. Hoje fui ao consultório do meu ex-dentista, que acabou virando meu dentista de novo, afinal precisarei repor o aparelho. Chego lá e percebo que os dentistas estão cada vez mais impessoais. O doutor me pede para eu vestir um óculos de proteção laranja, que pensei que era uma espécie de óculos escuro e eu não sofreria com as luzes do teto da sala, mas não demorei muito pra perceber que com o tal óculos, ele não conseguia ver minhas expressões de dor. Depois de muito gemer e reclamar, ele me põe um pano preto em cima de mim, daqueles que aparecem em filmes e seriados de médico usados em cirurgia. Pronto, estava eu, debaixo de um óculos laranja e de um pano preto, fazendo caretas de dor à toa. E não foi só a dor que me deixou com caretas, foi o barulho. Aquele barulho classico da pedra pomes girando e tocando no dente, a primeira coisa que pensamos quando pensamos em dentista, acabou se mostrando soft core. Nunca tinha percebido, mas o tal do ultrasom é muito pior, ultrasom é hard core. Aquela agulhinha (mais uma vez agulha) girando a sei lá quantos mil rpm tocando os meus dentes, criando o som mais agudo que já ouvi na vida. O som agudo da pedra pomes sai dos dentes, vai para fora da boca, dá a volta no rosto e finalmente chega nos ouvidos. O som agudíssimo do ultrasom entra nos dentes, entra na cabeça oca e toca direto nos timpanos. Um som claro e limpo e agudo e insuportável. E aquela agulha girando na minha gengiva.

E na vida seguinte, quero nascer preto, só pra não usar aparelho.

sábado, 27 de março de 2010

Uma cama quente e um lençol fedendo a sexo

Ah, vai tomar no cu. Eu, de consciência limpa, só queria tirar a hipocrisia do rosto. Ninguém me deixa sorrir, tenho que fingir que não está tudo bem. E está tudo bem. Só quero sorrir e dormir mais um pouco. Tá, mais bastante. Quero sorrir e dormir. Não quero transar, não quero ficar bêbado, não quero falar merda, não quero me divertir. Quero sorrir e dormir.
Fico aí, vivendo a vida alheia. E como é viver o que não vivo? É passar dia após dia esperando o dia seguinte. O dia da liberdade. O meu dia. Hoje é meu dia. Acordei tarde, sem querer acordar. Adoro dormir. E sorri. Que bom que estou feliz de novo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Orgasmo

Eu morri. Cai nos braços dela, parecendo a queda de um corpo baleado. Morri e ela ria, surtando com o acontecido. Ela jamais imaginaria que poderia ser tão feliz, tão completa. E eu morto. E ela rindo, suando. Cai nos braços, e do jeito que cai, fiquei. Morto mais uma vez, mas dessa vez era prá sempre. Ela me afaga o cabelo suado e me pergunta, toda sorridente: Foi tão bom prá você, como foi prá mim? E eu, uma massa estática que respira, comecei a roncar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Querido diário

Nível de stress elevadíssimo.
Quero Curitiba.
Agora.

sábado, 20 de março de 2010

Seriados

Um era The O.C., outro era Skins. E se davam bem, se gostavam bem. Eram unha e carne, sempre companheiros, pro bem e pro mal.
E um dia, os críticos falaram: Skins é um The O.C. real. Skins é uma juventude de verdade. The O.C. é a utopia dum diretor bem sucedido.
E se afastaram. Porque um era o sonho de toda pré adolescente: amor e intrigas, esportes e dinheiro; o outro era de verdade, de ressacas e de sexos.

