quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Faço porque queço

Eu podia lhe ensinar o que sou caso você quisesse me entender. Confesso que lhe entendo, sou eu que quero lhe entender, você que se divertir.
Confesso que gosto dessa brincadeira. Mas, não se espanta com o meu ser? Tão negro, tão mórbido, tão complicado!
Eu sei, sou eu que quero você.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meninisse

Como é boa a paixão
De criança!
Eu me esforço, juro.
Mas é complicado
Fingir o desdesejo...

domingo, 26 de outubro de 2008

E o destino?

Fugiu de casa aos dez, morava no meio do mato perto do zoológico. Se alimentava dos peixes do rio, das laranjas e dos passarinhos da laranjeira.
Um dia os peixes acabaram devido à poluição. A água, portanto, ficou imbebível, e ele passou fome e sede. Quatro anos vivendo uma confortável vida de homem das cavernas o fizeram experiente no quesito sobrevivência... mas sem água?
O garoto foi pedir ajuda, lhe deram uma pipoca doce e ele fugiu, grato, porém assustado. Ele, como um gato furtivo, passou a pedir comido ao pipoqueiro diariamente.
Um dia o pipoqueiro deu mais que uma pipoca. Deu ao garoto um banho, uma casa, uma mãe. Essa mãe deu ao pobre selvagem uma cama, um carinho, um futuro.
Aquele selvagem sonhava com revolução, com dominar os animais do zoológico, mas o futuro fez algo ruim com ele. Mas que tristeza ver o pobrezinho largar a anarquia por ser acariciado, ser alimentado, ser acostumado, ser domesticado. Tão triste ver o que aquele pipoqueiro causou na vida do nosso pequenino.
Chorei ao ver o meu selvagem tornar-se um pobre bilionário... Que tristeza...

sábado, 25 de outubro de 2008

A parte é o todo

O problema é a dislexia. Ou a desuniformização dos meus valores. Na parte sou o foco, um forte que jamais deixa-se ser levado. No todo eu sou isso... tudo e nada. A mais antitésica e pleonástica das figuras.

Sou tão disfuncional que nem a parte Silka remete o todo Eduardo, já que Silka existem três. Talvez essa inviabilidade dos meus tipos me torne um pouco exigente com o meu eu... ou talvez me torne apenas um sem-identidade.

O orgulho do sobrenome entra em conflito com o desorgulho do espírito. A fama contrapõe o meu gosto pela solidão. Já que toquei na solidão: por quê diabos as pessoas lutam contra o silêncio e contra a solidão?

O silêncio é meu amigo, o mais nobre deles. A solidão é minha amiga, a melhor delas. O ser humano não gosta dos dois, pois a única companhia que tem é dele mesmo. Essa companhia não é a mesma que a de um espelho, visto que esse remete apenas a uma imagem. A companhia é do espirito, do ser, mas não há quem tenha coragem de conhecer o seu verdadeiro espírito, o seu verdadeiro eu.

Todo eu é ruim, mal. O homem é um bicho de maldades, por isso não é boa companhia. Daí digo-lhe, leitor, sei conviver comigo mesmo sem problemas. Amo a minha presença, não por puro egoísmo, mas por eu lembrar de quem sou.

A sociedade impele o homem a criar os inúmeros eus: o eu social, o eu amante, o eu rude, o eu solitário... Sendo o solitário o verdadeiro eu. Sei que não sou bom, mas me conheço um tanto que me permita não me assustar com a solidão, com o silêncio, me permite uma conversa pautada de inúmeros assuntos comigo mesmo. Mas o capitalismo exige, prontamente, o eu social, sempre o social. E os homens, por sob as suas máscaras de desejadores de dinheiro, vão esquecendo dos seus verdadeiros traços. Aquela máscara passa a ser a própria pele, a própria face.

