quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Exame de consciência

"O povo precisa fazer anualmente o seu exame de consciência: é o que os jornais nos dão a título de retrospecto."
Machado de Assis

E eu vou tentar consolar o meu filhote insconsolável. Ele naquele limite da desistência, pronto para largar os bets. Vou dizer assim:
- Meu filho, não desista. Toma o teu pai como exemplo. Eu lutei, não desisti, por mais que eu quisesse, mas lutei, acima de tudo.
- E ganhou pai?
- Não, fui derrotado... Mas lutei... Serve?

O fim soa mais como um alívio do que qualquer outra coisa.

Retrospectiva 2008

Meus queridos leitores, eu, como bom blogueiro e bom menino, fiz uma retrô selecionando os textos bons que escrevi neste ano. Essa retrô serve basicamente a você, leitor que não é assiduo, mas gostaria de ter sido. Fica aqui a dica: caso você não tiver o que fazer, destrua o seu tédio com os meus melhores textos (os outros são ruins demais, não perca seu tempo).

Ok, sabemos que eu não penso nos leitores, fiz essa retrospectiva só para eu ver o que era bom e o que era ruim. Enfim, 46% dessa budega serve pra alguma coisa, divirtam-se.

Janeiro (2)
Sobre o medo
Sobre planos

Fevereiro (6)
Sobre coisas que não me alegram
Sobre a minha promessa
Sobre o homem que não existe
Sobre como eu queria escrever aqui
Sobre como queria ser invisível, ou invencível
Sobre o meu choro acoado

Março (7)
Sobre a madrugada de ontem
Sobre "Duas Doses, por favor"
Sobre o agora
Sobre o não-usual
Sobre mais uma madrugada
Sobre o sorriso
Sobre o curitibano

Abril (4)

Sobre 1º de abril
Sobre biologia
Sobre uma narração
Sobre o português

Maio (7)
Sobre essa tendência humana
Sobre a metalinguagem
Sobre a necessidade de um monólogo
Sobre o futuro
Sobre o meu jeito apaixonável
Sobre o subjetivismo
Sobre gatos

Junho (3)
Sobre Berlin
Sobre a minha infantilidade
Sobre o 78º post

Julho (10)
Sobre dançarinas
Sobre o inevitável
Sobre este
Sobre a felicidade e seus mil meios
Sobre o novo quarto
Sobre velharias
Sobre velharias, parte 2
Sobre um passado remoto
Sobre um enredo debochado
Sobre o frio

Agosto (4)
Sobre a penumbra
Sobre a tentação
Sobre "Home is where my heart is"
Sobre a cidade

Setembro (9)
Sobre a intervenção divina
Sobre os problemas
Viva la evolución!
Sobre os relacionamentos
Sobre o calor das amizades
Sobre a memória
Sobre as promessas
Miau
Retomando um velho assunto

Outubro (14)
Sobre um receio de ser esquecido
Crônica ao falecido poeta das estrelas
Nonsense
Sobre o layout novo
Chiclete
Conto de fadas
Tortura
Convite, ou evite
Cronos
C'est l'amour, c'est la merd
O dia em que a infância acabou
A parte é o todo
E o destino?
Meninisse

Novembro (9)
Big Ben
Trevo de quatro folhas
Ilusão
A crueldade do sorrir
A leoa vai à caça
Cio
Flashback
Paixão
Te conto uma mentira

Dezembro (11)
Poker
Vazio
Monstro
Natação
Abstêmio
Ombros
Santo Antônio
Coisa boba
Harmonia
Consciência
Bilhete

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bilhete

Anotei aquelas palavras prá lembrar de dizer o que eu queria. Mas ficou por isso, uma lembrança vaga de todos os sentimentos que eu queria passar por palavras. Eu entendia que, mesmo que eu sentisse, minhas palavras não sairiam. Então, sem pensar duas vezes, beijei-lhe a face e larguei nos teus ombros as poucas lembranças que eu tinha.
Era um bilhete rápido, com três ou quatro frases, afinal era só um lembrete, não uma mensagem. Como as palavras não sairiam, imaginei que você olharia aquela falta de lexico como um tiro no escuro, um ultimo suspiro. Mas não, era só o que eu queria falar. Embora eu não tivesse falado, meus olhos disseram que você imaginou muito mais. Eles diziam que você ouvira, naquelas raras frases, tudo o que eu queria dizer. Todas aquelas minhas palavras recheadas de sentimento estavam ali, jogadas num papel 3x2, pequenino, frágil e esquecível.
Pois eu prefiria que você esquecesse, conquanto não houvesse modos de lutar contra a sua memória. Como fui tolo em acreditar que você leria e jogasse no bueiro mais próximo... Agora os meus sentimentos estão presos naquele bilhete, eternamente escravos da sua lembrança.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Bicho

Queria que entendessem que a dor nas minhas costas não é dor, é peso. Queria que eu entendesse que peso é nada, tudo é nada, eu sou nada. Hoje eu queria acordar no sonho que sonhei, queria ser alguém que tivesse os seus sonhos realizados. Eu não realizo sonhos, eu sonho, eu durmo, sempre deitado na cama, sem fazer nada, esperando que esse hoje passe, pois o próximo hoje é o hoje que eu estava esperando.
Nesse meu misto de nada e nada, eu espero uma mão que me acaricie. E por mais que eu espere o carinho, sou arisco, não quero carinho, não quero companhia, quero solidão e silencio. Virei bicho, virei gato de rua.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Fim coletivo

(Eduardo Silka e Thobias Ampessan)

O vôo do pássaro
No pó sideral da Terra
Sugou toda a felicidade
Que um dia reinou.

Era o preto vendo o branco,
As cratéras tomando forma
E o deserto sendo afogado.
O cheiro da carne ia aos céus.

O dinheiro fora insubstituível,
Mas quando o medo tudo tomou,
Sobraram apenas os Deuses,
Aqueles que destruiam os homens.

A solidão o Sol sofreu.
A Lua perdeu uma irmã.
Mas os que sentiam, não sentem.
O sentir era da gente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Consciência

Queria resolver a vida, assim como ela resolveu a vida. Pôs tudo em dia, as cartas na mesa, os pingos nos is. Ela precisava limpar a consciência, ele precisava tentar de novo. Ela limpou, ele tentou. Nada de diferente do esperado, afinal cada um fez a sua parte.
Eu pensei que eu podia pôr tudo em dia, as cartas na mesa, os pingos nos is. Mas acontece que o meu negócio não é o falatório, pois se eu falar nada vai nos adiantar, vai? Já que eu só tenho bobeiras a admitir, você vai olhar pra mim com aquela expressão monótona e se perguntar por qual motivo você estivera me ouvindo. E eu, que achei que exprimir tudo resolveria, acabaria notando que, de novo, só estaria ferindo aquele orgulhinho bobo.
Talvez resolveria, caso meu problema fosse consciência, mas não é. Talvez você devesse querer resolver a vida, como ela resolveu a vida. Você podia limpar sua consciência e eu podia tentar de novo, cada um fazendo a sua parte.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal

"A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube."
Machado de Assis

Meu pai perguntava qual presente aquele garoto ia querer de Natal. Eu havia sido um anjo naquele ano, beirava os seis e fora o melhor aluno da sala em todos os anos anteriores.

- O que quer que eu peça para o Papai Noel, filho?
- Tempo, quero o Tempo.
- Quê?
- Pai, eu quero o Tempo de Natal.

A riqueza não era suficiente, portanto acabei por ganhar um Super Nintendo. Hoje posso imaginar o que passava na cabeça do pai naquele Natal:
"Ah, meu filho, um dia quero que você seja rico o bastante para poder comprar tudo o que teu bom menino pedir de Natal. E se for rico o bastante, compra o tempo prá você. Só não esqueça de fazer nossos bons momentos sempre eternos."

Harmonia

Eu admito que houve uma certa fusão das nossas salivas. Mas será que não é certo tratar esse vício pela saliva alheia apenas como um vício? Acho que por mais que tentemos, nada ia dar certo. Eu querendo o teu pescoço, você querendo a minha posse, nós dois querendo ganhar um jogo. Pois eu adoro jogos, mas com você os jogos não são mais tão divertidos. Não imagine que estou dizendo que não possa me divertir com você, muito pelo contrário. Só não posso mais me divertir contra você.

