sábado, 11 de outubro de 2008

Convite, ou evite

Olho pras flores como olho pros livros... Pelo menos assim o fiz, quando olhei com uma curiosidade que nunca havia experimentado. O olhar discreto nos olhos das cores, dos cheiros, dos exóticos formatos. Curioso e discreto, procurando me envolver, sorrir e chorar com elas. Experimentando um novo sentimento: experimentar sentí-las como flores, não como seres. Como obra de Deus, não obra duma reprodução caótica.

Olho os livros como quem olha quadros de arte... Pelo menos aprendi assim, quando olhei para eles como quem vê arte, não letras. Acho que tudo começou quando eu e as palavras nos fundimos, num casamento agradável. Via-as como quem vê um inimigo, pois a Língua era uma das minhas maiores inimigas, juro que ainda tenho dificuldades com coisas como: o que diabos é um advérbio? Hoje elas são mais como amantes sedutoras, às vezes fiéis, às vezes sorrateiras, mas sempre me fazendo completo (a vantagem de ter várias amantes é jamais sofrer de solidão).

Olho os quadros de arte como quem olha olhos... Pelo menos eu olhei assim, buscando interagir, sempre aprovando ou desaprovando com um olhar mais profundo naqueles ou com um desvio nestes. Os quadros, quando eu os gostava, me faziam sorrir. Cheguei a gargalhar ao ver um algo que parecia piada (aposto que alguém em volta sentiu um ar de demência), cheguei a me sentir vazio ao ver o que me fazia vazio. Ciúmes, era pra eu sentir, mas eu senti: sou que nem você, ciúmes exposto, não doentio.

Olho os olhos como quem evita a conversa... Pelo menos sempre foi assim. Os olhos são mais verdadeiros que as palavras, muito mais verdadeiros. Os olhos jamais mentem, desviam, penetram, mas não mentem. As palavras saem de qualquer jeito, improvisadas, jogadas, mentidas. Se olho, convido, se não olho, repulso.

Silêncio!