terça-feira, 7 de outubro de 2008

Conto de fadas

Ela pôs as crianças pra deitar, que jamais dormiriam com aquela hiperatividade toda. A mãe estava cansada, pois tivera um duro dia de trabalho, mas as crianças não davam folga, queriam brincar, pular na cama.
Atenciosamente, a mãe disse:
- Posso contar-lhes uma história, meus pequenos. Se quiserem ouvir, deitem-se e calem-se. Se quiserem brincar, brinquem, mas amanhã não haverá brincadeira.
O mais levado dos meninos fingiu não ouvir, pensou que, como não poderia brincar amanhã, jamais iria dormir. Já os outros dois deitaram na cama, olhando fixos pra mãe. As crianças amavam as histórias dela, pois ela dizia que as histórias eram verídicas, que eram ao mesmo tempo belas e fantasiosas. As estórias eram inacreditáveis a um adulto, mas para os pimpolhos era a maior diversão.
- Shh! Para de fazer balhulhu, a mãe quer contar histórinha pra gente. Deita! - bravou a mais nova.

O levado deitou-se, ninguém entendia o motivo do respeito que ele tinha pela pequena menina, talvez fosse pelo motivo de ela ser a unica menina da família. Enfim, o silêncio reinou no quarto.
- Era uma vez um homem.
- Oh! Como ele era mamãe?! - A pequenina amava os homens, tão belos os homens.
- Calma minha filha, já chego aí. Esse homem se chamava Artur, era alto, loiro dos olhos claros, belíssimo, porém cansado. Sempre trabalhava até tarde. Um dia Artur saiu mais cedo do trabalho e resolveu passar num café, pertinho do serviço. No Vidi tinha o melhor café do mundo, pelo menos diziam os críticos. Artur não se importava se era o melhor ou o pior, só achava maravilhoso.
- Café é bom mãe? - O mais velho, o levado, perguntou.
- Não sei, também sempre quis experimentar meu filho... Quem sabe um dia, né? Bom, nesse dia Artur foi a caminho da 'sua mesa'. O belo homem era cliente há tanto tempo que tinha uma mesa especial. Nessa mesa, naquele dia, estava sentada uma moça linda, maravilhosa na realidade. Marcela tinha os olhos escuros, pele branca, cabelos ondulados negros como os olhos do Profeta. - Profeta era o senhor da cidade, tinha olhos mais negros que a escuridão - Artur sentou-se do lado da moça, sem dizer uma palavra, apenas sorriu. Ela corou a face e retribuiu sorriso. Daí começaram a conversar, sobre a vida, sobre os dias, sobre o tempo, sobre o trabalho. Sabe como são os homens né? "Você vem sempre aqui?". Marcela riu lindamente, não esperando pelo clichê...
- Mãe, o que é clichê? - Perguntou o segundo filho dos três, o mais inteligente.
- Fala mais baxo! Ele tá druminu! - A caçula bravou entre um bocejo e outro, a menina sempre estava a bravejar.
- Clichê é uma coisa que... Como posso explicar? É uma coisa que se diz bastante, uma frase muito repetida. Tá. Daí Artur, recém apaixonado, passou a ir todos os dias no café, pra ver se encontrava Marcela novamente. Mas não encontrou. Pelo menos não nos primeiros dias. Demorou um pouquinho pra ela aparecer, depois da primeira vez passou a freqüentar o No Vidi todos os dias, só para ver Artur. O namoro começou em pouco tempo.......

Morgana calou-se. Viu que as crianças dormiam, abriu as asas e voou para o quarto, encantada com as próprias lembranças. "Quem me dera poder ver um humano novamente, são tão belos os humanos".