domingo, 26 de dezembro de 2010

Reversibilidade

"Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça,
Os soluços, o tédio, o remorso, as vergonhas,
E o difuso terror dessas noites medonhas
Que o peito oprimem como um papel que se amassa?
Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça?

Ó Anjo de bondade, já viste o rancor,
As mãos em gesto aflito e as lágrimas de fel,
Quando brande a Vingança o seu apelo cruel
E de nossas virtudes torna-se senhor?
Ó Anjo da bondade, já viste o rancor?

Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios,
Que, ao longo das paredes do asilo alvadio,
Como exilados vão em passo tardio,
Movendo os lábios e buscando a luz dos círios?
Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios?

Ó Anjo de beleza, as rugas já não viste,
Não viste o medo da velhice e este suplício
De ler esfíngico pavor do sacrifício
No olhar que outrora no saciou a gula triste?
Ó Anjo da beleza, as rugas já não viste?

Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões,
Davi da morte se teria levantado
Sob os eflúvios de teu corpo enfeitiçado;
Mas a ti só imploro as tuas orações,
Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões!"

Charles Baudelaire

sábado, 11 de dezembro de 2010

Prazer da guerra

Se me pus como poeta
Hei de brigar comigo
Para que saiam os versos.

Dizem que ser poeta é inspirar.
Pouco sabem que de inspiração
Não há nada na poesia.

Há uma batalha ideológica.
A épica guerra entre
A mente que gera o texto
E a mão que traduz o pensar.

A guerra advém da mão
Que não aceita a escravidão.
Não a mente, diz a mão.

A mão gosta de escrever,
Ela não aceita ditados.
Que ódio tem dos ditados.

A mente é ditadora,
Diz pra mão que é o poeta.
A cabeça é a poesia.

Mas não fosse a ditadura,
Que seria da poesia
Senão anarquia da mão?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Serenata

Resolvi seguir os conselhos da mãe. Estava eu com meu violão embaixo da janela dela. Era minha última tentativa. Se uma serenata não funcionasse, nada funcionaria. Que besteira, serenatas. Eu falei: Mas mãe, serenata? Que coisa mais jacu! Ela respondeu: Ai filho, você não entende nada de mulher, não é mesmo?
Ela entendia, eu não, então eu toquei uma belíssima música que falava sobre o amor e a necessidade de ela morar em meu coração. E ela riu, gostou da atitude, e respondeu: Que merda de música, hein?
Gosto musical é algo muitíssimo pessoal. Queria poder dizer: gosto é que nem cu, cada um tem o seu. Mas eu estaria mentindo. A maioria, digo graaaande maioria, das pessoas tem o mesmo cu fedorento, ou seja, o mesmo gosto musical fedorento. É que, hoje, o gosto musical não está relacionado à qualidade musical. As pessoas não estão conectadas pela música do mesmo modo que estão conectadas a escritores, por exemplo. A música deixou de ser arte e passou a ser som de fundo, ou som de dança. Essa é a merda, todos conhecem as mesmas músicas que, artisticamente falando, são péssimas. Todas as pessoas cantando unissonicamente uma música ruim.

sábado, 20 de novembro de 2010

Arte, cultura e conhecimento

Minha vida é cheia de arte. Mas acho que isso não quer dizer nada, quer? Eu digo, sou escritor, tá, eu escrevo, eu leio, eu ouço música, eu assisto webdocs, eu assisto timelapses, eu assisto curtas, eu assisto animações, eu vou ao museu e gosto de ver galerias pela internet, seja do que for. Mas isso quer dizer alguma coisa? Escrever quer dizer que eu penso mais do que o cara que não toca numa caneta nem para assinar o nome? Assistir tudo o que eu assisto me faz mais culto que o mendigo bêbado da rua? Afinal, até onde a arte nos leva, no quesito "evolução humana"? As vezes acho que estou aqui, matando tempo. Enquanto podia estar estudando, estou assistindo seriados (que no fundo também é arte), estou em blogs que fazem referência a arte, estou ouvindo música e descobrindo coisas novas. Eu estou sempre cavando o mundo artistico afim de descobrir uma vida nova, novos conceitos e novas experiências. Mas isso me faz mais humano? Até onde a arte nos leva? Aliás, eu posso me chamar de escritor? Que droga...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eu não preciso de você

Eu queria contar para todo mundo. Gritar para um Brasil as minhas histórias. Queria que o planeta inteiro soubesse da minha primeira vez. Você nos meus braços, ou eu nos teus, depende do ponto de vista. E nós dois no escuro, sentindo calor, sentindo o perigo e errando de novo. Era a primeira vez que eu sentia de novo. Eu só queria gritar e fazer você ouvir. E era a primeira vez pela vigésima vez ou trigésima, eu sou péssimo em matemática, quando relacionada a minha vida. Acho que fecho minha memória e acabo esquecendo tudo, as dores, os amores, as primeiras vezes. Por que eu tenho que sempre fazer o mesmo drama? Pela primeira vez eu estava certo que tinha que haver algo mais. Eu estava morto e agora estava vivo de novo. Pela primeira vez, de novo, eu sorri, errando e fazendo a coisa certa.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Agrupamento social

A sociedade individualiza cada um de seus constituintes. Fazendo com que o todo se divida em um só. A multidão é cada ser humano, com seus sonhos e defeitos e memórias e loucuras. Cada ser humano uma mente pensante. E cada ser pensante, pensando no todo, ou seja, na sociedade. Como fazer a sociedade progredir. Como fazer com que a sociedade goste do ser pensante. Como a sociedade está agindo sobre cada um desses seres. A sociedade individualiza cada ser pensante, mas, indeferivelmente, organiza seus indivíduos de forma a que eles formem um grupo de semelhantes. E cada um, cada indivíduo, deixa de ser único e especial, afinal é igual a todos os outros seres pensantes do seu grupo social.

Aqui em casa, somos quatro. Um é o arquiteto, o chefe da família. O Chefe pensa como um executivo em decadência e extremamente estressado. Os chefes de família são assim, estressados e preocupados. Muita gente é assim. Outra é a administradora. A Administradora pensa como uma administradora, o que é a coisa mais comum, afinal o indivíduo pensa e age de acordo com a sua ocupação social. O Chefe só não pensa como arquiteto por ser, acima de tudo, o chefe da família. A Administradora está sempre a propor novos meios de empreendedorismo e tenta, de todos os jeitos possíveis, organizar o caos que é essa família. Mas o resto não está agindo como se essa casa fosse uma empresa, então a Administradora se empenha futilmente a obter lucro desse negócio mal sucedido. O filho menor é o estudante, que por um motivo específico teve de deixar de ser o estudante e tornou-se debilitado. O Debilitado age como um debilitado, pensa como um debilitado e está vivendo como um debilitado. As custas da boa vontade do tempo, espera que o mundo mude, enquanto ele não pode fazer muita coisa senão pensar positivamente sobre a sua verdadeira identidade, o Vestibulando.
Eu, o estudante de engenharia que de quando em quando escreve, sou o Escritor Decadente. O Escritor Decadente, como todos os outros escritores decadentes do país e do mundo, se propõe a ver e assistir o mundo em prol da sua literatura imaculada. Mas, infelizmente, o Escritor Decadente não sabe ou não se lembra de escrever, o que faz dele um Engenheiro Desempregado.