Acostumados com o sorriso dissimulado da máscara, o homem se apavora com o silêncio. No silêncio ele vê o seu rosto calejado, suas olheiras de cansaço, suas lágrimas rancorosas, seu olhar assassino. Portanto o medo impede de saber se, por sob a máscara, há uma bela face, já que evita-se a solidão e o silêncio.

A minha máscara é o silêncio, é o pensar, é o dissimular. Toda máscara é um pouco da minha máscara, mas a minha tem um pouco da minha face: o silêncio. Gosto do verdadeiro eu, não pela beleza, mas pelo silêncio que a putridão do meu coração explicita.

A parte: o silêncio; o todo: o silêncio. Guerra tosca que existe em mim, onde a minha máscara não gosta de ser máscara e o meu eu gosta de se mascarar de máscara. Eu, meu leitor, gosto de ser eu, mas não devo... Só devo na minha confortável solidão...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Episódio S08E21 (com spoilers)

- Vamos desenterrar nossas mais obscuras perguntas e verdades?
- ... Fale.
E ele falou... Mas só ele...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Jose Cuervo Especial

Oi, me vê um suco de laranja, por favor?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O dia em que a infância acabou

Roubou-me a pureza
Aquele Carlton Longo roubado.
Afanado às pressas do cinzeiro do avô.
Cigarro grande demais para as mãos de menino.

No primeiro trago
(Ou na primeira tentativa)
Dumbo voou da minha mente.
Ele que era meu amor, virou minha dor.

Foi-se todo o desejo pela proteção.
Foi-se todo o desejo pelo carinho.
Veio o desejo pela juventude transviada.
Veio o desejo pela independência.

Mas o pré-aborrencimento acabou,
Os aborrecimentos também se foram.
Então por que não assistir Dumbo?
Não reviver a querida infância?

Porque a vida é cronologia.
Porque a infância é o início.
A juventude é o meio.
A maturidade é o fim.

Maldito cigarro que roubou minha inocência.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre os quebra-cabeças

Já não procuro entender.
É que ninguém mais presta, inclusive eu...

sábado, 18 de outubro de 2008

C'est l'amour, c'est la merd

Eu amo! Eu Amo! Amo! Amo!
Amo... Amontoado de besteiras.
Sepulcro íntimo
Que desperta o calor.

Amor, desejo,
O sexo dos olhares
Maljulgados pelos passantes
Passando por passar.

É morbido o sabor
Dessas palavras que soam bem.
Soar bem é inverdade.

Eu não amo.
Eu, meu amo,
Eu te amo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Shut'fuckin'down

Cheguei nesta minha Terra-de-Clima-Estranho um bocado contente. Mas me faltava um algo. Esse algo causou uma espécie de shutdown, uma barreira criativa.
Sempre reclamei da minha falta de criatividade, acontece que escrever assiduamente me fez criativo. Agora, criativo, reclamei da falta que escrever me fazia. Desde domingo eu não havia criado nada, nem um mísero texto.
Como viciado em decadência, como um ex-bêbado que sou, disse: "onde está minha vontade de escrever?", como tinha perguntado há uns dias atrás por onde andava a minha vontade de embebedar-me. Este vício deve (e creio que já foi) ser largado, mas, infelizmente, aquele não deve.
O problema no shutdown não foi "largar vício", mas realmente sentir falta de uma necessidade. Explico o drama, leitor. Quando deito para dormir, o sono não vem, enquanto a música toca eu escrevo, mentalmente. São texto que nunca encontram o papel. O triste é que eles, normalmente, são boníssimos, infinitamente melhores dos que escrevo no lúcido estar-acordado. Essa semana me deitei, me revirei, mas não criei. A insônia que me dura 20 minutos com os textos sem fim duraram 60 minutos sem eles, o sono custou a aparecer.
Graças ao tempo (não sei o motivo do tempo, mas tinha que agraciar alguém) sinto cheiros misturados: o velho cheiro da vontade de criar com este novo perfume (que ainda me soa não-eu, mas me agrada bastante).