Hoje, nos olhos daquela menina, eu vi um convite. Pois os olhos eram lindos, o rosto era lindo, tinhas de ver como era perfeito o perfil daquele rosto. Mas há certas coisas que não saem das nossas cabeças. Minha cabeça é um bocado de jogos bobos, fúteis. E ao olhar aquela garota eu não pude pensar que aquele convite era para me ver sorrir, para eu fazer alguém sorrir. Eu vi, naqueles olhos, um jeito de eu vencer de novo.

Tudo ficou tão medíocre quando eu precisava da tua mão. E eu disse que sentia falta delas, como quem espera ouvir que essas mãos também sentissem saudades. Mas não, as tuas mãos foram fortes, foram o mesmo que as minhas precisavam ser. As tuas mãos já tinham outras mãos agarradas. Por mais que eu pedisse pra que largasse aquela mão, que você dizia não gostar, você disse que não, que antes qualquer mão do que a minha. Eu havia entendido, você ganhou, de novo.

Pois nós tinhamos uma harmonia. A harmonia era tanta que um dia, lá atrás, ouvi dizerem: "Vocês só foram feitos um para o outro... Tão bom vê-los juntos..."

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O Sombrero

Pois no post "Sobre o layout novo" eu disse que meu silêncio proibia que eu dissesse quais eram as semelhanças minhas e as da galáxia Sombrero. Bom, silêncio feito, hora de escrever. O Sombrero, como disse outrora, é uma galáxia morta, já que brilha por brilhar, não por ter um brilho próprio. Tudo o que resta para aquela galáxia é morrer, afinal faltou-lhe "força" para continuar a existir.

O Silka, este menino gracioso que vos escreve, é o Sombrero. Quando eu mudei de verde claro para azul escuro e a foto do pôr-do-sol para a galáxia, eu passava por um certo momento de exaustão. Digo melhor, a exaustão tomou o meu ano, mas naquele momento eu estava preparado para admitir a exaustão. E, meu leitor, eu admitir era raríssimo, hoje nem tanto. Admito ferindo o orgulho que eu tenha de ferir, conquanto que eu fale. Pois bem, comecemos por um dia que eu quis casa.
Era um dia normal, pelo que eu lembre, a unica diferença é que eu via que não tinha chances de passar no vestibular. Tudo bem, todos os dias eram assim, mas naquele dia de agosto eu conseguia dizer com essas palavras: "Eu não consigo"
Eu pensei que o meu lugar era esta cidade maravilhosa que é Curitiba, não há lugar mais belo, portanto eu tratei logo de abrir mão dos meus sonhos impossíveis, pois, acima da força do sonho, havia um complicador chamado possibilidade do sonho. A possibilidade era remota, a mesma possibilidade de o cometa Hubble ser atingido por outro asteróide, não é que o cometa foi atingido?
Então eu dei aquele toque usual pra Daisynha: "Madre, quero casa." Ela fingiu não dar bola, daquele jeito dela que me faz ter certeza das minhas atitudes. Daí me veio a força que eu precisava: a esperança dela. A mãe, talvez fosse pela palavra dos pais-de-santo nos terreiros de Umbanda, conseguia me ver dentro daquela Escola. E se ela conseguia, eu lutaria. Eu lutei, sem nenhuma esperança, lutando pra conseguir por ela, não mais por mim.

Há um problema em você se carregar numa esperança alheia: você morreu. Pode parecer metafórico demais, mas é verdade, é como ser uma galáxia morta, que não tem mais "força" para continuar a brilhar. Eu brilhei por ter algumas estrelas acesas, não por estar sempre criando novas grandiosas estrelas que me pudessem iluminar a minha desesperança.

Pois leitor, um dia eu disse que algo em mim morreu. Esse algo era a galáxia toda, o funcionamento das coisas. Eu morri faz tempo.

Palavras inquietas

Pois me deu vontade de cuspir o que eu tinha pra cuspir. Falar um pouco das tuas atitudes que me emputecem, ou falar do jeito que você consegue tratar as coisas, como se fossem apenas parte de um pequeno jogo, um jogo estúpido. Talvez até seja um jogo estúpido, afinal, sou eu que sempre aumento tudo, faço de tudo para transformar tudo num maior transtorno. Tudo aqui é grande, o jogo é grande, não é estupidez minha.
Ou eu podia falar do que eu sinto. Poderia passar horas dizendo que você me completa, ou que você longe é melhor, ou que nos damos bem quando ficamos quieto. Afinal, quando ficamos quietos eu não me ouço, você não se ouve. É esse o nosso problema, eu sou você, você sou eu. É esse o grande complicador, somos iguais.

Mas eu acabei desistindo desse drama. Achei, por mais que eles achassem que se eu ficasse quieto tudo daria certo, que nos podiamos conversar um pouco, bater um papo para dar fim ao nosso tédio. Mas não, eles estavam certos, o nosso tédio é fundamental. Pois eu digo a você, calemo-nos, já que a tendência é ficar tudo azul, como tem de ser. Só não reclame da minha barba por fazer, ou minhas 48 horas sem tirar o pijama, ou do jeito inútil que eu empurro as coisas com a barriga, pois isso tudo eu aprendi contigo.

Tomara que dê tudo certo, feliz Natal.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Causa

Acordara num lugar completamente estranho. Tudo parecia antiquado demais, velho demais, destruido demais. Chegou até a cogitar se não havia sido transportado para outros tempos, mas não demorou tanto pra ele perceber que nada era razoável na cabeça dele. Ele pensava em arcos e flechas, crianças fugindo, um lago bem extenso e uma guerra, mas uma guerra medieval, corpo a corpo.

Entrou no quarto uma mulher gorda, quando digo gorda digo muito gorda. A mulher devia pesar uns 200kg, no mínimo. Pois mesmo enorme, seus olhos eram lindos, um azul claro tão claro que doia olhá-los. A gorda vestia um vestido florido, eram tulipas roxas, ele mesmo nunca tinha visto tulipas roxas, assim como nunca tinha visto uma senhora tão obesa, nem mesmo tinha visto um alce pregado na parede (que era até um pouco horripilante).
A mulher havia trazido um delicioso café da manhã, umas bolachinhas deliciosas e uma geléia de cor indefinível. Depois de devorar a comida olhou envergonhado para a mulher:
- Desculpe, mas a senhora, seria quem?
- Senhora Vullienot, Margot Vullienot. - A estranha mulher sotaqueava um francês muito estranho. - Senhor Winsc, o senhor ficará deitado por muito tempo? Meu marido está perdendo o pouco de cabelo que ele tem, diz que se você não melhorar as crianças todas serão devoradas. - Fez uma pausa de pouco mais de dois segundos, mas que para ele pareceu durar pouco menos de duas horas. - Pois bem, não sinta-se pressionado, apenas avise quando quiser tomar banho, daí chamo uma das camareiras para banhar o senhor.
- Eu posso muito bem tomar banho sozinho, levanto já, onde fica o banheiro?
- Banheiro?
- É, uma ducha? Ou só vou lavar o rosto em uma piá?
- Ducha... O senhor não está entendendo, imagino que não esteja bem, talvez seja melhor chamar o curandeiro. Com licença senhor. - A Senhora Vullienot saiu com um ar deveras confuso do quarto imundo.

Curandeiro? Guerra? Crianças devoradas? Onde estaria Gabriel? Ele lembrava de estar andando pelo centro da cidade, depois tinha aquelas imagens estranhas de flechas e crianças correndo. Ele perguntava o que estava acontecendo. Levantou da cama atrás de resposta e se viu nú e ensangüentado. "Meu... Deus... O que aconteceu? Onde estou?" Antes de o desespero o dar forças para berrar entrou no quarto um sujeito gracioso, mas acima de tudo desesperado. O senhor Vullienot era alto, forte, charmoso, muito diferente da sua esposa.
- Vejo que ainda sangras, meu amigo.
- Amigo? Quem... É o senhor? - Gabriel estava cada vez mais confuso.
- Vejo que ainda estás confuso, meu amigo. É, bem disse Margot, é melhor o curandeiro chegar logo, pois vejo que o nosso melhor guerreiro sofre da cabeça. Winsc, você precisa se recuperar. Sei que pouco vai adiantar, talvez até lhe faça mais confuso, mas preciso lhe dizer como andam as coisas: os Pormenodes ocuparam as redondezas, as crianças da periferias já foram devoradas, os pais estão com muito medo. E você sabe bem, os Pormenodes se alimentam de medo. Procuramos deixar as crianças no Centro da Vila, conseguimos fazer com que a guerra continue a ser travada no lago, como o senhor pediu.
- Deus...
- O que? Viu algo?
- Não, só não sei onde estou. Talvez eu nem saiba quem sou eu...
- Senhor Gabriel Winsc, Vila de Guillina, Condado de Lexin. Vamos?
- ... Não tenho outra alternativa... Tenho?
- Se você quiser ver crianças morrerem, pode ficar deitado.