Todos os indivíduos, com os seus pensamentos e teorias e sentimentos, são semelhantes a indivíduos de um mesmo grupo. Os Chefes estressados, os Administradores ocupados, os Debilitados desanimados e os Escritores Decadentes pensando sobre a sociedade e sobre cada cabeça, sobre cada ser pensante.

Pensando bem, que besteira...

sábado, 23 de outubro de 2010

Vive le demócratie

Porra! Passa a vontade de democracia. Ou a vontade de ter vontade própria. Porque vontade própria, usualmente, acarreta em um sentimento de frustração. E eu to frustrado. Maldita política e seus fanfarrões. Acho que a política é feita de fanfarrões loucos pra cuspir nos nossos rostos e rir das nossas caras babadas. Babadas, por não falar ranhadas, ou uma coisa mais nojenta. Se é que a palavra ranhada existe. Enfim, a porra toda da democracia me parece um diabo que nos fode o cu enquanto achamos que nossas bundas estão protegidas por papéis higiênicos de dupla face. Tolos. Somos todos tolos. Enquanto nos limpamos, os filhos da puta que nós democratizamos, se é que a palavra democratizamos existe, estão lá, vivendo na realeza no auge do seu poder. E nós, os tolos, estamos acreditando futilmente que os filhos da puta vão mudar alguma coisa. E no fundo, não importa. Pode ser vermelho, pode ser amarelo, pode ser azul. Pode ser comunista, pode ser capitalista, pode ser nem cá nem lá. A bosta é a mesma e vai chegar nos nossos narizes e vamos todos morrer afogados em mágoas... ou em merda. Vamos votar. Em branco, em nulo, em alguém. A bosta vai ser a mesma.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pugilista sofre concusão cerebral

Eu sei que não tenho esse hábito de fazer posts relacionados a "vida cotidiana". Mas não pude deixar essa notícia passar em branco.
Vi uma foto no dia 15/10 de dois lutadores de boxe. Não sou chegado no esporte, mas gosto de ver a seção "Fotos do dia" de alguns sites de notícia.
http://f.i.uol.com.br/fotografia/2010/10/15/22753-970x600-1.jpeg
O pugilista Shannon Briggs, em toda a sua exposição de músculos, disputava o cinturão dos pesos-pesados com o ucraniano Vitali Klitschko. Klitschko, na foto, se mostrou calmo e preferiu demonstrar humildade.

Bukowski, em uma crônica para a revista alternativa Open City, escreveu sobre as lutas de boxe. Ele dizia que o lutador que entrasse no ringue fazendo o sinal da cruz, ia perder. Também dizia que o lutador que ficasse pulando prum lado e para o outro, também ia perder. E que, normalmente, o cara que fazia o sinal da cruz, ficava pulando de um lado pro outro. Enfim, ele dizia que quanto mais exibido era o lutador, mais chances ele tinha de perder.

Dois dias depois de eu ver Shannon Briggs na foto, dia 17/10, leio a seguinte notícia: Derrotado na disputa pelo cinturão dos pesos-pesados, americano tem concussão cerebral.
Eu não lembrei da existência da foto que tinha visto dois dias antes.
Mas hoje de manhã, estava tomando banho e relacionei a foto com a notícia do pugislista machucado. E de fato, Shannon Briggs deu um rugido pros fotógrafos, fez o sinal da cruz, pulou feito cabrito no ringue e acabou internado num hospital.

Façam suas apostas, o mais humilde ou o mais confiante?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Juiz

Eu sou depressivo e não sei lidar com esperança. Eu vi o mundo acabar e eu acabei. A solidão pode acabar com um caráter. A solidão pode construir um diabo. E aqui estou eu, querendo a solidão, pois eu não consigo mais viver na sociedade. Todos os homens me mordendo, me arranhando e fazendo chiados parecidos com o barulho de gatos ariscos. Eu fraquejei. Eu desisti. Eu não sei mais se Deus existe, ou se a felicidade, sobretudo ela, existe. E quando desistimos significa que queremos o fim, o egoista e sem sentido fim. E se tudo acaba, o que sobra é mais sofrimento. Então nunca acaba, pois a solidão ensina que o único que deve sofrer é aquele que merece o sofrimento. E eu, sofredor, sou culpado. Auto-julgado, sou culpado. Juiz de mim mesmo, conseguindo rever os conceitos enferrujados de uma revolução mal sucedida. À revolução, à solidão, ao bom Deus que um dia me trouxe a felicidade. À felicidade de todos nós. Ao juri culpado, que sente muito em não conseguir fazer nada. À família e, no fundo, somente à ela.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Time. Sometime.

"O amor é um caminho com algum significado; o sexo já é significado suficiente."
Charles Bukowski

E nós dois eramos mais que isso. Mais que um significado, mais do que um caminho. Era um mundo todo que era muita coisa. E eu bati as asas em busca da luz. Nós tinhamos luz. Vazio como uma mariposa, eu voava. Voava sem nenhum plano de voo. Como confiar em algo que voa sem saber para onde? Eu só queria luz para inundar esse vazio escuro dentro de mim. Batendo nas paredes brancas enquanto você me chamava, perdendo o meu pó, que é meu sangue, nas minhas fugas por sobrevivência. E o vazio se tornou cheio. Cheio demais. A mariposa, que antes voou para qualquer lado, agora se contorce no chão, torrada pela lâmpada incandescente. E você vai ver que eu era só um bicho desengonçado que você tinha orgulho de amar. Nós dois eramos maior do que os outros. Mas não eramos maior do que eu. E talvez, algum dia, eu te diga o que você quer ouvir.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Namoro

As coisas mudaram. Os relacionamentos mudaram. Hoje, beija-se. Nada de amor, sentimento, paixão. Uma putaria infindável, sexo e prazer. E, ao meu ver, isso é bom.
As coisas mudaram. Hoje, as pessoas são como robôs com órgãos genitais e uma vontade de transar que não acaba mais. Sexo, drogas e a música que estiver tocando. Os relacionamentos mudaram. Ninguém quer dar a cara a bater. Ninguém quer sentir. Ninguém quer chorar. É tudo sobre o coração, sobre estar bem consigo mesmo.
Antigamente, lááá atrás, os casamentos eram arranjados no berço pelos pais. E ninguém divorciava. Era do jeito que era. Casavam e viviam felizes para sempre. Nem sempre felizes, nem sempre fiéis, mas para sempre. Hoje ninguém casa, quando casa, descasa. Ninguém é feliz por completo. E é essa a essência da existência humanda: felicidade. Deus fez o homem para ser feliz. O problema é que ninguém é feliz. Ninguém é fiel. Ninguém sabe o que é amor.
O mundo inteiro se beijando, mas quando se fala sobre um relacionamento de verdade, um namoro (que antigamente era bobeira, coisa de adolescente), o mundo põe seu pé atrás e pensa sobre o amor. Incrível, as pessoas precisam amar antes mesmo de começar. Ninguém quer se relacionar, pois não ama. É tudo sobre o coração, sobre o amor, sobre ser dois em um só. Ninguém quer chorar de novo, sofrer por alguém. Basta o sofrimento de ser gente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Barulhentos do mundo, uni-vos!