Criar, o verbo está chegando!
Favor esperar uns dias, almejado leitor.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Amigo se'ncontram no dedos!

É claro!
... Ou parecia.
Foi caro!
... Ou poesia.

Pode ser o tempo,
Talvez Hoje.
Neve, nunca!
Mas é fria a tua pele.

Agora ele vai entender,
Ou quem sabe vai ouvir.
Não temo, não vai me bater.
E quem sente, vai sumir?

Sento no chão duro
Só pra sentir o Sol,
Ouvir o som de todos os sons
Fingindo que durmo.

Não hei de dormir,
Mas quando me'ngano
Que motivos tenho pra'cordar?

Fugir.
Correr.
Viver.

Rotina.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cronos

Qual a vantagem de antecipar o amanhã?
Futuro: uma boa desculpa para o pasado.
Pra mim, é Hoje.
Estático, parado, nada aconteceu, nada acontecerá.
Está tudo aqui, só não conseguimos ver ainda,
Muito menos sentir.

sábado, 11 de outubro de 2008

Convite, ou evite

Olho pras flores como olho pros livros... Pelo menos assim o fiz, quando olhei com uma curiosidade que nunca havia experimentado. O olhar discreto nos olhos das cores, dos cheiros, dos exóticos formatos. Curioso e discreto, procurando me envolver, sorrir e chorar com elas. Experimentando um novo sentimento: experimentar sentí-las como flores, não como seres. Como obra de Deus, não obra duma reprodução caótica.

Olho os livros como quem olha quadros de arte... Pelo menos aprendi assim, quando olhei para eles como quem vê arte, não letras. Acho que tudo começou quando eu e as palavras nos fundimos, num casamento agradável. Via-as como quem vê um inimigo, pois a Língua era uma das minhas maiores inimigas, juro que ainda tenho dificuldades com coisas como: o que diabos é um advérbio? Hoje elas são mais como amantes sedutoras, às vezes fiéis, às vezes sorrateiras, mas sempre me fazendo completo (a vantagem de ter várias amantes é jamais sofrer de solidão).

Olho os quadros de arte como quem olha olhos... Pelo menos eu olhei assim, buscando interagir, sempre aprovando ou desaprovando com um olhar mais profundo naqueles ou com um desvio nestes. Os quadros, quando eu os gostava, me faziam sorrir. Cheguei a gargalhar ao ver um algo que parecia piada (aposto que alguém em volta sentiu um ar de demência), cheguei a me sentir vazio ao ver o que me fazia vazio. Ciúmes, era pra eu sentir, mas eu senti: sou que nem você, ciúmes exposto, não doentio.

Olho os olhos como quem evita a conversa... Pelo menos sempre foi assim. Os olhos são mais verdadeiros que as palavras, muito mais verdadeiros. Os olhos jamais mentem, desviam, penetram, mas não mentem. As palavras saem de qualquer jeito, improvisadas, jogadas, mentidas. Se olho, convido, se não olho, repulso.

Silêncio!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Eternidade?

"Há uma diversidade dialética irreversível!
Uns dizem que eu volto,
outros dizem que eu vou ser julgada
e, ainda outros afirmam que desapareço.
Eu e você vivemos o dilema fatal.
O pior é que a resposta,
cada um tem, quando chegar a hora.
E o segredo se mantém!

Esta é a regra do jogo."
Adalice Araujo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Herético

Ontem ouvi que não devia mentir. Se eu mentisse, coisas ruins aconteceriam. Eu pensei que tudo bem, pararia de mentir, já que eu sou assim, acreditador do que me falam. Pensei, mas parou por aí. Não demoraram 45 minutos para eu mentir novamente.
Eu menti ontem, sem demoras, menti hoje, mentirei amanhã, mentirei mentiras mentirosas sempre.