Ódio e a sensibilidade dum ex-apaixonado

Ela me amou, por poucos dias, mas me amou. Eu a amei eternamente. Até que meus dias se resumiam a ela e seus cabelos e seus beijos e seu pescoço e seu cheiro. Mas acabou. Ela fodeu com tudo. Várias vezes. E foi ótimo. Foi ótimo quando ela pisou no meu peito com aquele Scarpin roxo, que ela só usava prá sair comigo. Não só estrangulou o meu peito, como também rompeu as veias do meu coração. E de dentro dele, ela saiu. Saiu tudo o que pertencia a mim, tudo o que eu não queria perder. Eu perdi. Perdi e sou feliz. Pois ela fodeu com tudo e isso me fez odiá-la. Que bom que odiei, pois o ódio me fez ver quem ela realmente era. O ódio sempre me fez mais sensato, mais recluso, mais perfeito. Perfeito é o caralho, ela dizia, eu era um retardado que sofria à toa. E sofri até meus deuses sumirem. Até o quarto ficar escuro, as cortinas se fecharem. Até a solidão completa me encontrar. Coragem, nobre filho, disse a mãe. E eu abri as janelas, arrumei a cama, segui em frente. E se segui, foi por culpa dela. Ela fez esse bem. Hoje eu não a odeio. Hoje eu entendo-a. Hoje eu sou eu, não ela. Só queria saber, quando é que vamos foder de novo?

Henry Chinaski e minha barriga

Me sinto Henry Chinaski, personagem auto-biográfico de Charles Bukowski. Quando criança, Henry tinha vergonha de ir ao banheiro na escola, quando chegava em casa, já passava a vontade de fazer as necessidades. E dia após dia, sua vontade de cagar era maior, e seu nojo e vergonha de ir ao banheiro ficava maior.
Não tenho vergonha. Mas me sinto um pequeno Henry. Cheio de bosta dentro de mim. Minha barriga está quilométrica, não sei o que fazer. Pensei em laxantes e chás, mas não me entra na cabeça a possibilidade de passar o dia inteiro cagando. No fundo no fundo, acabei me tornando uma grande merda ambulante. Não é que nem o pai dizia: Seu bostinha. É que nem a mãe falava: Seu merdão!
Um grande pedaço de merda que vai à faculdade, assiste às aulas, estuda nos intervalos, vai ao inglês, perde seu tempo na bosta do orkut, depois escreve algo bem ruim aqui nesse blog. Uma grande bosta com algumas manias bem corriqueiras. Um pedaço de merda que ama, sente saudades e dorme bastante. Ah, se eu soubesse que minhas fezes anteriores tinham sentimentos, como eu tenho, jamais daria descargas novamente.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Choro

Acho que me apaixonei.

Todas as vezes que olho prá ela, vejo meu mundo vazio, esperando que ela consiga preencher cada pequeno espaço de inutilidade que vive em mim. Não paro de cheirar o cabelo dela, cabelos bem pretos, sedosos. E quando ela olha prá mim, eu não tiro os olhos dos olhos dela. O significado da vida está dentro daquelas bolinhas negras, que olham dum olho meu, para o outro, rapidamente. A bochecha gorda, que delicia de bochecha, boa de apertar, de morder. A boca de lábios finos, que me manda beijinhos no ar. Os beijos, agarro com a mão e levo até o peito.

Tão pequenina. Tão carismática. Tão adorável.
E o melhor de tudo: nunca chora.
Quem chora sou eu, de orgulho.
Meu maior receio era esse, ter um filho chorão.
Ela me vê e sorri, sem choros.
Acho que nasci prá ser pai.

domingo, 14 de março de 2010

Silicone

Eu tinha severas dores nos braços e nas mãos, principalmente quando estava frio. Achei que podia ser uma L.E.R. causada pela digitação excessiva, por isso fui a um especialista. A agenda do médico era bastante concorrida, só fui consultado 3 meses depois das primeiras vezes que quis morrer para parar de sentir aquele diabo no meu corpo. Acredite: em 3 meses as coisas podem piorar muito. Eu já não usava mais as mãos, para evitar maiores problemas.

- Bom dia, João.
- Bom dia, doutor.
- Dores fortes nos braços?
- Acho que é de digitar.
- Ainda digita?
- Mal segurar o garfo eu seguro.
- Está sentindo dor agora?
- Não só agora, mas como há 5 minutos atrás e como daqui a uma meia hora. Sentir dor é um estado, que nem estar vivo.
- Te encomoda?
- ... (eu pensava: é claro que encomoda, seu retardado!) já me acostumei, dói bastante.

O exame demorou, raio-x, aperta ali, aperta aqui... e eu sentindo dor.