Gabriel pôs uma espécie de roupa de batalha, daquelas que ele imaginava nos livros do J.R.R. Tolkien. O Senhor Vullienot deu-lhe um arco dourado, pesado demais pra ele pensar em manejar. Logo ao sair da casa viu-se num lugarejo longe de tudo: casas antigas, rua de terra, árvores, milhões delas, todas se mexendo com o vento forte que levava tudo que via pela frente.
Gabriel pensava em perguntar alguma coisa, mas nada lhe soava inteligente o bastante para de ele tomar coragem para questionar sobre qualquer coisa. No momento que ele abriu a boca surgiu uma espécie de vulto negro das sombras. Agarrou o pescoço de Gabriel e rosnou com uma voz que parecia animalesca:
- O seu lugar não é aqui... Volte pra onde veio, pois não há dignidade em lutar contra homens que não sabem das suas causas.
- Senhor Winsc sabe bem o que faz aqui, luta contra vocês, seus monstros covardes! - Senhor Vullienot sacou a espada da bainha e num movimento fantasticamente rápido atingiu o monstro.
- Volte daonde veio, seu maldito! - Gritou o bicho, que caiu ao chão morto.
Os olhos de Gabriel brilharam e ele caiu.

Ao abrir os olhos via um monte de pessoas ao seu redor. Ele deitava no chão enquanto um homem lhe segurava a cabeça no colo. Por mais que Gabriel soubesse que havia algo de errado, ele sabia que estava seguro, pois estava de volta a realidade: nunca ficou tão feliz em ver pessoas normais, prédios, feliz em sentir o cheiro nauseante da fumaça dos carros.
O homem era um médico, lhe disse:
- Garoto, pelo que eu entendi você sofre de algum tipo de disfuncionalidade temporal.
- O quê? - A cabeça de Gabriel latejava.
- O senhor... - O médico grudou os lábios no ouvido do garoto e cochichou tão baixo que mal era possível ouvir. - O senhor, senhor Winsc, não vai nunca mais voltar a Guilliana... E nós, os Pormenodes, vamos devorar todas as crianças daquela vila medíocre... Não se preocupe... Só esqueça... Você não pode fazer nada... - Ele olhou fundo nos olhos de Gabriel, que desmaiou novamente, sem entender nada do que foi-lhe dito.

Acordou mais tarde em seu escritório. Gabriel Winsc era advogado, nunca ouvira falar sobre o nome Guilliana ou Pormenodes... Só sabia que odiava as crianças...

Coisa boba

Havia mais do que uma relação intrínseca entre os dois, muito mais que o desejo ímpeto de satisfazer um pouco de todo aquele prazer insatisfazível. Pois eles diziam que era isso: sexo. Afinal, que mal há em dois seres de sexos opostos se juntarem para fazer nada mais do que sexo? Ao meu ver, meu moderno ver, não é nada mais que uma grande reza a Deus, afinal, Deus gosta de sexo, dizem que Ele é putanheiro.
Era um domingo qualquer, daqueles domingos que a televisão pedia pra ser assistida, o parque pedia para ser caminhado, a cama pedia para ser deitada. Mas ele não aceitava aqueles chamados domingueiros, ele esperava fazer alguma coisa especial, sentou-se naquela cadeira velha que servia somente para os domingos (já que aos domingos ele experimentava fingir pensar no que fazer, mas nada fazia além de ficar sentado) e esperou, pois era o esperado dele aos domingos: esperar. Mesmo sabendo que não devia de fato esperar, pelo fato de não haver mais esperanças para toda aquela espera, o telefone tocou. Quantas vezes ele perguntou se um dia o telefone tocaria, possívelmente seria um domingo fantástico! Era ninguém mais ninguém menos que a Marcia, ah, amável Marcia. Marcia era uma telefonista da Embratel, perguntava se ele queria algum tipo de serviço que o fez pensar algo parecido com: "que caralho, desde quando telemarketing funciona aos domingos? será que não nos dão mais folga?"

Ao encostar o seu traseiro magro na cadeira velha ouviu a campanhia tocar. Talvez ele estivesse certo, o domingo seria diferente dos normais domingos, ou também poderia ser o Sedex que ele esperava da mãe, pois já que o telemarketing funcionava aos domingos, o correio poderia funcionar.
Nada, era a mais interessante fêmea, a mais faminta fêmea. Ela fazia 19 anos em março, não queria compromisso, muito menos sentimento, mas queria se divertir com o que ela tinha no peito (além da atração que aquele peito fazia sobre a boca dele). Ela sentia, mas não sabia admitir, ele não se importava, deram as mãos e rumaram ao quarto. Era incrível vê-los juntos, um misto de paixão adulta com paixão infantil, os dois pareciam dois amantes profissionais, mas também duas crianças brincando da mais pura forma. Era o sentimento, tudo que ela evitava.

Um dia a mãe descobriu o relacionamento pecaminoso dos dois. Pois não é que a velha a fez sumir? A menina era tola, jovem e acima de tudo muito corrupta. Não custou caro para a mãe comprar o sumiço da garota. Ela disse que tinha que ir embora, estudar, quem sabe fosse para fora do país, ou visitar os pais, sei que ela inventou alguma mentira boba que a fez nadar em um pouco mais de 4 mil reais.
Ele, entretanto, não gostou da brincadeira da mãe. Aonde já se viu gastar 4 mil reais numa criança boba? Ele disse:
- Como és tola, mãe. Se soubesse que era tão pecaminoso para você eu me ofereceria para ser comprado primeiro. Não quero nem imaginar o que você vai pagar pra sua secretária.
- O QUÊÊÊ?
- Um carro mãe, dá um carro que eu sumo da cidade.

Ele nunca mais viu a mãe, nunca mais viu sua paixão. Mas não se importava muito, já que a mãe era só mais uma carcereira na vida dele, e ela era só mais um sexo casual por quem ele era apaixonado. Obviamente, inúmeros outros cárceres e sexos casuais por quem ele fora apaixonado surgiram na vida daquele moleque inconseqüente. Pois independente das inconseqüencias, ele se divertiu.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Santo Antônio

É da minha natureza difamar todo e qualquer santo católico. Eu sou assim, vou difamando santos, vou vulgarizando Deus, vou esquecendo a minha cigana. Sem esses ícones religiosos vou perdendo a crença, daí a fé. Tão desgastante perder a fé...
Também sou assim, um ciclo vicioso, uma espécie de respiração: ora expiro, ora inspiro. Desmetafóricamente: ora cético, ora religioso. O ceticismo advém dos passos que contei ali em cima. A religião, da necessidade.
Deus deve odiar esse tipo de credor: crê quando quer crer, não quando deve crer.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Bitchin

Acho que esse é a minha briga com a religião. Todas dizem bem claro sobre quem dar, receberá. Quando eu era Wicca eu acreditava numa tal de Lei Tríplice; quando você apontar o dedo indicador pra frente seus outros três dedos voltam pra você: Tudo o que você desejar para alguem, será devolvido em três vezes. Então eu procurava sempre fazer o bem, desejar o bem, ser o bem. Talvez fosse só mais um pouco do meu egoísmo, enfim.
Pois bem, sorte que sou homem. Imagino que se eu fosse mulher eu seria uma vagabunda. Explico, eu dou muito, dou tudo do melhor. Eis a briga, dar, mas nunca receber. É sempre lutar, é sempre fazer, é sempre dar, mas eu não vejo muito de receber. Eu estou sendo exagerado ao dizer que eu não recebo, pois eu recebo, mas há certas coisas que lutamos para recebermos e que nunca, por mais que demos, recebemos.