Não se preocupe, leitor. Sou mentiroso, mas aquele mentiroso de mentiras saudáveis. Que mente pelo bem, não pelo mal, já que pelo mal eu menti tanto que acabei por me cansar. O mal em si me cansou, me deixou meio solitário, com medo de tudo. O bem me agarrou de jeito, de mão dadas vamos indo, seguindo, sendo, aprendendo e se fodendo.
A última mentira foi pra ver alguém sorrir, a penúltima foi para dar créditos à uma outra pessoa. Minto para aliviar as tensões, para distribuir a alegria. Não sei, mas acho que ninguém pode me chamar de mentiroso, não sou mentiroso.

Sou dissimulador, leitor. Dissimulador artista, ator, poeta, contista. Autor das tuas alegrias, lê-me que te faço um carinho e um sorriso, pois me cansei dos meu choros de sempre (você já deve ter notado a mudança, não?).
Vou dissimulando como um herege que desmantela Deus. Que esquece da existência pecados para ter o direito de pecar. Um pecador enviado por Deus, se é que ele existe. Pecador que não entende de pecados, só peca, mas peca pelo bem. Deus existe, meu herege?

Deus existe! Aqui no meu peito, Ele existe. E não é como dissimulador que digo isso a você leitor. Existe, pois creio, não por querer fazer você crer.
Herético. Sou sempre assim. Mentindo que amo, que odeio, que sinto, que não sinto. Odeio Deus, odeio sempre. E por isso, sempre estamos de mãos dadas, no mais forte e puro romance. Amor de Deus é que nem amor de Mãe: AMOR, com todas as suas letras.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tortura

Estava de bem com a minha consciência, até me perguntar: "Mereço dormir?" Vi que o merecer não ia me dar respostar e mudei o verbo: "Tenho o direito de dormir?" Talvez, você, leitor, acredite que viva num país livre, portanto eu teria o direito de dormir, todos têm direito de dormir.
Não leitor, eu tinha vontade, direito eu não sei. E a vontade está muito abaixo do direito, quanto à hierarquia. Não importa se quero, o importante é se posso. Estava me faltando um sujeito que soubesse dos meus direitos como cidadão, ou melhor, como vestibulando pra me dizer o que me é permitido.

O problema em ser humano é ter consciência. Consciência mata, com certeza mata. Ou não?
Talvez não. Consciência é uma torturadora, não uma assassina. Uma torturadora inútil, diga-se de passagem, que de nada serve, pois não trabalha pra ninguém, nem quer nada de nós. Uma torturadora que é cruel, está ali só pelo prazer de ver sofrer.
Enfim, com ou sem direitos eu dormi. Agora me tortura a consciência. Tocando na mais profunda ferida minha: vestibular.

O exercício da crônica

"Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador cotidiano, a coisa fia fino. Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as artimanhas peculiares, possa injetar sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a sua marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa pra mais tarde como um convite de sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, "tacam peito" na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica com uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores, e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos estes "marginais da imprensa", por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros as espicaçam; este é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.

Coloque-se porém o leitor, o ingrato leitor, no papel do cronista. Dia há em que, positivamente, a crônica "não baixa". O cronista levanta-se, senta-se, lava as mãos, levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração -- e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus auxiliares: 'É... não há nada a fazer com Fulano...' Aí então é que, se ele é cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz: 'Vamos, escrever, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre esta cadeira que está aí em tua frente! E que ela seja bem-feita e divirta os leitores!' E o negócio sai de qualquer maneira.

O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantadas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas, estará gastando metade do seu ordenado em mandar sua crônica de táxi -- e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna."
Vinicius de Moraes

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Conto de fadas

Ela pôs as crianças pra deitar, que jamais dormiriam com aquela hiperatividade toda. A mãe estava cansada, pois tivera um duro dia de trabalho, mas as crianças não davam folga, queriam brincar, pular na cama.
Atenciosamente, a mãe disse:
- Posso contar-lhes uma história, meus pequenos. Se quiserem ouvir, deitem-se e calem-se. Se quiserem brincar, brinquem, mas amanhã não haverá brincadeira.
O mais levado dos meninos fingiu não ouvir, pensou que, como não poderia brincar amanhã, jamais iria dormir. Já os outros dois deitaram na cama, olhando fixos pra mãe. As crianças amavam as histórias dela, pois ela dizia que as histórias eram verídicas, que eram ao mesmo tempo belas e fantasiosas. As estórias eram inacreditáveis a um adulto, mas para os pimpolhos era a maior diversão.
- Shh! Para de fazer balhulhu, a mãe quer contar histórinha pra gente. Deita! - bravou a mais nova.