- É um caso clássico de artrite simétrica.
- ... e tem cura?
- Desde quando você sente dores?
- Há uns 4 meses.
- Se você tivesse vindo aqui há 3 meses, poderiamos curá-lo quase que imediatamente, mas há cura sim, só vai demorar.
- ... (ah, é sério? você acha que se você tivesse espaço na sua agenda, eu iria escolher esperar 3 meses?) e qual é o próximo passo?
- Exercício. Darei uns medicamentos para você parar de sentir dor, mas, no montante, exercício.
- ... (exercício... gostei... eu precisava que alguém me empurrasse, alguém que me animasse a sair do sofá. aproveito e paro de fumar, faz tanto tempo que quero largar esse vício nojento!) academia?
- ... (pendeu para o lado, procurando alguma coisa na gaveta. dela, tirou uma bola azul.) Não, é só apertar essa bola.
- Como assim?
- Aperte. Todos os dias. Vamos fortalecer os seus músculos, assim você não precisa usar somente as articulações do corpo, são elas que estão debilitadas.
- Apertar?
- Isso.
- ... Só isso?
- Aham. Ah, acho melhor você pedir umas férias. Trabalhar, agora, é perigoso.

E tomei férias. Apertando. Todos os dias. Sentado no sofá, assistindo a televisão, entediado. Apertando até cansar. Daí trocava de mão, e apertava mais. E apertava. De vez em quando recebia visitas. E eu morria de felicidade, pois o tédio caseiro estava me deixando maluco. Mas logo morria de ódio, pois todas as vezes alguém falava da merda da minha bolinha azul. Porra, eu não estou com ela por gostar dela. Eu odiava a bola azul.
Um dia, Maria foi me visitar, ela não zombou da bolinha, fiquei feliz o dia todo. Maria veio me contar que queria aumentar os seios, mas não tinha dinheiro. Que estava descontente, pois o namorado dela tinha traido-a com uma amiga (a amiga, obviamente, tinha seios 3 vezes maiores do que os da Maria). Coitada, menina bonita, magrinha, gente boíssima, mas sem peito. Eu não tenho problemas com mulheres sem peito, mas ela tinha. Pobre Maria. Pobre de mim, tinha que ficar apertando aquela maldita bolinha.

- Alô?
- Maria?
- Isso...
- Oi, é o João.
- Oi, João, como está o braço?
- Ah, que nem estava ontem... e anteontem.
- Ah, domingo estava bom, não estava?
- Estava, mas choveu, ficou frio. Piorou de vez.
- Coitado.
- Sobre coitado... Como vão os peitos?
- O quê?!
- Desculpa... Abordagem errada. Começo de novo. E o silicone, resolveu se vai por mesmo?
- Resolvido! Chutei o namorado, aquele filho da puta. Quero ficar gostosa, para ele babar e ver o que perdeu.
- ... (Kelly Key?) E a grana, conseguiu?
- Não, de acordo com meus planos, consigo pôr o silicone no final de abril.
- Pô, 7 meses...
- Ah, pelo menos estarei feliz. Eu espero.
- Maria, te liguei para fazer um convite, no mínimo, inusitado.
- Ah, João, fale. Nós somos melhores amigos, nada em você me impressiona.
- E se eu pagasse teus peitos?
- Como assim?!
- Ai meu Deus... como eu digo? Fico até com vergonha.
- Hahaha. Desembucha, homem!
- É que... eu cansei da bolinha. Pensei que se eu pagasse teus peitos, eles seriam meus. Daí ia poder apertá-los, em vez de ter que apertar a maldita bolinha azul.
- ... (que merda. ficar em casa assistindo TV tem feito mal para a minha cabeça. é óbvio que ninguém ia aceitar uma idéia idiota dessas.) é uma troca, não é?
- ... (fiquei impressionado. digo o que?) ah, sem maldade. É só para eu melhorar sem me entediar.
- Não seria a primeira vez que você faria isso, seria?
- Hahaha. Contando nosso namoro?
- Vou pensar, João. Obrigado pela oferta.
- Beijo.