O mundo está repleto de semeadores de idéias, de escritores, de inventores, de gênios do mundo. Esse é o problema, quem quiser ser gênio, é. Me sinto mal escrevendo aqui no blog, mais um escritor de quinta num blog desconhecido, perdido no mundo virtual. Se escrevo bem ou mal, não entremos no mérito, é que todo mundo escreve, seja bem ou mal. Intelectuais do mundo inteiro falando sobre a internet, sobre o casamento gay, sobre transar, sobre ciência, futebol e religião. E eu, um cara de mente aberta, noto que minha mente é minha, só minha. Mente aberta para receber informação por um ouvido e canalizá-la para o outro. Esse é o problema, todo mundo fala muito, mas quase ninguém tem algo bom para falar. Todo o mundo quer gritar, se impor. O mundo inteiro tentando gritar mais alto. Mas por favor, respeitem o meu ponto de vista.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Coisa recente

Era bom eu postar alguma coisa aqui, né? Dar vida a esse pedaço morto da internet. Não que alguém ligue, mas eu ligo. É como se eu admitisse o fim, abrisse o peito para a Morte. Bobeira, só é um blog morto. Mas não tem como, eu não sei mais escrever. Sempre fui meio vazio de idéias e de pensamentos, mas agora atingi um auge catastrófico: cheio de vácuo e só. Sem Deus, só religião. Ando tão murcho de sentimentos que me desfiz completamente da idéia de um Pai, um Grande Criador. Sou eu e a religião, sem Deus nenhum. John Lennon me espancaria se lesse uma coisa dessas, mas é verdade, sem Deus, só religião.
Sem Deus, sem sentido, sem nada. Só mais um dia.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O céu

Acordei num lugar branco e fofo, uma vastidão com aparência de algodão que tomava conta dos horizontes. O céu, sobre minha cabeça, azul claro, limpido e frio. Eu tinha medo de me levantar, pois achava que meu peso podia rasgar ou desfazer o algodão. Uns metros atrás de mim, existia uma montanha fofa desse algodão fofo que escondia o Sol escaldante. Me assustei ao olhar para o lado, onde vi um negro enorme que media uns 2,80m. Seu sorriso era enorme, assim como todo o resto de seu ser, exceto pela cabecinha nanica e careca. Dentes mais brancos que o algodão que pisávamos, olhos mais azuis que o céu que ficava sobre nossas cabeças. Era um negro descomunalmente forte, grande e belo. Se é que existe o termo descomunalmente belo.
- Onde estamos?
- Dia, pequena!
- Nossa! - Foi aí que percebi sua altura ridiculamente grande - Eu diminui?
- Sei lá, xô que não. Sou grande memo.
- Quem é você?
- Teu anjo, fia.
- Esperava menininhos de asas. Aliás, menininhos de asas sem sexo.
- Meninos sem sexo... Interessante. Poisé, eu tenho sexo. - E sorriu lindamente, como se tivesse orgulho da sua masculinidade afro-descendente.
- Onde estamos?
- Em cima da tua cidade. - Eu fiquei parada que nem pedra. Pensei na altura quilométrica que estávamos do solo e apertei o algodão fofo para me segurar. - Cê não vai cair, fia.
- Eu... Mas... Isso...
- Éééé fia, ocê tá no céu! - E sorriu achando que eu ia ficar feliz com a notícia.
- Eu morri?!
- Aaaaai, Pai! - Olhou para a montanha fofa, ou para o Sol - De novo essa baboseira. Poisé, fia, ocê moooorreu. Bateu as botas. Foi dessa prá uma mió. Tá comendo grama pela raiz... Espera, a fia tá no céu... Tá, essa última num conta.
- Mas... morri? Por que?!
- Ah, fia. Seu cérebro parô, seu rim parô, seu coração parô. Tudo parô. Daí ocê veio pará no céu, prá me visitá. - E sorriu de novo. Acho que ele não tinha noção de como desesperador era receber a notícia da morte.
- Mas eu não quero morrer.
- Desculpa, fia. Se ocê veio pro céu, ocê morreu. - Olhou para os pés descalços tamanho 48 e, pensativo, olhou para mim - Se bem que...
- Se bem que o quê?
- Se bem que esse negócio de onde é o céu é bem estranho. Tem gente que acha que aqui não é o céu. Tem gente que acha que o céu é 4 metros em cima da minha cabeça, tem gente que acha que não existe céu... é a Terra e o Espaço...
- Então eu não estou no céu? - Sorri.
- Ai fia, num sei mais di nada. Enfim, a sinhóra podi fica onde ocê quisé. - E a núvem se abriu sob os pés dele. Meu anjo caiu e eu gritei.
- JESUS! Agora estou sozinha nessa imensidão branca! - Daí comecei a rezar um Pai Nosso.
- Ô fia, ocê nunca vai tá sozinha, eu sempre tô contigo. Poisentão, fia, ocê num precisa ficá no céu. Ocê pode desce na Terra.
- E o que eu faço agora?
- Sei lá. Deita aí e pega uma cor, ocê tá branca que tá parecendo um fantasma! - E se riu.

Eu me deitei e deixei uma lágrima rolar. Fechei os olhos e da imensidão branca, fugi para a escuridão plena. Apavorada, abri os olhos, pulando da cama.
- Mãe, o que foi?! - Perguntou-me a filha.
- Quero ir prá casa! - Da imensidão branca à negra. Da imensidão negra àquele cubículo claustofóbico do hospital. O desespero e a solidão me invadiam.
- Já estamos indo, mãe, está tudo bem - A filha sorriu - Você nunca vai estar sozinha, eu sempre estarei com você - E ela deixou uma lágrima rolar, me abraçou e disse: Pai, obrigado!

domingo, 23 de maio de 2010

Tango

Fechou os olhos e se viu fazendo passos que nunca conseguiria fazer de olhos abertos. Com os braços e as pernas entrelaçados com uma belíssima mulher, dançava um tango como qualquer outro: repleto de sensualidade. Seus lábios tocavam a nuca nua da dançarina e as mãos dela subiam as coxas dele. Parecia que era o rei do mundo, um sedutor invulnerável, um garanhão. Ao abrir os olhos, se viu sentado na poltrona. Mastigava uma Ruffles e sugava Coca-Cola por um canudo grosso. Ele era levemente gordo, levemente velho, levemente desleixado. O banho tinha ficado para o dia seguinte, como o sonho de dançar. Fechou os olhos mais uma vez, mas agora foi para cair no sono. E sua musa inspiradora retoma os complicados passos. O violino chora. Ele sorri.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dia das mães e o meu atraso