O levado deitou-se, ninguém entendia o motivo do respeito que ele tinha pela pequena menina, talvez fosse pelo motivo de ela ser a unica menina da família. Enfim, o silêncio reinou no quarto.
- Era uma vez um homem.
- Oh! Como ele era mamãe?! - A pequenina amava os homens, tão belos os homens.
- Calma minha filha, já chego aí. Esse homem se chamava Artur, era alto, loiro dos olhos claros, belíssimo, porém cansado. Sempre trabalhava até tarde. Um dia Artur saiu mais cedo do trabalho e resolveu passar num café, pertinho do serviço. No Vidi tinha o melhor café do mundo, pelo menos diziam os críticos. Artur não se importava se era o melhor ou o pior, só achava maravilhoso.
- Café é bom mãe? - O mais velho, o levado, perguntou.
- Não sei, também sempre quis experimentar meu filho... Quem sabe um dia, né? Bom, nesse dia Artur foi a caminho da 'sua mesa'. O belo homem era cliente há tanto tempo que tinha uma mesa especial. Nessa mesa, naquele dia, estava sentada uma moça linda, maravilhosa na realidade. Marcela tinha os olhos escuros, pele branca, cabelos ondulados negros como os olhos do Profeta. - Profeta era o senhor da cidade, tinha olhos mais negros que a escuridão - Artur sentou-se do lado da moça, sem dizer uma palavra, apenas sorriu. Ela corou a face e retribuiu sorriso. Daí começaram a conversar, sobre a vida, sobre os dias, sobre o tempo, sobre o trabalho. Sabe como são os homens né? "Você vem sempre aqui?". Marcela riu lindamente, não esperando pelo clichê...
- Mãe, o que é clichê? - Perguntou o segundo filho dos três, o mais inteligente.
- Fala mais baxo! Ele tá druminu! - A caçula bravou entre um bocejo e outro, a menina sempre estava a bravejar.
- Clichê é uma coisa que... Como posso explicar? É uma coisa que se diz bastante, uma frase muito repetida. Tá. Daí Artur, recém apaixonado, passou a ir todos os dias no café, pra ver se encontrava Marcela novamente. Mas não encontrou. Pelo menos não nos primeiros dias. Demorou um pouquinho pra ela aparecer, depois da primeira vez passou a freqüentar o No Vidi todos os dias, só para ver Artur. O namoro começou em pouco tempo.......

Morgana calou-se. Viu que as crianças dormiam, abriu as asas e voou para o quarto, encantada com as próprias lembranças. "Quem me dera poder ver um humano novamente, são tão belos os humanos".

domingo, 5 de outubro de 2008

Chiclete

Ah, o amor é tão belo. Arte singela, mas limada, cheia de preciosidades. O romance, temperado com a mais forte paixão, é o mais saboroso prato. Sabor de calor, de cheiro, de toque. Sabor de vermelho, de rosa, de roxo, de preto. Sabor do obscuro, que está lá pelo prazer, apenas. Sabor que, como chiclete, some com mordidas repetitivas, mas ainda sim deliciosas mordidas.

E espera-se mais, sempre mais. Já disse que o ser humano espera mais. E também já disse que mais nunca é bom, mais é exagero, pedir demais. E as mordidas carinhosas passam a ser violentas. Os beijos carinhosos viram discussão boba. As declarações viram mentira. O romance, recheado com o mais lindo amor, vai perdendo o tempero, o gosto. Romance sem paixão deixa de ser Manjar de Deuses pra ser chiclete velho.