Há um Deus, inexorável, ou não? Já me pergunto se não há um Sol, uma Lua.
Há um tempo, permanente, ou não? Já me pergunto se não há um Hoje, apenas Hoje.
Pois bem, cansei de dar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ombros

Ela não era bonita.
Não era verdade que era feia,
Só não era bonita.

Mas tinha os ombros
Mais lindos que meus
Olhos já tinham visto.

Admirava-os como quem
Admira a Serra do Mar,
Virgem e intocável.

E me sentia criminoso,
Desejando desvirginizar e tocar
Aquelas terras desconhecidas.

Imaginava os lábios
Rastejando sobre a pele,
Viajando de pinta a pinta.

Pois bem, não era bela,
Mas os ombros...
Esses eram maravilhosos...

Abstêmio

"A abstinência é a renúncia voluntária à satisfação de um desejo ou necessidade."
Lalande, 1993

Pois há quem diga que a abstinência é sofrida. Mas eu refuto, não é sofrida. Na realidade, aos meus olhos, a abstinência é um pouco de auto-consciência, de auto-evolução.
Estava com os amigos, divertindo-me como normalmente, daí recebo um convite, que há um ano atrás era o convite mais corriqueiro possível: vamos sair para beber? Então eu aceitei, já que não há nada melhor que aproveitar as férias como elas são: férias. Mas fui refletindo, filosofando, e por mais que eu tenha um bocado de lembranças (ou pedaços de lembranças) boas de todas aquelas deliciosas tequiladas, eu não sinto falta. Se não sinto falta, não preciso; não há motivação para eu me ver viciado novamente.
Talvez eu possa soar um tanto puritano, ou até mesmo medroso, mas não se trata de pureza, de religião, ou até mesmo de medo; trata-se de uma não-necessidade. Deus nada tem a ver com a minha revirginização, ou mesmo com a minha sobriedade. E não tenho medo de reexperimentar os melefícios a ponto de tornar-me necessitado desse vício. Não é nada disso, é apenas um "estou bem como estou".

Pois se eu lhe contar, meu leitor, que até mesmo dos jogos eu cansei, você acreditaria? Fiquei farto daquele jogo unilateral de ser o mais forte, de evitar dizer sentimentos por puro orgulho. Unilateral por só eu ser o jogador, do outro lado não tinha nada além duma idealização dum rival que buscava vencer, assim como eu fazia. Que tolo, não houve rivalidade em momento algum, eu criei uma guerra imaginária.

Então eu lhe digo, que dei fim aos desejos, às vontades. Talvez até eu me sinta monótono, mas que há de mais aconchegante que esse sentimento de segurança?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Natação

Pode parecer um pouco de indiferença minha quanto às surpresas da mãe. Não é indiferença, é um misto, sempre misto. Primeiro que não sei demonstrar surpresa, descobri isso no meu aniversário, festa surpresa; segundo que tenho pensado muito em merecimento, e eu não merecia surpresa alguma. Pois bem, é nessas horas que penso que Deus deve ser um tanto irônico, deve gostar de rir dos humanos, afinal, não teria outra explicação para Ele nos dar coisas que não merecemos, mas o que merecemos Ele não nos dá.
Eu sabia que fracassaria, sabia faz tempo, mas não desisti. A luta é necessária e, acima de tudo, muitíssimo mais importante que a fé e a esperança, então eu lutei. No final das contas, mesmo sabendo que fracassaria, senti que fui impotente, aliàs, sinto que muitas pessoas vão sentir o mesmo ao me ver. Daí da impotência mudo pra prépotencia, já que digo "me contento com o que tenho". Acontece que o que eu tenho é grande, é forte, portanto vê-se que eu penso prépotentemente, pensando que o que eu tenho é pouco, não suficiente.
Então te digo, meu leitor, que eu também sou fraco e forte. Fraco por não lutar até o fim, me sentir vencido antes mesmo de ter realmente perdido, mas eu tenho explicações, eu sabia que não dava, se eu fizesse a prova eu corria o risco de procurar o meu nome na lista de aprovados e não lê-lo, seria catastrófico! Forte por ter lutado todos esses anos, que por mais que pareçam inúteis, já que eu não passei, foram essenciais na minha formação como gente, além de ter me posto outra faculdade na minha frente.

Ainda que eu tente por tudo na mesa, os pontos fracos e fortes, não consigo deixar de me sentir um nadador transatlântico, que se preparou para a travessia do oceano, nadou, nadou, nadou, mas morreu na praia. Vai ver é por eu ser como um atleta pré-adolescente, por mais que eu treine, jamais vou me acostumar com o meu corpo desengonçado que cresce sem parar.

Eu, meu leitor, morri.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lutar

"Não prometo vencer, mas lutar; trabalharei com alma."
Machado de Assis

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Monstro

O medo é a primeira sensação humana, a mais instintiva delas. Quando somos crianças criamos nossos monstros de modo a concretizar a abstração que é o medo. Talvez seja necessário que a criança tema seus monstros, já que o sentimento medo é tão presente, mas ao mesmo tempo tão complicado, portanto difícil de ser entendido por um pimpolinho.
Quando vamos crescendo, nossos medos vão sendo mais reais, mais vivos, ainda que menos concretos. Os monstros de outrora passam a ser situações: dinheiro, violência, dentre outros (dentre outros é: tenho preguiça de dar exemplos).
 
Quando eu era criança, meu monstro era o Velho-do-Saco. Ok, o monstro não fora criação minha, foi a vó que contava que o Velho pegava as crianças ruins. Pois eu tentava ser uma criança boa. Aliás, a vó também dizia que na presença das crianças boas os sábias cantavam, os sabiás adoravam cantar para os bons meninos. Pois eu tinha motivos prá ser bom: Velho e sabiás.
 
Quando eu sou esse moleque, meu monstro não é mais o Velho-do-Saco, ou o Monstro-da-Escada, ou fantasmas. Meu monstro é muito mais assustador. Eu costumo não pensar sobre, pois quem pensa sobre seus medos fica nervoso. Em meio de evitar a fúria das borboletas no estomago eu não penso. Acontece que estamos na véspera, é hora de pensar. Meu monstro vem me perseguindo durante esses três ultimos anos. Pois bem, já que não podemos fugir, lutemos.
 
Maldito vestibular...

domingo, 7 de dezembro de 2008

Domingo

Quando me pergunto do merecimento penso nos domingos. Afinal, os domingos valem por dois dias da semana, portanto uns de 20% de trabalho a mais.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vazio

Há sentimento mais incômodo que a vontade de mãe?
É incômodo por aniquilar todas as outras vontades, desde dormir a se divertir.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poker

Queria saber jogar poker. É um jogo tão belo, tão inteligente, além de carregar aquela imagem rica, nobre.
Pois bem, um dia me disseram: jamais vicie-se em jogos, pequeno Du, pois os viciados não encontram lugar ao Céu.
Agora, numa reflexão rápida, percebi que evitei aprender o jogo pelo lugar ao Céu. Acontece que eu já tenho tantos outros vícios...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sabiás oprimidos

As cigarras que aqui gorjeam,
Não gorjeam como lá.
Aqui não se calam por um segundo!
Malditas, será que não conhecem o respeito pelo silêncio?
Será que não sabem que gostamos é do canto das aves?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Te conto uma mentira

O doutor estava a caminho de casa, o trabalho fora estressante e a única coisa que ele esperava era deitar-se na cama. Ele era um desses sujeitos que não suportava trabalhar aos domingos, pois já lhe bastava os outros cansativos dias.
Eram quase 17h quando uma uma pedra atingiu o seu vidro. Um garoto magrelo havia jogado um pedaço de tijolo no carro.
- Porra seu moleque, você está louco? O que você tem na cabeça, seu merda? - A raiva do doutor era tão grande que bastava um suspiro para ele surrar a criança.
- Desc-desculpe senhor, - disse o menino, olhando para assustado para baixo - tentei parar outros carros, esse foi o único jeito que consegui fazer algum parar. O meu irmão caiu da cadeira de rodas e está machucado, não consigo lenvantá-lo do chão.
 
