sábado, 25 de outubro de 2008

A parte é o todo

O problema é a dislexia. Ou a desuniformização dos meus valores. Na parte sou o foco, um forte que jamais deixa-se ser levado. No todo eu sou isso... tudo e nada. A mais antitésica e pleonástica das figuras.

Sou tão disfuncional que nem a parte Silka remete o todo Eduardo, já que Silka existem três. Talvez essa inviabilidade dos meus tipos me torne um pouco exigente com o meu eu... ou talvez me torne apenas um sem-identidade.

O orgulho do sobrenome entra em conflito com o desorgulho do espírito. A fama contrapõe o meu gosto pela solidão. Já que toquei na solidão: por quê diabos as pessoas lutam contra o silêncio e contra a solidão?

O silêncio é meu amigo, o mais nobre deles. A solidão é minha amiga, a melhor delas. O ser humano não gosta dos dois, pois a única companhia que tem é dele mesmo. Essa companhia não é a mesma que a de um espelho, visto que esse remete apenas a uma imagem. A companhia é do espirito, do ser, mas não há quem tenha coragem de conhecer o seu verdadeiro espírito, o seu verdadeiro eu.

Todo eu é ruim, mal. O homem é um bicho de maldades, por isso não é boa companhia. Daí digo-lhe, leitor, sei conviver comigo mesmo sem problemas. Amo a minha presença, não por puro egoísmo, mas por eu lembrar de quem sou.

A sociedade impele o homem a criar os inúmeros eus: o eu social, o eu amante, o eu rude, o eu solitário... Sendo o solitário o verdadeiro eu. Sei que não sou bom, mas me conheço um tanto que me permita não me assustar com a solidão, com o silêncio, me permite uma conversa pautada de inúmeros assuntos comigo mesmo. Mas o capitalismo exige, prontamente, o eu social, sempre o social. E os homens, por sob as suas máscaras de desejadores de dinheiro, vão esquecendo dos seus verdadeiros traços. Aquela máscara passa a ser a própria pele, a própria face.

Acostumados com o sorriso dissimulado da máscara, o homem se apavora com o silêncio. No silêncio ele vê o seu rosto calejado, suas olheiras de cansaço, suas lágrimas rancorosas, seu olhar assassino. Portanto o medo impede de saber se, por sob a máscara, há uma bela face, já que evita-se a solidão e o silêncio.

A minha máscara é o silêncio, é o pensar, é o dissimular. Toda máscara é um pouco da minha máscara, mas a minha tem um pouco da minha face: o silêncio. Gosto do verdadeiro eu, não pela beleza, mas pelo silêncio que a putridão do meu coração explicita.

A parte: o silêncio; o todo: o silêncio. Guerra tosca que existe em mim, onde a minha máscara não gosta de ser máscara e o meu eu gosta de se mascarar de máscara. Eu, meu leitor, gosto de ser eu, mas não devo... Só devo na minha confortável solidão...