Fogo, amor se resume em fogo. Não exatamente o amor, em si, mas o fogo é a sua torre de marfim, espessa, rígida. Torre que segura os mais fortes abalos, portanto inabalável. Só a água destrói o fogo. Destrói, não apaga. Fogo deixa de ser fogo, vira nada, passa a ser o simples frio, calmo e monótono frio.

Quando se masca um chiclete, por mais saboroso e duradouro que seja, e toma-se água, o chiclete perde seu gosto. Junto com a água o sabor desce a goela, obrigado, sem o prazer de estar na boca, apenas para sentir o calor da saliva. Sagrada saliva, que é deixada pelo sabor por causa da água. Se fosse o fogo, a saliva gemeria, gritaria, enlouqueceria. Prazer imenso que o fogo tráz a Sagrada saliva.

E daí o coração pergunta-se o motivo do fim. Ele não entende, não há motivos concretos. O coração amava, amor é o importante, amor é a base de tudo, a base das relações internacionais, das religiões, a minha base, talvez seja a sua base, leitor. Acontece que nós, humanos tolos, nos seguramos em bases fracas. O fogo, por mais que queime, é a mais forte base, torre de marfim que desgasta-se facilmente, mas quem apoia-se no fogo sabe: por mais doce que seja a goma de mascar, há de uma hora acabar o gosto.

Sobre o layout novo

NGC 4594, popularmente conhecida como Sombrero, também conhecida como M104 no Catálogo de Messier. Sombrero é uma galáxia espiral com núcleo brilhante rodeado por um disco achatado de material escuro. Dista de 28 milhões de anos-luz da Terra.
Essa brilhante galáxia é conhecida como sombrero devido a sua aparência característica que se assemelha a um chapéu de mexicano. Foi descoberta em 1912 por Vesto M. Slipher no observatório Lowell.
A galáxia NGC 4594 possui uma magnitude aparente de +8,3, uma declinação de -11º 37' 23" e uma ascensão reta de 12 horas, 39 minutos e 59,4 segundos.

O Sombrero é uma das bilhões de galáxias que são chamadas de extintas. Galáxia extinta é aquela que deixa de produzir luz e calor, ou seja, estrelas. Numa galáxia normal, estrelas nascem e morrem. Em galáxias extintas as estrelas apenas morrem. Isso acontece devido a inatividade do buraco negro que fica no centro da galáxia.

Identifiquei-me com o Sombrero, por milhares de motivos que o meu silêncio exige que eu me cale.
Postei novamente só para explicar o motivo da foto impessoal. Digo o seguinte, leitor, é ultra-pessoal.

Nonsense

"Na crônica, tudo pode."
Robinson Bucci

Passei a procurar erros nas atitudes das pessoas, observando defeitos perpetuos e passageiros. Procurando detalhes infimos que faziam aquele ser humano em porco imundo. Foi nesse monte de olhares desgostosos que vi a atitude nos meus erros, as mais perpetuosas e passageiras atitudes.

Depois dos erros quis a filosofia pra explicar o inexplicável. Acontece que eu não preciso nada explicado, tudo, agora, parece-me auto-explicável. Daí a filosofia só serviu-me de prazer, de passatempo. E o tempo foi passando, daí notei que não tenho esse tempo pra passartempo.
Pois é, Deus, daí-me tempo.

Ah, minha Loucura, tão intensa, tão breve, tão infinitamente presente nas perspicazes atitudes! Ah, essa Loucura incrível que me move, dum jeito estupidamente gélido e cambaleante por sobre os caminhos tortuosos! Vale-me fazer reclamações, mas não o faço, já que a Loucura me traz a poética em pensamentos. Traz-me também a esperança de todos os dias. Que loucura essa Loucura! A Loucura da filosofia, do passatempo, dos erros de todo o mundo.