Àquelas que choraram, que sofreram, que riram e viveram o prazer da maternidade. Ser mãe é mais que uma conquista, é uma luta eterna em busca da perfeição. Os filhos são pequenas bolas de areias que as mães vão limando e fazendo-as crescer. Infelizmente, as bolas ficam pesadas, e as mãos das mães não aguenta o fardo da bola que não pertence mais àquelas mãos frágeis. Frágeis de aparência, mas fortes como toda mãe. Ser mãe é persistir, empurrar a grande bola (que tem seu crescimento exagerado, afinal as crianças crescem e as mães nem percebem: "Nossa, como você cresceu!"), que vai rolando sozinha enquanto corta os seus cordões umbilicais, para um caminho certo. Ser mãe é fazer um caminho certo. E nada mais justo que às guerreiras, que desrespeitosamente as comparo como besouros roladores de bosta, tenham seu dia de glória. Às mães de todo o mundo, às mães de verdade. Ser mãe de verdade não é ser mãe de ventre, é saber amar e criar filhos gratos, que como eu, julgam necessário dizer poucas, mas sinceras, palavras de gratidão: Mãe, feliz dia das mães. Eu te amo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Obviedade

Eu amo o obviamente incorreto. Odeio amar o óbvio. Odeio o óbvio. O óbvio é óbvio. Gosto daquilo que não me pertence, que me foge. Gosto do sofrimento do dia-a-dia. Sou martir e amo o que está na iminência de se perder. Amo aquele que é fumaça, que toma o quarto todo, mas não dá prá pegar. Amo aquele que fica em pé no precipício e sabe que vai cair. Amo aquele que está perdido entre a vida e a morte. Eu gosto de correr riscos. Eu amo o errado, o que eu sei que vai me machucar. Eu amo o que faz a diferença, o óbvio não faz diferença, isso é óbvio. Eu amo ser obviamente incorreto.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ah, Deus, que frio!

Todas as vezes que eu ia viajar, ela chorava. Era como se fosse a ultima vez que iamos nos ver. E nos vimos pela ultima vez por dezenas de vezes, várias dezenas. Sendo que todas elas, ela chorava. Eu acabei me acostumando com ir embora, com ela chorando, com eu me atrasando, com o pessoal se estressando. Da ultima vez que fui, ela chorou, mas ela não sabia que era a ultima vez que ia me ver. Dessa vez , ela não sabe que me viu, mas me viu. Dessa vez, ela não chorou. Nem ela, nem eu. Não que eu não quisesse chorar. Só não consigo. Hoje não consigo rir, nem chorar, nem nada. Só não consigo.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Velhice

Cinco horas da manhã e eu só conseguia pensar na minha velha sozinha no hospital. É verdade que a filha e o filho estavam lá, também é verdade que quem está sozinho sou eu. Se bem que eu tenho esse cachorro. Meu cachorro. Meu filho. Meu verdadeiro e amado filho. Vocês tinham que ver, hoje tinha um monte de lama na rua, eu disse que se ele se sujasse, eu ia dar uma surra nele. Ele foi correndo direto em direção a lama. Eu pensei que era um safado, mas ele desviou da lama e saiu correndo. Ele adora correr. Corre tanto que volta para casa com a linguinha de fora, afobado. Eu tinha alguém. Ela não, ela estava sempre dormindo. Mas que bom que dormia, pois daí ela melhorava. Minha velha só precisava descansar. A minha filha fica chorando, dizendo que a velhinha vai morrer. O outro diz que a culpa de ela estar doente é minha, pois ela está com os pulmões devastados pela fumaça do meu cigarro. Mas não é culpa minha. É culpa do médico que disse para eu voltar a fumar. Hoje eu fumo uns quatro cigarros por dia, mas é só para o remédio de dormir funcionar. Sem o cigarro, eu fico que nem um zumbi pela casa, drogado e andando por aí, sem nem lembrar de nada no dia seguinte. Minha velha não vai morrer, ela é forte. Ela é mais forte que eu. Eu sou meio fraco, meio surdo, meio cego. Ela é forte. Ela não vai morrer. Ela vai estar aqui quando o estádio estiver pronto, pois ela adorava ir assistir jogos de futebol no estádio. Ela vai assistir o Paraná jogar aqui comigo, da janela de casa. Ela é forte. Eu sei disso.

terça-feira, 30 de março de 2010

Mãe

A vida foi passando. E ela foi ficando prá trás. Ela não se contentou e correu atrás da vida, mas, ora ou outra, tinha que cansar. E cansou. Hoje ela acorda cedo, leva meu irmão pro cursinho, fica assisitindo o padre (eu odeio padres de televisão, me parecem sanguessugas, sugando o dinheiro da fé das pessoas, mas ela não está nem aí para o padre, quer saber de Deus) na Band (acho que é na Band) até a hora do trabalho. Passa o dia todo sofrendo, dando o melhor num trabalho que ela nem gosta de fazer. Entre o trabalho e a reza, vem a saúde, seja do vô, da vó, do Leo, o povo aqui não é dos mais saudáveis. E quando a gripe me bate, eu ligo prá ela (é, eu reclamo da gripe enquanto todos tem problemas cardiacos, respiratórios). A vida vai passando e ela vai sendo a base que suporta um mundo inteiro: o mundo dos pais dela, o mundo do marido, o mundo dos filhos, menos o mundo dela. Ela não tem um mundo prá ela.
Um dia ela pode ter sido uma mulher aproveitadora, sacana, safada. Sei lá, não a conheci quando jovem. Sei de agora, enquanto o tempo passa, vai ficando mais pura. Antes não entrava a palavra "ódio" em casa, hoje não pode-se falar mal dos outros. Cada vez mais pura, cada vez mais politicamente correta, mais religiosamente correta.
Eu fiquei pensando sobre o momento em que os mundos que ela segura se despedaçam. Ela ficaria lá, com as mãos para o céu. Não rezando, mas segurando o ar, indignada com o vazio e a leveza do ar. Ficaria estática esperando o céu ruir, pois tudo estaria tão leve.
Agora, neste exato momento, ela está no hospital cuidando da mãe dela. A minha vó está com os pulmões mortos, a pressão está baixa, enfim, ela está internada. A mãe cuida da vó o dia todo, quando a vó dorme, ela cuida das outras pacientes que ficam naquele quarto. E cuida de todo mundo. Pois é por isso que ela nasceu: ser a mãe do mundo, fazer dele um lugar melhor. Ela é tão diferente de mim, que vim prá ganhar dinheiro, basicamente. E agora me dei conta que, se ela quiser, ela tem um futuro para as mãos vazias: que vire enfermeira, que espalhe o monte de amor que ela quer espalhar, pois quanto mais amor ela espalha, mais ela consegue disfarçar o ódio pela vida que ela guarda no peito.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vazio bem cheio