Tá, a gente não espera que ofertas sem pé nem cabeça surtam efeitos. Seria quase como chegar para o chefe e, em troca da presidencia da companhia, dar a própria mulher para ele comer. Chefe nenhum aceitaria isso. Mas a Maria aceitou. Aceitou e eu apertava. Apertava. Apertava. Enquanto eu assistia a Globo ou enquanto ela tentava estudar. Até que as dores pararam. E ela perguntou o que seria de nós. Eu inventei que o médico queria que eu não parasse de apertar. Então eu apertei.
O tempo passou. Eu apertando, até que esqueci o motivo. Resolvi que, como era meu, eu podia apertar, podia por a boca, podia me divertir. E eu me diverti. Pobre Maria, que tinha grandes e deliciosos seios, mas acabou sendo a minha escrava. Pobre da bolinha, que ficou esquecida embaixo do sofá.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Adjetivo

- Nossa, que preta gostosa!
- Que horror!
- O que?
- O jeito que você fala!
- Ah, gostosa mesmo. Falo de boca cheia.
- Não é isso...
- É o que?
- Preta... que pejorativo.

É incrível como as pessoas tem medo de algumas palavras. Chamar um negro de preto é chamar um negro de macaco. Gordo, temos que chamar de cheiinho. Feio, chamamos de estranho. Deficiente, chamamos de especial. Isso é dissumular a moralidade. Adjetivos que assustam, pois são considerados incisivos demais.
Esse é meu problema, não ter papas na língua. Não é ser mal educado, não mesmo. É saber usar o adjetivo sem medo. O preto é preto, o gordo é gordo, o feio é feio, o deficiente é deficiente. Aliás, sobre os negros, qual é o mal de falar sobre a cor deles? Ser preto é bonito! Assim como ser branco, mulato, amarelo, pardo, o é. O povo quer tentar se mostrar não-racista, mas acaba sendo, hipocrisia a dar com o pau!

E digo de boca cheia: Era preta e, sobretudo, deliciosa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O amor é cego

Você fica tão bela quando eu estou na merda.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lua cheia

Um lugar bonito
As luzes se apagam
Eu perdido nas ruas
Então vamos dançar sobre essas folhas caídas
Na música alta, eu sou o compasso
Sob os meus pés, a terra queima.

Eu não sinto mais nada
Além dos pés doendo
E a memória em flashes
Se resumindo ao longincuo e pacífico ontem
Sozinho, como todos os dias
Cansado de viver.

Quem sabe a chuva lave essa alma
Essa alma imperfeita
Essa alma pecadora
Mas a Lua cheia me diz
Que hoje não tem banho
Que hoje não tem chuva.

domingo, 7 de março de 2010

Zumbido

"Que estranho... Eu que sempre gostei do silêncio estou incomodada com esse barulho." Ela reclamava sobre o zumbido que o silêncio fazia.

E o zumbido ficou forte de novo, entrando nos nossos ouvidos.

"Eu posso falar, se vocês quiserem." Ele falou, tentando ser engraçado, tentando ser útil.

Zumbido.

"Esse silêncio está me deixando com dor de cabeça." Eu falei.

Zumbido.
Zumbido.
Zumbido.

"Ah, vou pegar uma cerveja. Alguém quer?" Ninguém me respondeu. Abri a geladeira que sempre estava recheada de Kaisers, mas no momento tinha Skols, para a minha alegria.

Zumbido.

"Alguém fala alguma coisa?" Ela disse.

Zumbido.

"Eu vou embora." Ele disse.
"Por que?" Eu perguntei.
"Sei lá, tá tarde, tá silêncio..." Ele respondeu.

Zumbido.

"Tchau." Ela disse.
"Tchau." Ele respondeu.
"Deixa a chave na porta, não precisa trancar." Eu disse.

Zumbido.
Ela deita no meu colo, sem dizer nada e o zumbido some.
Eu deito ao lado dela, no sofá apertado, colando o nariz.

"Você está cheirando a cerveja." Ela sorri. Os lábios dela tocavam os meus quando se mexiam.
"Desculpa, quer que eu saia daqui?" Perguntei, preocupado. Meus lábios tocavam os dela quando se mexiam.
"Não quero não." Ela sorriu de novo.

Nos beijamos. Nos beijamos como adultos bem resolvidos, não como adolescentes impulsivos. Sabiamos o que estávamos fazendo. E só nos beijamos.