O médico sabia o que fazer, enfiaria aquela arrogância na morte próxima, num castigo de Deus, em algum lugar que ele não gostava nem de imaginar. Por que será que somos tão cruéis? E a tristeza tomou conta daquele senhor estressado. Será que fora o estresse? Será que é um sinal? Pararei de trabalhar aos domingos!
O doutor não disse nada, pois a vergonha era tanta, juntou o menino mais velho que apenas ralára os joelhos, daí sim pediu desculpas:
- Meus pequenos, sinto muito, é o estresse. Sou médico, levo vocês ao hospital, só para fazer um curativo nesse arranhão.
 
As crianças já estavam gratas com a ajuda que ele dera, não precisavam de mais. Talvez precisassem de um pirulito e um abraço. Assim deu o doutor, sem nem saber que era disso que elas precisavam.
Ele entrou no carro, esqueceu dos cacos de vidro, voltou pra casa. Que tristeza a dele.
 
Ser escritor me fez despreocupado em definições: conto ou fato? Contos são mentiras, são criações ideológicas da mente; fatos, verdades, um passado que aconteceu. Portanto nota-se que acabou a preocupação perante: é mentira ou é verdade? Só me restou um senso crítico: o texto é bom? Se é bom, acredito cegamente, se não for, não acredito, mesmo que seja a mais pura verdade.
Ser escritor sugou a minha capacidade de discernir certo de errado, justo de injusto, verdade de mentira. Pouco me vale, importa-me o texto.
 
(Ser escritor, leitor, é escrever. Não é porque sou escritor que eu escrevo bem, apenas escrevo.)

sábado, 22 de novembro de 2008

Paixão

"Confesse que ama, que não é indiferente a esse sentimento inexprimível que liga, ou para sempre, ou por algum tempo, duas criaturas humanas."
Machado de Assis
 
Há um equívoco no uso da expressão platônica. Diz-se platônico quando quer dizer utópico. Paixão platônica é aquela que não é expressa abertamente, pois o apaixonado é, na realidade, alheio a interesses ou gozos materiais. O platonicismo é uma espécie de masturbação mental, na qual há o querer, mas não há o fazer. Não há por inúmeros motivos.
A paixão utópica é a impossível, em que, ou o apaixonado não pode exprimir os seus sentimentos, ou a relação do casal não pode acontecer, mesmo que ambos sintam abertamente. A utopia é uma espécie de prisão, na qual há o querer, mas não há o poder. Também não há por outros infinitos motivos.
 
Sou alvos das duas paixões, ora faço o silêncio e guardo o sentimento, mantendo diligente a minha máscara de sujeito focado, ora faço o silêncio e dissimulo o sentimento oprimido pela altivez. Desculpe-me Machadão, mas não confesso.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Flashback

É tanta lembrança, tudo tão rápido.
É a insônia carregada na madrugada,
É o olhar que diz muito sem dizer nada,
É a voz ao pé do ouvido,
É o suspiro no pescoço,
É uma mordida no ombro,
É o que é voltando a ser o que era.
 
... Ah, o pescoço, o calafrio...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Corcel Negro

"A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia, e só insânia."
Machado de Assis
 
Uma vez escrevi sobre ser poeta, era algo como "domar as palavras pelo meandro da escrita". Eu também dizia que o que me faltava de poeta era a falta de habilidade de controlar o descontrole do coração, daí saiam todas as palavras.
Escrever é sempre bom, a tendência é sempre melhorar, ou pelo menos não piorar. Eu não piorei, mas sim aprendi a controlar aqueles dizeres descontrolados. É como se eu tivesse posto rédeas nas minhas mãos, agora sou eu que as comando, antigamente era a lapiseira que as comandavam.
Escrever não é só bom para melhorar a escrita, é também uma terapia. Nisso eu posso dizer que não só não piorei como também melhorei. Creio que as rédeas não foram postas na mão, mas sim no meu todo. Agora não manda mais a insanidade, manda a razão.
Hei de ser um corcel, daqueles selvagens e solitários que cavalgam por belos campos virgens. Corcel que, pela poesia, foi domesticado e aliciado. A escrita me fez calmo, me fez dócil, me fez feliz.

domingo, 16 de novembro de 2008

Cio

"Sexo é vida, se você tem dificuldade de ereção, fale com o seu médico."
(...)

Que há de mágico no amor senão o silêncio?
Que há de mágico num relacionamento senão o cio?
Que há de mágico no beijo senão o sexo?

Que há de mágico na abstinência?
Não há nada de mágico, não é se aproximar de Deus, de forma alguma. É aproximar-se do inferno, Deus gosta é do Nirvana, Deus gosta é do prazer.

Nosso Deus gosta é do cio.

A leoa vai à caça

"O que ele amava outrora, como bem bem mais sagrado é o 'Tu deves'. Precisa agora descobrir a ilusão e o arbitrário, a fim de conquistar depois de um rude combate o direito de se libertar deste laço; para exercer semelhante violência é preciso ser leão."
F. W. Nietzche
 
Ah... Não sei... Sou um gato...
Eram tantos sagrados que nem sei bem ao certo o que hoje são dores, o que são horrores, o que são amores. Eu sei que a ilusão foi inundando os meus sentimentos, mas foi uma ilusão tão boa, tão segura, tão verdadeira! Por que mesmo eu preciso ser livre?
Conquanto eu tenha de sobreviver, ou melhor, viver, eu vou buscando as verdades que eu havia escondido. Como é bom buscar as verdades do passado, pois é lá que escondem os ódios que alimentam o leão. Mas eu torno a dizer que eu não quero o ódio, eu quero o aconchego que a ilusão me deu. Além de o passado alimentar, também, a ilusão, apagando  o ruim, dando ênfase ao que foi bom. Me pergunto se de fato vale a pena buscar as verdades.
É justamente a dicotomia bem X mal que me cansa do passado. Pra sobreviver preciso procurar as verdades outrora dissimuladas, mas eu não quero a força do leão, pois leão eu já sou.
Aliás, sabes que leão é vadio, não sabes leitor? A força dele eu sei que tenho, só não tenho o empenho de lutar para ser livre, assim como o leão não tem para caçar.
 
Elas querem igualdade, terão igualdade: A leoa que vá caçar.

sábado, 15 de novembro de 2008

Borboletas

Chegou aquele precioso momento em que a palavra "vestibular" me faz sentir como um pré-adolescente a caminho da "grande festa do ano".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A crueldade do sorrir

"(...) as paixões instintivas são muito mais fortes que os interesses razoáveis."
Sigmund Freud
 
É a minha razão que tende a ser superior ou os meus instintos não são tão selvagens? Acho que a razão que é farta. Digo que é, pois eu sou que nem um cão, irracional, sempre preparado para o primeiro cio que me aparece. Esse instinto inunda a minha boca com vontades, com verdade, mas como sou tão dissimulado?
É a razão, que ultrapassa os limites da força animal. Essa razão me faz incrivelmente monótono, mas evita o fazer sorrir alheio e o meu fazer sofrer. Sou um tanto orgulhoso, outro tanto egoísta... Aqui vale o meu sorrir e o sofrer alheio...
 
O que me fez tão cruel?
A tua crueldade quando eu tinha fome.
 
O que te fez tão cruel?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Quilômetros

A distância é um ladrão
E não há policial que a pegue.
Foge, maldita, pois se te pego...

domingo, 9 de novembro de 2008

Ilusão

Nascer, crescer, fazer dinheiro, casar, fazer filhos, fazer mais dinheiro, aposentar-se, fim.
Depois que meu filho único foi embora, quando ele fez 21 anos, comecei a me achar meio velho. Crise boba de meia idade. Digo que era bobo, pois de velho eu não tinha nada. Era assim, trabalhar e aproveitar.
Pode parecer meio cruel ao dizer isto, mas como foi bom quando ficamos sozinhos de novo, como no início do casamento. Assim fomos, eu e o meu amor, apenas, até ela adoecer, e falecer. Foi quando ela se foi que a crise deixou de ser crise, eu de fato fiquei velho.
Não só velho, como solitário. O que eu faria do meu dia? Eramos nós dois, sempre unidos, brincando como crianças, como se a infantilidade ressurgisse todos os dias. Mas ela partiu, e meus dias não eram mais infantis, eram velhos. Dias velhos são aqueles dias de inverno, frios, chuvosos, mórbidos.