Curitiba. Curitiba. Curitiba. Curitiba. Curitiba. Conseguia repetir quantas vezes fosse necessário o nome da Cidade Ecológica, da Capital da Araucária, da Cidade Sorriso (me pergunto o motivo desse nome, pois os curitibanos são bastante secos), da Europa brasileira, da cidade do transporte público, da cidade dos mil nomes diferentes, mas só me importava um deles: a minha cidade.
Prestava atenção nas luzes, que se pareciam com luzes natalinas, ofuscadas pelas núvens finas que molhavam a cidade, e na loira deliciosa da poltrona da outra coluna do avião. E imaginava os deliciosos restaurantes caros que eu queria comer. Restaurantes que não podiamos ir, pois não podiamos pagar, mas que iremos de qualquer jeito para comemorar a minha estadia na casa da mamãe.
A casa da mamãe, que ela insistia dizer que era minha, nem sempre foi aconchegante, mas agora está um bom lugar para viver. Os animais não tem mais passe livre, não são permitidos gatos nos quartos, pois eles soltavam pêlos e a gata gosta de mijar nas camas, e em todos os restos das coisas. E eu gosto de ficar em casa, fazendo nada, sempre fazendo nada. Esperando para alguma coisa acontecer, não colocando as coisas para fazer numa ordem de prioridade e fazendo-a uma por uma. Um por um, tudo a seu tempo. Muito tempo. Sem fazer. Nada.

Dentição negra

Queria ser negro. Ter aquela cor maravilhosa que os negros tem, um marrom escuro que deixa a pele com a aparência de maciez. Queria ser negro e ter dentes perfeitos e ter um pinto grande. Sim, estou tendo crises dentárias e de pinto pequeno.
Primeiro fui tirar o siso, no consultório, o doutor me pede para escolher entre levar injeção, contra dor e outras coisas mais, na bunda ou no braço. Óbvio que escolhi na bunda, podia doer mais, pois eu não tenho bunda, mas pelo menos eu não veria a agulha. Depois disso, ele me dá bilhões de injeções na gengiva, eram as anestesias. Que dia infeliz da minha vida, eu, menino belonofóbico (que tem fobia de agulhas), estava cercado de picadas eternas.
Depois foi a odontologia. Hoje fui ao consultório do meu ex-dentista, que acabou virando meu dentista de novo, afinal precisarei repor o aparelho. Chego lá e percebo que os dentistas estão cada vez mais impessoais. O doutor me pede para eu vestir um óculos de proteção laranja, que pensei que era uma espécie de óculos escuro e eu não sofreria com as luzes do teto da sala, mas não demorei muito pra perceber que com o tal óculos, ele não conseguia ver minhas expressões de dor. Depois de muito gemer e reclamar, ele me põe um pano preto em cima de mim, daqueles que aparecem em filmes e seriados de médico usados em cirurgia. Pronto, estava eu, debaixo de um óculos laranja e de um pano preto, fazendo caretas de dor à toa. E não foi só a dor que me deixou com caretas, foi o barulho. Aquele barulho classico da pedra pomes girando e tocando no dente, a primeira coisa que pensamos quando pensamos em dentista, acabou se mostrando soft core. Nunca tinha percebido, mas o tal do ultrasom é muito pior, ultrasom é hard core. Aquela agulhinha (mais uma vez agulha) girando a sei lá quantos mil rpm tocando os meus dentes, criando o som mais agudo que já ouvi na vida. O som agudo da pedra pomes sai dos dentes, vai para fora da boca, dá a volta no rosto e finalmente chega nos ouvidos. O som agudíssimo do ultrasom entra nos dentes, entra na cabeça oca e toca direto nos timpanos. Um som claro e limpo e agudo e insuportável. E aquela agulha girando na minha gengiva.

E na vida seguinte, quero nascer preto, só pra não usar aparelho.

sábado, 27 de março de 2010

Uma cama quente e um lençol fedendo a sexo

Ah, vai tomar no cu. Eu, de consciência limpa, só queria tirar a hipocrisia do rosto. Ninguém me deixa sorrir, tenho que fingir que não está tudo bem. E está tudo bem. Só quero sorrir e dormir mais um pouco. Tá, mais bastante. Quero sorrir e dormir. Não quero transar, não quero ficar bêbado, não quero falar merda, não quero me divertir. Quero sorrir e dormir.
Fico aí, vivendo a vida alheia. E como é viver o que não vivo? É passar dia após dia esperando o dia seguinte. O dia da liberdade. O meu dia. Hoje é meu dia. Acordei tarde, sem querer acordar. Adoro dormir. E sorri. Que bom que estou feliz de novo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Orgasmo

Eu morri. Cai nos braços dela, parecendo a queda de um corpo baleado. Morri e ela ria, surtando com o acontecido. Ela jamais imaginaria que poderia ser tão feliz, tão completa. E eu morto. E ela rindo, suando. Cai nos braços, e do jeito que cai, fiquei. Morto mais uma vez, mas dessa vez era prá sempre. Ela me afaga o cabelo suado e me pergunta, toda sorridente: Foi tão bom prá você, como foi prá mim? E eu, uma massa estática que respira, comecei a roncar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Querido diário

Nível de stress elevadíssimo.
Quero Curitiba.
Agora.

sábado, 20 de março de 2010

Seriados

Um era The O.C., outro era Skins. E se davam bem, se gostavam bem. Eram unha e carne, sempre companheiros, pro bem e pro mal.
E um dia, os críticos falaram: Skins é um The O.C. real. Skins é uma juventude de verdade. The O.C. é a utopia dum diretor bem sucedido.
E se afastaram. Porque um era o sonho de toda pré adolescente: amor e intrigas, esportes e dinheiro; o outro era de verdade, de ressacas e de sexos.

Ódio e a sensibilidade dum ex-apaixonado

Ela me amou, por poucos dias, mas me amou. Eu a amei eternamente. Até que meus dias se resumiam a ela e seus cabelos e seus beijos e seu pescoço e seu cheiro. Mas acabou. Ela fodeu com tudo. Várias vezes. E foi ótimo. Foi ótimo quando ela pisou no meu peito com aquele Scarpin roxo, que ela só usava prá sair comigo. Não só estrangulou o meu peito, como também rompeu as veias do meu coração. E de dentro dele, ela saiu. Saiu tudo o que pertencia a mim, tudo o que eu não queria perder. Eu perdi. Perdi e sou feliz. Pois ela fodeu com tudo e isso me fez odiá-la. Que bom que odiei, pois o ódio me fez ver quem ela realmente era. O ódio sempre me fez mais sensato, mais recluso, mais perfeito. Perfeito é o caralho, ela dizia, eu era um retardado que sofria à toa. E sofri até meus deuses sumirem. Até o quarto ficar escuro, as cortinas se fecharem. Até a solidão completa me encontrar. Coragem, nobre filho, disse a mãe. E eu abri as janelas, arrumei a cama, segui em frente. E se segui, foi por culpa dela. Ela fez esse bem. Hoje eu não a odeio. Hoje eu entendo-a. Hoje eu sou eu, não ela. Só queria saber, quando é que vamos foder de novo?