O som das nossas respirações ofegantes, dos nossos corações acelerados, das nossas bocas se beijando, das minhas mãos passando pelas costas dela.
Silêncio, do mais puro, sem zumbido. Uma explosão de sentidos e barulhos quase imperceptíveis. Do tipo que nós dois gostávamos.

sábado, 6 de março de 2010

Eu tenho a impressão de que quero que você fique mais um pouco

Eu estava atrasado, como sempre. Sentei ofegante, larguei a mochila no assento vazio do meu lado. O ônibus já andava, enquanto eu ia me arrumando. Liguei o iPod, pus uma música triste para tocar. Senti o escuro, vi o meu carro no estacionamento da rodoviária pela janela. E sorri, pensando que eu sempre dou tchau para a mãe, para o Leo, para os gatos, para os avós, mas nunca para o carro. E me desatei a chorar. Três ou quatro lágrimas de puro sofrimento. A injustiça violando a minha carne, meu peito se quebrando, os meus olhos desatentos degustando as escuras ruas de Curitiba. A dor de gostar de casa. A dor de gostar da família. A dor de achar que não é justo ter de ir embora quando não era hora. Queria ficar mais uns dias, até enjoar do cheiro forte da urina da gata dominando a casa, até enjoar da falta de amigos, até enjoar das tardes inúteis, até enjoar de ser o chofér. Queria aproveitar por mais uns dias o falatório eterno do irmão, do carinho da mãe, do gato gordo esquentando os pés de madrugada, das tardes de seriado rechados de Ruffles e Coca-Cola. Mas acaba. Tudo acaba. E injustiçadamente, tive que voltar.

Tive que aprender a defletir a dor. Foram indas e vindas de injustiça, de saudade, de desgosto. Agora sou invulnerável às dores. Todas elas. Foi por isso que eu escolhi nunca mais amar, pois o amor machuca, o amor deixa marcas que demoram a sair. Foi por isso que eu escolhi viver sem Deus, pois Deus sabe desapontar os fiéis, Deus nem sempre é fiel. Eu sei não sentir dor.

Boca cheia

Caralho! Caralho mesmo. Queria usar uns palavrões pra falar alguma coisa útil, pra falar da beleza de alguém, pra falar do meu maravilhoso dia, pra falar que eu tenho saudade da mamãe. Mas tudo que eu sei fazer é falar a porra do palavrão. Não quero ser educado, quero só usá-los de maneira útil. Não me basta falar que tudo é uma bosta, quero sair do lugar, fazer alguma coisa nova. Estou a cara do pai, chingando ao léu, enchendo a boca de palavrões. Depois fica uma porra pendurada nos dentes e eu não sei o motivo. É esse excesso de coisa feia.

E... Puta que o pariu... Eu não escrevi nada de novo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O verão não foi o mesmo sem você

Esse clima agradável, o Sol quente nas costas.
O inverno chegando.
Os céus do fim de tarde alaranjados.
Esse clima agradável é lealdade que escolhemos.
E a lealdade é uma bosta.

É sempre sobre as escolhas que fazemos.
Desde que as bilhões de portas se abriram, tudo ficou tão devagar.
E todas as escolhas se tornaram questionáveis.

Se eu quiser, meus problemas vão embora, desde que eu fale as palavras certas.
São lições que eu aprendo enquanto encaro a Lua.
E a lealdade é uma bosta.

terça-feira, 2 de março de 2010

Love and love and happy afternoons

Once I had a love

And it was a gas.


Soon turned out she had a heart of glass.

A cama chegou

Um mar de ódio envadia o ser. Suei tanto que achei que ia secar para sempre. Ódio, raiva, o sentimento de se sentir inválido, enganado. Meu coração pulsava zilhões de vezes por segundo. Daí a mão amiga me toca o peito, arranca minhas costelas e aperta meu coração. Aperta bem forte, achei que ia explodir, mas não, foi parando. Segundo após segundo os zilhões de batimentos iam tendendo ao batimento nulo. Até que parou. Fez-se o silêncio. Eu morri. A mão amiga me bota as costelas no lugar, apoia-se no meu ombro e diz "Calma, está tudo bem." E o coração voltou a bater, de pouco em pouco. Até que sorri, calmo.