terça-feira, 21 de setembro de 2010

Juiz

Eu sou depressivo e não sei lidar com esperança. Eu vi o mundo acabar e eu acabei. A solidão pode acabar com um caráter. A solidão pode construir um diabo. E aqui estou eu, querendo a solidão, pois eu não consigo mais viver na sociedade. Todos os homens me mordendo, me arranhando e fazendo chiados parecidos com o barulho de gatos ariscos. Eu fraquejei. Eu desisti. Eu não sei mais se Deus existe, ou se a felicidade, sobretudo ela, existe. E quando desistimos significa que queremos o fim, o egoista e sem sentido fim. E se tudo acaba, o que sobra é mais sofrimento. Então nunca acaba, pois a solidão ensina que o único que deve sofrer é aquele que merece o sofrimento. E eu, sofredor, sou culpado. Auto-julgado, sou culpado. Juiz de mim mesmo, conseguindo rever os conceitos enferrujados de uma revolução mal sucedida. À revolução, à solidão, ao bom Deus que um dia me trouxe a felicidade. À felicidade de todos nós. Ao juri culpado, que sente muito em não conseguir fazer nada. À família e, no fundo, somente à ela.