Henry Chinaski e minha barriga

Me sinto Henry Chinaski, personagem auto-biográfico de Charles Bukowski. Quando criança, Henry tinha vergonha de ir ao banheiro na escola, quando chegava em casa, já passava a vontade de fazer as necessidades. E dia após dia, sua vontade de cagar era maior, e seu nojo e vergonha de ir ao banheiro ficava maior.
Não tenho vergonha. Mas me sinto um pequeno Henry. Cheio de bosta dentro de mim. Minha barriga está quilométrica, não sei o que fazer. Pensei em laxantes e chás, mas não me entra na cabeça a possibilidade de passar o dia inteiro cagando. No fundo no fundo, acabei me tornando uma grande merda ambulante. Não é que nem o pai dizia: Seu bostinha. É que nem a mãe falava: Seu merdão!
Um grande pedaço de merda que vai à faculdade, assiste às aulas, estuda nos intervalos, vai ao inglês, perde seu tempo na bosta do orkut, depois escreve algo bem ruim aqui nesse blog. Uma grande bosta com algumas manias bem corriqueiras. Um pedaço de merda que ama, sente saudades e dorme bastante. Ah, se eu soubesse que minhas fezes anteriores tinham sentimentos, como eu tenho, jamais daria descargas novamente.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Choro

Acho que me apaixonei.

Todas as vezes que olho prá ela, vejo meu mundo vazio, esperando que ela consiga preencher cada pequeno espaço de inutilidade que vive em mim. Não paro de cheirar o cabelo dela, cabelos bem pretos, sedosos. E quando ela olha prá mim, eu não tiro os olhos dos olhos dela. O significado da vida está dentro daquelas bolinhas negras, que olham dum olho meu, para o outro, rapidamente. A bochecha gorda, que delicia de bochecha, boa de apertar, de morder. A boca de lábios finos, que me manda beijinhos no ar. Os beijos, agarro com a mão e levo até o peito.

Tão pequenina. Tão carismática. Tão adorável.
E o melhor de tudo: nunca chora.
Quem chora sou eu, de orgulho.
Meu maior receio era esse, ter um filho chorão.
Ela me vê e sorri, sem choros.
Acho que nasci prá ser pai.

domingo, 14 de março de 2010

Silicone

Eu tinha severas dores nos braços e nas mãos, principalmente quando estava frio. Achei que podia ser uma L.E.R. causada pela digitação excessiva, por isso fui a um especialista. A agenda do médico era bastante concorrida, só fui consultado 3 meses depois das primeiras vezes que quis morrer para parar de sentir aquele diabo no meu corpo. Acredite: em 3 meses as coisas podem piorar muito. Eu já não usava mais as mãos, para evitar maiores problemas.

- Bom dia, João.
- Bom dia, doutor.
- Dores fortes nos braços?
- Acho que é de digitar.
- Ainda digita?
- Mal segurar o garfo eu seguro.
- Está sentindo dor agora?
- Não só agora, mas como há 5 minutos atrás e como daqui a uma meia hora. Sentir dor é um estado, que nem estar vivo.
- Te encomoda?
- ... (eu pensava: é claro que encomoda, seu retardado!) já me acostumei, dói bastante.

O exame demorou, raio-x, aperta ali, aperta aqui... e eu sentindo dor.

- É um caso clássico de artrite simétrica.
- ... e tem cura?
- Desde quando você sente dores?
- Há uns 4 meses.
- Se você tivesse vindo aqui há 3 meses, poderiamos curá-lo quase que imediatamente, mas há cura sim, só vai demorar.
- ... (ah, é sério? você acha que se você tivesse espaço na sua agenda, eu iria escolher esperar 3 meses?) e qual é o próximo passo?
- Exercício. Darei uns medicamentos para você parar de sentir dor, mas, no montante, exercício.
- ... (exercício... gostei... eu precisava que alguém me empurrasse, alguém que me animasse a sair do sofá. aproveito e paro de fumar, faz tanto tempo que quero largar esse vício nojento!) academia?
- ... (pendeu para o lado, procurando alguma coisa na gaveta. dela, tirou uma bola azul.) Não, é só apertar essa bola.
- Como assim?
- Aperte. Todos os dias. Vamos fortalecer os seus músculos, assim você não precisa usar somente as articulações do corpo, são elas que estão debilitadas.
- Apertar?
- Isso.
- ... Só isso?
- Aham. Ah, acho melhor você pedir umas férias. Trabalhar, agora, é perigoso.

E tomei férias. Apertando. Todos os dias. Sentado no sofá, assistindo a televisão, entediado. Apertando até cansar. Daí trocava de mão, e apertava mais. E apertava. De vez em quando recebia visitas. E eu morria de felicidade, pois o tédio caseiro estava me deixando maluco. Mas logo morria de ódio, pois todas as vezes alguém falava da merda da minha bolinha azul. Porra, eu não estou com ela por gostar dela. Eu odiava a bola azul.
Um dia, Maria foi me visitar, ela não zombou da bolinha, fiquei feliz o dia todo. Maria veio me contar que queria aumentar os seios, mas não tinha dinheiro. Que estava descontente, pois o namorado dela tinha traido-a com uma amiga (a amiga, obviamente, tinha seios 3 vezes maiores do que os da Maria). Coitada, menina bonita, magrinha, gente boíssima, mas sem peito. Eu não tenho problemas com mulheres sem peito, mas ela tinha. Pobre Maria. Pobre de mim, tinha que ficar apertando aquela maldita bolinha.

- Alô?
- Maria?
- Isso...
- Oi, é o João.
- Oi, João, como está o braço?
- Ah, que nem estava ontem... e anteontem.
- Ah, domingo estava bom, não estava?
- Estava, mas choveu, ficou frio. Piorou de vez.
- Coitado.
- Sobre coitado... Como vão os peitos?
- O quê?!
- Desculpa... Abordagem errada. Começo de novo. E o silicone, resolveu se vai por mesmo?
- Resolvido! Chutei o namorado, aquele filho da puta. Quero ficar gostosa, para ele babar e ver o que perdeu.
- ... (Kelly Key?) E a grana, conseguiu?
- Não, de acordo com meus planos, consigo pôr o silicone no final de abril.
- Pô, 7 meses...
- Ah, pelo menos estarei feliz. Eu espero.
- Maria, te liguei para fazer um convite, no mínimo, inusitado.
- Ah, João, fale. Nós somos melhores amigos, nada em você me impressiona.
- E se eu pagasse teus peitos?
- Como assim?!
- Ai meu Deus... como eu digo? Fico até com vergonha.
- Hahaha. Desembucha, homem!
- É que... eu cansei da bolinha. Pensei que se eu pagasse teus peitos, eles seriam meus. Daí ia poder apertá-los, em vez de ter que apertar a maldita bolinha azul.
- ... (que merda. ficar em casa assistindo TV tem feito mal para a minha cabeça. é óbvio que ninguém ia aceitar uma idéia idiota dessas.) é uma troca, não é?
- ... (fiquei impressionado. digo o que?) ah, sem maldade. É só para eu melhorar sem me entediar.
- Não seria a primeira vez que você faria isso, seria?
- Hahaha. Contando nosso namoro?
- Vou pensar, João. Obrigado pela oferta.
- Beijo.