Foi em 96, dois anos após o falecimento da minha amada, que meu filho me visitou em um fim de semana aleatório. Ele costumava me visitar nos feriados, nas férias. Como era bom ver meu garoto de novo! Mas em 96 as coisas foram diferentes. Era um domingo qualquer, ele apareceu na minha porta, com um buquê de flores maravilhoso.
- Meu filho, como é bom te ver! Aconteceu alguma coisa? - Fiquei preocupado, ele viajara 12h para me ver, será que não teria acontecido algum imprevisto?
- Foi saudades, meu pai, só saudades. Queria lhe ver. As meninas não puderam vir, ficariam muito cansadas e teriam de faltar aula amanhã. - Por um momento fiquei triste, queria tanto ver as minhas duas pequenas netinhas, tão belas, tão doces. Passou essa dor em um abraço gostoso que o meu menino me deu.

Fiz o prato preferido dele para o almoço, jogamos conversa fora, buscamos lembranças da vida de menino dele, depois da minha vida de menino.
Nada me fez mais vivo que aquele domingo.
Na realidade, a vivacidade surgiu aí. Como era bom viver, agora eu tinha um motivo. Meu pequeno passou a me visitar todos os domingos, acho que notou que eu sofria arduamente de solidão.

Foram 4 meses de deliciosas tardes domingueiras. Nada era mais vantajoso do que trocar o Faustão pelo meu garoto. Mas um domingo ele não veio, eu esperava-o com aquele mesmo amoço de sempre.
Talvez ele estivesse cansado, ocupado, deixei-o cuidar da vida. Seria fácil aguentar outra semana tediosa para vê-lo.
E a semana passou, mas ele não apareceu de novo, daí fiquei preocupado.

Por mais que não gostasse, eu liguei pra ele.
- Meu filho, que saudade!
- Pois é pai, tempos que não nos falamos, ando ocupadíssimo!
- Ah, está explicado o porquê de não vir me visitar nos ultimos dois domingos, não é mesmo?
- Como assim, ultimos domingos?
- É, fiquei lhe esperando.
- Mas, por que?
- Porque eu já presumia que você viria.
- Como presumiu?
- Me acostumei com as suas visitas semanais, portanto achei que viria.
- Mas que visitas? Fazem quase 6 meses que não o vejo!
- Não? ... Tudo... bem...

Agora fazia sentido, como nós comemos tanto e mesmo assim sobrava almoço?
Como as flores que ele trazia nunca estavam nos vasos no dia seguinte?
Como nós não cansávamos das mesmas, exatamente as mesmas, conversas?

Como a solidão me degradou tanto?

sábado, 8 de novembro de 2008

Tosca

Fiquei feliz com a grande descoberta do dia: é mito que somente a língua portuguesa tenha uma palavra exclusiva para "saudade".
Não só fiquei feliz, mas também me senti estúpido ao acreditar em tamanha besteira.
Enfim, a felicidade veio devido ao meu anti-ufanismo, acredito.


Saudade existe, independente da raça, do credo, da etnia, então não haveria motivos para que nenhum outro povo nomeie esse sentimento.
Fiquei pensando se não haveria uma língua que não nomeasse o amor, a felicidade, a dor.

(Saudade: do russo tosca, do alemão sehnsucht, do japonês natsukashi, do latim desiderium, do grego antigo póthos)

... Que saudade!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

P'an Ku

"A criação do mundo não terminou até que P'an Ku morreu. Somente sua morte pôde aperfeiçoar o Universo: de seu crânio surgiu a abóbada do firmamento, e de sua pele, a terra que cobre os campos; de seus ossos vieram as pedras, de seu sangue, os rios e os oceanos; de seu cabelo veio toda a vegetação. Sua respiração se transformou em vento, sua voz, em trovão; seu olho direito se transformou na Lua, seu olho esquerdo, no Sol. De sua saliva e suor veio a chuva. E dos vermes que cobriam o seu corpo surgiu a humanidade."
(Século III)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Metamorfoses

"Antes de o oceano existir, ou a terra, ou o firmamento,
A Natureza era toda igual, sem forma, Caos era chamada,
Com a matêria bruta, inerte, átomos discordantes
Guerreando em total confusão:
Não existia o Sol para iluminar o Universo;
Não existia a Lua, com seus crescentes que lentamente se preenchem;
Nenhuma terra equilibrava-se no ar.

Nenhum mar expandia-se na beira das longínquas praias,
Terra, sem dúvida, existia, e ar e oceano também,
Mas terra onde nenhum homem pode andar, e água onde
Nenhum homem pode nadar, e ar que nenhum homem pode respirar;

Ar sem luz, substância em constante mudança,
Sempre em guerra:
No mesmo corpo, quante lutava contra o frio,
Molhado contra seco, duro contra macio.
O que era pesado coexistia com o que era leve.

Até que Deus, ou a Natureza generosa,
Resolveu todas as disputas, e separou o
Céu da Terra, a água da terra firma, o ar
Da estratosfera mais elevada, uma liberação.
E as coisas evoluíram, achando seus lugares a partir
Da cega confusão inicial
O fogo, esse elemento etéreo,
Ocupou seu lugar no firmamento,
Sobre o ar; sob ambos, a terra,
Com suas proporções mais grosseiras, afundou; e a água
Se colocou acima, e em torno, da terra.

Esse Deus, que do Caos
Trouxe ordem ao Universo, dando-lhe
Divisão, subdivisão, quem quer que ele seja,
Ele moldou a terra na forma de um grande globo,
Simétrica em todos os lados, e fez com que as águas se
Espalhassem e elevassem, sob a ação dos ventos uivantes [...]"
Ovídio (8 d.C.)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Gênesis 1:1-5

"No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou à luz de dia e às trevas noite. E fez-se a tarde e manhã: o primeiro dia."
(400 a.C.)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Trevo de quatro folhas

Sorte. No desespero eu perguntava: Mas por que sorte?
A idéia de tomar o trevo como símbolo surgiu do mito dos Leprechauns, duendes irlandeses. Eles são sempre representados na companhia de trevos grandes. Daí digo-lhe: a relação Leprechauns-sorte é ínfima! Considerei que de fato haja um pingo de intrisecularidade nesse dueto, explico em seguida.
Os Leprechauns são os duendes que guardam os potes de ouro aos pés dos arco-íris, são também os duendes que amam o dinheiro, portanto roubam moedas que os humanos vão largando pelos cantos.
Disse que a relação Leprechaus-sorte ser ínfima por ser, na bem da verdade, uma relação dinheiro-sorte, já que a economia requer, acima de tudo, sorte.
Mas então por que temos esse simbolo distorcido de que trevos de quatro folhas trazem sorte? Não deveriam ser símbolo do dinheiro?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Falta tempo

"Inventaram o 'ler dinâmico' (...), por quê não inventam o 'sexo dinâmico'?"
Rubem Alves

Parece irônico apontar que os livros de Machado de Assis nunca foram os mais vendidos, já que ele é considerado um dos ícones da literatura brasileira. Na realidade Machado nunca esteve no topo das vendas. Há cem anos atrás, quando faleceu, seus textos ainda eram extemporâneos e não faziam sucesso, hoje a leitura não faz parte da realidade brasileira.

Não só o Brasil, como o mundo, tem entrado em processo de agilização. O tornar ágil do trabalhador globalizado proíbe esse de usar o seu tempo para ler um livro. Ler dispende muito tempo, já que se trata de um mastigar de informações, não de decorar um texto alheio. A realidade do país é outra: degustar a informação já mastigada, proveniente das notícias da televisão e da internet. Essa atitude, a princípio, parece inofensiva, já que os hábitos da vida tecnológica tonaram-se universais, mas ela acaba criando uma imagem negativa e vulgarizada sobre a leitura. Ler tornou-se sinônimo de gastar tempo.