Eu sempre serei louco, sei disso.
E sei que sempre terei de explicar o porquê da minha loucura, mesmo não sendo louco.

sábado, 4 de outubro de 2008

Perfeito

Casa, casa, eu disse casa!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Crônica ao falecido poeta das estrelas

"Olavo Bilac pegou Machado de Assis como refém. O mundo é cruel!"
Professor Valdir

Maldito, porco safado, filho duma puta, parnasianista de merda.

Desculpe-me o linguajar carregado, você leitor que desgosta das imunidices da língua. Explico o motivo do surto.
Estava eu na junta militar, aqui em São José, esperando para ser atentido. Com cara de nerd, estava Olavo Bilac pregado na parede. Assim que o vi pensei:
- Péssimo escritor, aliás, todo parnasiano é péssimo.
Ficou por isso, um comentário crítico, apenas.

Nessa quinta-feira o professor Valdir nos ensinava o frio parnasianismo. Daí contou do Bilac.
Olavo Bilac foi "o" autor da época, popular, amado por todos e... nacionalista ao extremo. Olavo foi o autor do Hino da Bandeira, que me parece uma cantiga infantil com palavras de gente grande.
O meu ódio pelo porco autor surgiu ao descobrir que, há 90 anos atrás, Bilac criou uma brilhante idéia chamada "Serviço Militar Obrigatório".

Os homens sabem bem o que é essa desgraça. Enquanto mulheres menstruam, homens vão à junta militar (ironia, sarcasmo, não quero ver ninguém me falando que aquela dor é muito pior que o incomodo desta).
Enfim, primeiro, existe o medo de ser chamado para servir, segundo, perde-se muito tempo indo nas juntas de alistamento.

Bom, existia, até o ano de 1988, o hábito maravilhoso de os adolescentes vingarem-se do imundo Bilac. No Rio de Janeiro era comum os que passavam pelo chato processo do de Alistamento Militar irem até o túmlo de Olavo Bilac e urinarem sobre o nome do sujeito.
Pensei eu: Também quero! É por causa de Bilac que tenho que freqüentar juntas militares há 2 anos.
Acontece que em 88 o querido Roberto Marinho reuniu todos os falecidos da Academia Brasileira de Letras numa espécie de cemitério especial. A idéia é interessante, preservar os grandes autores. O triste é me proibirem de urinar no Bilac.

Lá no cemitério da Academia, Bilac fica numa gaveta alta, dificultando a mijada. Não fosse por isso, colocaram Olavo sobre o Machadinho. Pegaram pesado! Agora mijar no Bilac tinha de ser um ato cirurgico, pois há o perigo de respingar no Machado.
Sim, é um perigo! Já que em gente legal nós não urinamos! Maldito Bilac, pegou Machado de Assis como refém!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre um receio de ser esquecido

"Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial."
Virginia Woolf

Pouco tempo atrás fiquei um grande espaço de tempo sem escrever, portanto postar. Acabei me irritando, já que sentia escrever para um público inexistente.
"Escrever pra ninguém, coisa de bastardo" pensava eu. Resolvi tirar os comentários, daí eu não poderia saber quem me lê, ou se alguem me lê, depois disso voltei a escrever sem me sentir panaca.
O escrever foi deixando de ser "postar no blog" para ser um vício. Aliás, agradeço a Ya (This is the Sun... ali do lado) por me incentivar, primeiramente, a criar o Bye-S, depois, a escrever. Por pior que fossem os meus textos eu ouvia "gostei, você me dá vontade de escrever". Ser lido era um orgasmo!
Hoje a Ya não escreve, muito raramente, mesmo assim não me desanimei com a escrita, que de pouco em pouco foi tornando-se o mais maravilhoso vício que já tive. Textos seguidos de textos, ruins ou bons, muitos, todos esperando para serem postados, adormecidos nas folhas do meu caderno.
Agora, ser lido é um beijo na face, que me faz sentir lembrado. Escrever é um orgasmo, o mais solitário e libinoso dos orgasmos.