Tá, a gente não espera que ofertas sem pé nem cabeça surtam efeitos. Seria quase como chegar para o chefe e, em troca da presidencia da companhia, dar a própria mulher para ele comer. Chefe nenhum aceitaria isso. Mas a Maria aceitou. Aceitou e eu apertava. Apertava. Apertava. Enquanto eu assistia a Globo ou enquanto ela tentava estudar. Até que as dores pararam. E ela perguntou o que seria de nós. Eu inventei que o médico queria que eu não parasse de apertar. Então eu apertei.
O tempo passou. Eu apertando, até que esqueci o motivo. Resolvi que, como era meu, eu podia apertar, podia por a boca, podia me divertir. E eu me diverti. Pobre Maria, que tinha grandes e deliciosos seios, mas acabou sendo a minha escrava. Pobre da bolinha, que ficou esquecida embaixo do sofá.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Adjetivo

- Nossa, que preta gostosa!
- Que horror!
- O que?
- O jeito que você fala!
- Ah, gostosa mesmo. Falo de boca cheia.
- Não é isso...
- É o que?
- Preta... que pejorativo.

É incrível como as pessoas tem medo de algumas palavras. Chamar um negro de preto é chamar um negro de macaco. Gordo, temos que chamar de cheiinho. Feio, chamamos de estranho. Deficiente, chamamos de especial. Isso é dissumular a moralidade. Adjetivos que assustam, pois são considerados incisivos demais.
Esse é meu problema, não ter papas na língua. Não é ser mal educado, não mesmo. É saber usar o adjetivo sem medo. O preto é preto, o gordo é gordo, o feio é feio, o deficiente é deficiente. Aliás, sobre os negros, qual é o mal de falar sobre a cor deles? Ser preto é bonito! Assim como ser branco, mulato, amarelo, pardo, o é. O povo quer tentar se mostrar não-racista, mas acaba sendo, hipocrisia a dar com o pau!

E digo de boca cheia: Era preta e, sobretudo, deliciosa.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O amor é cego

Você fica tão bela quando eu estou na merda.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lua cheia

Um lugar bonito
As luzes se apagam
Eu perdido nas ruas
Então vamos dançar sobre essas folhas caídas
Na música alta, eu sou o compasso
Sob os meus pés, a terra queima.

Eu não sinto mais nada
Além dos pés doendo
E a memória em flashes
Se resumindo ao longincuo e pacífico ontem
Sozinho, como todos os dias
Cansado de viver.

Quem sabe a chuva lave essa alma
Essa alma imperfeita
Essa alma pecadora
Mas a Lua cheia me diz
Que hoje não tem banho
Que hoje não tem chuva.

domingo, 7 de março de 2010

Zumbido

"Que estranho... Eu que sempre gostei do silêncio estou incomodada com esse barulho." Ela reclamava sobre o zumbido que o silêncio fazia.

E o zumbido ficou forte de novo, entrando nos nossos ouvidos.

"Eu posso falar, se vocês quiserem." Ele falou, tentando ser engraçado, tentando ser útil.

Zumbido.

"Esse silêncio está me deixando com dor de cabeça." Eu falei.

Zumbido.
Zumbido.
Zumbido.

"Ah, vou pegar uma cerveja. Alguém quer?" Ninguém me respondeu. Abri a geladeira que sempre estava recheada de Kaisers, mas no momento tinha Skols, para a minha alegria.

Zumbido.

"Alguém fala alguma coisa?" Ela disse.

Zumbido.

"Eu vou embora." Ele disse.
"Por que?" Eu perguntei.
"Sei lá, tá tarde, tá silêncio..." Ele respondeu.

Zumbido.

"Tchau." Ela disse.
"Tchau." Ele respondeu.
"Deixa a chave na porta, não precisa trancar." Eu disse.

Zumbido.
Ela deita no meu colo, sem dizer nada e o zumbido some.
Eu deito ao lado dela, no sofá apertado, colando o nariz.

"Você está cheirando a cerveja." Ela sorri. Os lábios dela tocavam os meus quando se mexiam.
"Desculpa, quer que eu saia daqui?" Perguntei, preocupado. Meus lábios tocavam os dela quando se mexiam.
"Não quero não." Ela sorriu de novo.

Nos beijamos. Nos beijamos como adultos bem resolvidos, não como adolescentes impulsivos. Sabiamos o que estávamos fazendo. E só nos beijamos.

O som das nossas respirações ofegantes, dos nossos corações acelerados, das nossas bocas se beijando, das minhas mãos passando pelas costas dela.
Silêncio, do mais puro, sem zumbido. Uma explosão de sentidos e barulhos quase imperceptíveis. Do tipo que nós dois gostávamos.

sábado, 6 de março de 2010

Eu tenho a impressão de que quero que você fique mais um pouco

Eu estava atrasado, como sempre. Sentei ofegante, larguei a mochila no assento vazio do meu lado. O ônibus já andava, enquanto eu ia me arrumando. Liguei o iPod, pus uma música triste para tocar. Senti o escuro, vi o meu carro no estacionamento da rodoviária pela janela. E sorri, pensando que eu sempre dou tchau para a mãe, para o Leo, para os gatos, para os avós, mas nunca para o carro. E me desatei a chorar. Três ou quatro lágrimas de puro sofrimento. A injustiça violando a minha carne, meu peito se quebrando, os meus olhos desatentos degustando as escuras ruas de Curitiba. A dor de gostar de casa. A dor de gostar da família. A dor de achar que não é justo ter de ir embora quando não era hora. Queria ficar mais uns dias, até enjoar do cheiro forte da urina da gata dominando a casa, até enjoar da falta de amigos, até enjoar das tardes inúteis, até enjoar de ser o chofér. Queria aproveitar por mais uns dias o falatório eterno do irmão, do carinho da mãe, do gato gordo esquentando os pés de madrugada, das tardes de seriado rechados de Ruffles e Coca-Cola. Mas acaba. Tudo acaba. E injustiçadamente, tive que voltar.

Tive que aprender a defletir a dor. Foram indas e vindas de injustiça, de saudade, de desgosto. Agora sou invulnerável às dores. Todas elas. Foi por isso que eu escolhi nunca mais amar, pois o amor machuca, o amor deixa marcas que demoram a sair. Foi por isso que eu escolhi viver sem Deus, pois Deus sabe desapontar os fiéis, Deus nem sempre é fiel. Eu sei não sentir dor.