Os sofredores não são só os escritores, que acabam sem compradores dos seus livros. Sofrem também os próprios não-leitores, que abdicam o tempo da leitura para outro tipo de lazer. Ler incita o pensar e permite estar sempre em contato com as normas da Língua, possibilitando um escrever e um falar correto. Portanto, ler jamais é sinônimo de gastar tempo.

domingo, 2 de novembro de 2008

Big Ben

Uma pergunta que todo pensante se faz é: de onde viemos?
Por mais pensante que eu seja, isso jamais fora parte das minhas questões. Pouco me vale a explicação do passado. Vai ver é aquela premissa: Passado... e só...
Daí me perguntam em que início eu acredito, se de Deus, se dos cosmos, se do Ser, se do Não-ser, se do Nada absoluto, ou ainda se jamais viemos, sempre estivemos. Digo o seguinte, estou aqui, leitor.

Leitor, uma coisa que eu jamais esperaria era tomar gosto pela Lua, pelas estrelas, pelo passado que o Céu tem pra nos contar. Digo que jamais esperaria pelo fato de o passado ser o grande Cupido dessa paixão. Enfim, apaixonei-me, nada mais belo que a Lua de ontem: um filete branco, uma estrela logo abaixo, bem brilhosa (no caso Vênus).
Num momento de desespero acabei me perguntando se Astronomia não era uma boa. Acontece que Astronomia não dá dinheiro! Antes da paixão pelos astros apaixonei-me pelo dinheiro! Lembro que eu recebia uma mesada de cinqüenta reais quando pequeno, o gastar era inviável, daí juntei 600 contos pra comprar um furão, enfim, o fato é que eu não gastava por nada, já que o dinheiro era a minha paixão. Sempre pão duro, obviamente.
Vamos voltar a primeira escolha: Engenharia. Poucos sabem o porquê da Engenharia. Debandei pro lado da Astronomia sem contar pra ninguém. Engenharia com um pingo de Espaço, Universo.

Houve uma fuga do assunto, desculpe-me leitor. Explico o motivo. Eu, como disse ali acima, não me preocupava com o início, muito menos com o passado. Mas fui conhecendo a história do programa Apollo, que levou o homem pra Lua, fui conhecendo a história da curiosidade que a humanidade tem pelo Ínicio. E é a Astronomia que tem a mais bela das perguntas: o que houve antes do Big Ben?
A pergunta é bela pois transcende religião, juizo de valores, até mesmo a imaginação dos que criam a teoria.

E Deus? Acredite, eu não acredito que ele criou o mundo. Mesmo assim, anda aqui comigo. Deus é mais uma expressão vazia, Deus é tudo, é nada, sou eu.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Faço porque queço

Eu podia lhe ensinar o que sou caso você quisesse me entender. Confesso que lhe entendo, sou eu que quero lhe entender, você que se divertir.
Confesso que gosto dessa brincadeira. Mas, não se espanta com o meu ser? Tão negro, tão mórbido, tão complicado!
Eu sei, sou eu que quero você.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meninisse

Como é boa a paixão
De criança!
Eu me esforço, juro.
Mas é complicado
Fingir o desdesejo...

domingo, 26 de outubro de 2008

E o destino?

Fugiu de casa aos dez, morava no meio do mato perto do zoológico. Se alimentava dos peixes do rio, das laranjas e dos passarinhos da laranjeira.
Um dia os peixes acabaram devido à poluição. A água, portanto, ficou imbebível, e ele passou fome e sede. Quatro anos vivendo uma confortável vida de homem das cavernas o fizeram experiente no quesito sobrevivência... mas sem água?
O garoto foi pedir ajuda, lhe deram uma pipoca doce e ele fugiu, grato, porém assustado. Ele, como um gato furtivo, passou a pedir comido ao pipoqueiro diariamente.
Um dia o pipoqueiro deu mais que uma pipoca. Deu ao garoto um banho, uma casa, uma mãe. Essa mãe deu ao pobre selvagem uma cama, um carinho, um futuro.
Aquele selvagem sonhava com revolução, com dominar os animais do zoológico, mas o futuro fez algo ruim com ele. Mas que tristeza ver o pobrezinho largar a anarquia por ser acariciado, ser alimentado, ser acostumado, ser domesticado. Tão triste ver o que aquele pipoqueiro causou na vida do nosso pequenino.
Chorei ao ver o meu selvagem tornar-se um pobre bilionário... Que tristeza...

sábado, 25 de outubro de 2008

A parte é o todo

O problema é a dislexia. Ou a desuniformização dos meus valores. Na parte sou o foco, um forte que jamais deixa-se ser levado. No todo eu sou isso... tudo e nada. A mais antitésica e pleonástica das figuras.

Sou tão disfuncional que nem a parte Silka remete o todo Eduardo, já que Silka existem três. Talvez essa inviabilidade dos meus tipos me torne um pouco exigente com o meu eu... ou talvez me torne apenas um sem-identidade.

O orgulho do sobrenome entra em conflito com o desorgulho do espírito. A fama contrapõe o meu gosto pela solidão. Já que toquei na solidão: por quê diabos as pessoas lutam contra o silêncio e contra a solidão?

O silêncio é meu amigo, o mais nobre deles. A solidão é minha amiga, a melhor delas. O ser humano não gosta dos dois, pois a única companhia que tem é dele mesmo. Essa companhia não é a mesma que a de um espelho, visto que esse remete apenas a uma imagem. A companhia é do espirito, do ser, mas não há quem tenha coragem de conhecer o seu verdadeiro espírito, o seu verdadeiro eu.

Todo eu é ruim, mal. O homem é um bicho de maldades, por isso não é boa companhia. Daí digo-lhe, leitor, sei conviver comigo mesmo sem problemas. Amo a minha presença, não por puro egoísmo, mas por eu lembrar de quem sou.

A sociedade impele o homem a criar os inúmeros eus: o eu social, o eu amante, o eu rude, o eu solitário... Sendo o solitário o verdadeiro eu. Sei que não sou bom, mas me conheço um tanto que me permita não me assustar com a solidão, com o silêncio, me permite uma conversa pautada de inúmeros assuntos comigo mesmo. Mas o capitalismo exige, prontamente, o eu social, sempre o social. E os homens, por sob as suas máscaras de desejadores de dinheiro, vão esquecendo dos seus verdadeiros traços. Aquela máscara passa a ser a própria pele, a própria face.

Acostumados com o sorriso dissimulado da máscara, o homem se apavora com o silêncio. No silêncio ele vê o seu rosto calejado, suas olheiras de cansaço, suas lágrimas rancorosas, seu olhar assassino. Portanto o medo impede de saber se, por sob a máscara, há uma bela face, já que evita-se a solidão e o silêncio.

A minha máscara é o silêncio, é o pensar, é o dissimular. Toda máscara é um pouco da minha máscara, mas a minha tem um pouco da minha face: o silêncio. Gosto do verdadeiro eu, não pela beleza, mas pelo silêncio que a putridão do meu coração explicita.

A parte: o silêncio; o todo: o silêncio. Guerra tosca que existe em mim, onde a minha máscara não gosta de ser máscara e o meu eu gosta de se mascarar de máscara. Eu, meu leitor, gosto de ser eu, mas não devo... Só devo na minha confortável solidão...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Episódio S08E21 (com spoilers)

- Vamos desenterrar nossas mais obscuras perguntas e verdades?
- ... Fale.
E ele falou... Mas só ele...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Jose Cuervo Especial

Oi, me vê um suco de laranja, por favor?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O dia em que a infância acabou

Roubou-me a pureza
Aquele Carlton Longo roubado.
Afanado às pressas do cinzeiro do avô.
Cigarro grande demais para as mãos de menino.

No primeiro trago
(Ou na primeira tentativa)
Dumbo voou da minha mente.
Ele que era meu amor, virou minha dor.

Foi-se todo o desejo pela proteção.
Foi-se todo o desejo pelo carinho.
Veio o desejo pela juventude transviada.
Veio o desejo pela independência.

Mas o pré-aborrencimento acabou,
Os aborrecimentos também se foram.
Então por que não assistir Dumbo?
Não reviver a querida infância?

Porque a vida é cronologia.
Porque a infância é o início.
A juventude é o meio.
A maturidade é o fim.

