quarta-feira, 20 de abril de 2011

O gatuno

Quando ele deita nos meus braços eu sinto que o amo. Quando estamos longe, mal lembro dele. Exceto quando estou com frio e sinto que um gato gordo podia esquentar meus pés gelados. Mas quando ele deita nos meu braços, eu tenho certeza do que sinto. São tantos anos ao lado do felino que eu não consigo me imaginar amando um cão que pula e late e faz festa. E quando as pessoas falam que gatos são frios e solitários e egoístas, não digo que mentem, pois os amantes dos gatos acabam aprendendo o que são os gatos: frios e solitários e egoístas. E o dono acaba se tornando um gatuno, tão frio e solitário e egoísta quanto o próprio animal. E ao mesmo tempo quente. Quente e aconchegante e tão amável e adorável quanto ele quiser ser. Basta um cafuné e uma cama, uma lembrança e um sentimento. Eu realmente o amo. E eu consigo sentir, toda vez que ele deita a cabeça no meu peito nu, que ele realmente me ama. Assim a gente consegue viver. De amores parcelados e oportunistas, solitários e egoístas, mas tão quente que todo o mundo pode ver.