Boca cheia

Caralho! Caralho mesmo. Queria usar uns palavrões pra falar alguma coisa útil, pra falar da beleza de alguém, pra falar do meu maravilhoso dia, pra falar que eu tenho saudade da mamãe. Mas tudo que eu sei fazer é falar a porra do palavrão. Não quero ser educado, quero só usá-los de maneira útil. Não me basta falar que tudo é uma bosta, quero sair do lugar, fazer alguma coisa nova. Estou a cara do pai, chingando ao léu, enchendo a boca de palavrões. Depois fica uma porra pendurada nos dentes e eu não sei o motivo. É esse excesso de coisa feia.

E... Puta que o pariu... Eu não escrevi nada de novo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O verão não foi o mesmo sem você

Esse clima agradável, o Sol quente nas costas.
O inverno chegando.
Os céus do fim de tarde alaranjados.
Esse clima agradável é lealdade que escolhemos.
E a lealdade é uma bosta.

É sempre sobre as escolhas que fazemos.
Desde que as bilhões de portas se abriram, tudo ficou tão devagar.
E todas as escolhas se tornaram questionáveis.

Se eu quiser, meus problemas vão embora, desde que eu fale as palavras certas.
São lições que eu aprendo enquanto encaro a Lua.
E a lealdade é uma bosta.

terça-feira, 2 de março de 2010

Love and love and happy afternoons

Once I had a love

And it was a gas.


Soon turned out she had a heart of glass.

A cama chegou

Um mar de ódio envadia o ser. Suei tanto que achei que ia secar para sempre. Ódio, raiva, o sentimento de se sentir inválido, enganado. Meu coração pulsava zilhões de vezes por segundo. Daí a mão amiga me toca o peito, arranca minhas costelas e aperta meu coração. Aperta bem forte, achei que ia explodir, mas não, foi parando. Segundo após segundo os zilhões de batimentos iam tendendo ao batimento nulo. Até que parou. Fez-se o silêncio. Eu morri. A mão amiga me bota as costelas no lugar, apoia-se no meu ombro e diz "Calma, está tudo bem." E o coração voltou a bater, de pouco em pouco. Até que sorri, calmo.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Dor de cabeça

Fui ficando incompetente. A bosta da ressaca de terça de manhã ainda atrapalhava a minha tarde de domingo. Aliás, tudo atrapalhava. Era o tempo ruim, a lagrima inconsequente, a saudade de cá e de lá, o desejo de sumir. O importante era abrir os olhos e escrever sobre um novo dia, mas ficou nisso: Hoje. É sempre sobre Hoje. E Hoje não está tão bom.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vômito

Um porco, um vale, um braço, um laço, um junco, um prisma, um beijo, um clarão, um exilio, um corpo, um vulto, um abrigo, um monumento, um refugio, um grude, um lixo, um sexo, um irmão, um coro, um choro, um amor, um louvor, um hino, um jantar, um troço, um medo, um jubilo, um erro.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Winter Winds

"And my head told my heart
'Let love grow'
But my heart told my head
'This time no
This time no'"

Mumford And Sons - Winter Winds

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O velho safado

Eu não consigo mais ler. Não se trata nem de "eu não consigo mais escrever", pois esse drama já passou e eu consegui superar a minha incapacidade de regurgitar as minhas emoções no blog, ou em qualquer pedaço de papel.
Desde que li Misto-Quente, de Charles Bukowski, não consigo mais me interessar por outra coisa. Misto-Quente é um livro medíocre, nem mediano é, não tem uma história, não tem um clímax, não tem um fim. Misto-Quente é um livro que me acorrentou e não me deixava ficar muito longe. Charles Bukowski tem um jeito mágico de escrever. Não só mágico, como porco.
Tudo o que leio, soa científico demais, nerd demais. Nada consegue entrar em ressonância comigo. Preciso comprar outro Bukowski logo, senão estagno na leitura, na escrita, no estudo, em todo e qualquer tipo de inteligência que meu cérebro pode ser útil para.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre o fogo (2008)

Acende a paixão
Num escarlate quente
Tão efervescente que dói.
Dói e queima.

Acende o cigarro
Num azul quente
Que fantasia as pessoas
Fascina com a sua magicidade.

Acende o desejo
Aquele desejo quente
Que espera o amanhã
Pois amanhã tem sempre mais.

Acende a dor
Que finge não estar lá
Mas queima de dentro para fora
Num sofrimento incontido.


Dele sobrou as cinzas
Os olhos esperando
A salvação, a felicidade, um cobertor
Pois o frio queimava, como o fogo queima.

E largou a infância
Esqueceu no passado
Num ontem tão distante
Que tornou-se um velho caduco.

Que acende o cigarro.
E espera o calor do fogo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um sonho divino

Na noite anterior tive um sonho com Deus. Me clareou um pouco a vida, me trouxe fé e compreensão sobre o mundo a minha volta.

- Olá, filho.
- Deus? É você?
- Vim te trazer uma mensagem. Quero que você deixe de se preocupar com o mundo a sua volta. Te preocupa com o teu mundo, pois você está destruindo-o.
- Preocuparei, Pai. Desculpe-me por tudo o que fiz.
- Não peça desculpas. Saiba que eu cuido de você. Cuido de cada poro do teu corpo.
- Cuida de cada poro, como se cada um fosse uma ovelha e você fosse o pastor?
- Que papo bizarro é esse? Você acha que eu tenho cara de quem gosta de bucolismo?
- Eu tinha ouvido sobre essa anedota quando criança. Deus é o pastor, nós somos as ovelhas.
- Besteira. Eu sou mais como um dermatologista, que se concentra em cada centímetro do teu corpo. Isso, sou um dermatologista, só que um dermatologista exageradamente cuidadoso.
- Pai?
- Diga, filho.
- Preciso passar algum creme? Filtro solar?
- Não, deixa comigo. Eu te cuido. Vai viver a tua vida, vai?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Caminho

Between desire and a road to take.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Amor

Meu amor caiu.
Acabou-se num chão gelado.
Não foi o som de um novo homem, ou de novas aventuras, ou de um fracasso qualquer.
Foi o som de uma porta que se destranca, duma liberdade desconhecida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Platônico, como todo o resto

Por ela eu trocava a mãe. Trocar a mãe era o máximo que eu podia, pois antes da mãe trocava a casa, o conforto e os gatos, mas a mãe sempre ficava pro final. Nunca pensei que diria isso, mas os olhos verdes, a pele branca e o cabelo ondulado me tiravam a atenção do mundo real. Seria cruel se a mãe soubesse que eu faço a mínima ideia de como a menina é, de fato, se é boa moça, educada, divertida. Sei que tem um sorriso explêndido, bochechas harmoniosas, rosadas. Mal sei seu nome, não conheço a sua voz, mas por ela eu trocava a mãe. Trocava meus dias, minhas noites, trocava o que precisasse trocar. Que bom que não sabe disso, senão tirava tudo o que tem pra tirar de mim. É óbvio que ela tem aventuras amorosas (ou prazerosas, que seja) com homens bem mais ricos, bem mais bonitos, mas, se é mulher de verdade, ia querer tirar um pouco de mim. Eu, sem mãe, sonhando dia após dia com aquela magreza de modelo, aquele olhar languido que me dá vontade de amar.