Maldito cigarro que roubou minha inocência.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre os quebra-cabeças

Já não procuro entender.
É que ninguém mais presta, inclusive eu...

sábado, 18 de outubro de 2008

C'est l'amour, c'est la merd

Eu amo! Eu Amo! Amo! Amo!
Amo... Amontoado de besteiras.
Sepulcro íntimo
Que desperta o calor.

Amor, desejo,
O sexo dos olhares
Maljulgados pelos passantes
Passando por passar.

É morbido o sabor
Dessas palavras que soam bem.
Soar bem é inverdade.

Eu não amo.
Eu, meu amo,
Eu te amo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Shut'fuckin'down

Cheguei nesta minha Terra-de-Clima-Estranho um bocado contente. Mas me faltava um algo. Esse algo causou uma espécie de shutdown, uma barreira criativa.
Sempre reclamei da minha falta de criatividade, acontece que escrever assiduamente me fez criativo. Agora, criativo, reclamei da falta que escrever me fazia. Desde domingo eu não havia criado nada, nem um mísero texto.
Como viciado em decadência, como um ex-bêbado que sou, disse: "onde está minha vontade de escrever?", como tinha perguntado há uns dias atrás por onde andava a minha vontade de embebedar-me. Este vício deve (e creio que já foi) ser largado, mas, infelizmente, aquele não deve.
O problema no shutdown não foi "largar vício", mas realmente sentir falta de uma necessidade. Explico o drama, leitor. Quando deito para dormir, o sono não vem, enquanto a música toca eu escrevo, mentalmente. São texto que nunca encontram o papel. O triste é que eles, normalmente, são boníssimos, infinitamente melhores dos que escrevo no lúcido estar-acordado. Essa semana me deitei, me revirei, mas não criei. A insônia que me dura 20 minutos com os textos sem fim duraram 60 minutos sem eles, o sono custou a aparecer.
Graças ao tempo (não sei o motivo do tempo, mas tinha que agraciar alguém) sinto cheiros misturados: o velho cheiro da vontade de criar com este novo perfume (que ainda me soa não-eu, mas me agrada bastante).

Criar, o verbo está chegando!
Favor esperar uns dias, almejado leitor.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Amigo se'ncontram no dedos!

É claro!
... Ou parecia.
Foi caro!
... Ou poesia.

Pode ser o tempo,
Talvez Hoje.
Neve, nunca!
Mas é fria a tua pele.

Agora ele vai entender,
Ou quem sabe vai ouvir.
Não temo, não vai me bater.
E quem sente, vai sumir?

Sento no chão duro
Só pra sentir o Sol,
Ouvir o som de todos os sons
Fingindo que durmo.

Não hei de dormir,
Mas quando me'ngano
Que motivos tenho pra'cordar?

Fugir.
Correr.
Viver.

Rotina.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cronos

Qual a vantagem de antecipar o amanhã?
Futuro: uma boa desculpa para o pasado.
Pra mim, é Hoje.
Estático, parado, nada aconteceu, nada acontecerá.
Está tudo aqui, só não conseguimos ver ainda,
Muito menos sentir.

sábado, 11 de outubro de 2008

Convite, ou evite

Olho pras flores como olho pros livros... Pelo menos assim o fiz, quando olhei com uma curiosidade que nunca havia experimentado. O olhar discreto nos olhos das cores, dos cheiros, dos exóticos formatos. Curioso e discreto, procurando me envolver, sorrir e chorar com elas. Experimentando um novo sentimento: experimentar sentí-las como flores, não como seres. Como obra de Deus, não obra duma reprodução caótica.

Olho os livros como quem olha quadros de arte... Pelo menos aprendi assim, quando olhei para eles como quem vê arte, não letras. Acho que tudo começou quando eu e as palavras nos fundimos, num casamento agradável. Via-as como quem vê um inimigo, pois a Língua era uma das minhas maiores inimigas, juro que ainda tenho dificuldades com coisas como: o que diabos é um advérbio? Hoje elas são mais como amantes sedutoras, às vezes fiéis, às vezes sorrateiras, mas sempre me fazendo completo (a vantagem de ter várias amantes é jamais sofrer de solidão).

Olho os quadros de arte como quem olha olhos... Pelo menos eu olhei assim, buscando interagir, sempre aprovando ou desaprovando com um olhar mais profundo naqueles ou com um desvio nestes. Os quadros, quando eu os gostava, me faziam sorrir. Cheguei a gargalhar ao ver um algo que parecia piada (aposto que alguém em volta sentiu um ar de demência), cheguei a me sentir vazio ao ver o que me fazia vazio. Ciúmes, era pra eu sentir, mas eu senti: sou que nem você, ciúmes exposto, não doentio.

Olho os olhos como quem evita a conversa... Pelo menos sempre foi assim. Os olhos são mais verdadeiros que as palavras, muito mais verdadeiros. Os olhos jamais mentem, desviam, penetram, mas não mentem. As palavras saem de qualquer jeito, improvisadas, jogadas, mentidas. Se olho, convido, se não olho, repulso.

Silêncio!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Eternidade?

"Há uma diversidade dialética irreversível!
Uns dizem que eu volto,
outros dizem que eu vou ser julgada
e, ainda outros afirmam que desapareço.
Eu e você vivemos o dilema fatal.
O pior é que a resposta,
cada um tem, quando chegar a hora.
E o segredo se mantém!

Esta é a regra do jogo."
Adalice Araujo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Herético

Ontem ouvi que não devia mentir. Se eu mentisse, coisas ruins aconteceriam. Eu pensei que tudo bem, pararia de mentir, já que eu sou assim, acreditador do que me falam. Pensei, mas parou por aí. Não demoraram 45 minutos para eu mentir novamente.
Eu menti ontem, sem demoras, menti hoje, mentirei amanhã, mentirei mentiras mentirosas sempre.

Não se preocupe, leitor. Sou mentiroso, mas aquele mentiroso de mentiras saudáveis. Que mente pelo bem, não pelo mal, já que pelo mal eu menti tanto que acabei por me cansar. O mal em si me cansou, me deixou meio solitário, com medo de tudo. O bem me agarrou de jeito, de mão dadas vamos indo, seguindo, sendo, aprendendo e se fodendo.
A última mentira foi pra ver alguém sorrir, a penúltima foi para dar créditos à uma outra pessoa. Minto para aliviar as tensões, para distribuir a alegria. Não sei, mas acho que ninguém pode me chamar de mentiroso, não sou mentiroso.

Sou dissimulador, leitor. Dissimulador artista, ator, poeta, contista. Autor das tuas alegrias, lê-me que te faço um carinho e um sorriso, pois me cansei dos meu choros de sempre (você já deve ter notado a mudança, não?).
Vou dissimulando como um herege que desmantela Deus. Que esquece da existência pecados para ter o direito de pecar. Um pecador enviado por Deus, se é que ele existe. Pecador que não entende de pecados, só peca, mas peca pelo bem. Deus existe, meu herege?

Deus existe! Aqui no meu peito, Ele existe. E não é como dissimulador que digo isso a você leitor. Existe, pois creio, não por querer fazer você crer.
Herético. Sou sempre assim. Mentindo que amo, que odeio, que sinto, que não sinto. Odeio Deus, odeio sempre. E por isso, sempre estamos de mãos dadas, no mais forte e puro romance. Amor de Deus é que nem amor de Mãe: AMOR, com todas as suas letras.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tortura

Estava de bem com a minha consciência, até me perguntar: "Mereço dormir?" Vi que o merecer não ia me dar respostar e mudei o verbo: "Tenho o direito de dormir?" Talvez, você, leitor, acredite que viva num país livre, portanto eu teria o direito de dormir, todos têm direito de dormir.
Não leitor, eu tinha vontade, direito eu não sei. E a vontade está muito abaixo do direito, quanto à hierarquia. Não importa se quero, o importante é se posso. Estava me faltando um sujeito que soubesse dos meus direitos como cidadão, ou melhor, como vestibulando pra me dizer o que me é permitido.

O problema em ser humano é ter consciência. Consciência mata, com certeza mata. Ou não?
Talvez não. Consciência é uma torturadora, não uma assassina. Uma torturadora inútil, diga-se de passagem, que de nada serve, pois não trabalha pra ninguém, nem quer nada de nós. Uma torturadora que é cruel, está ali só pelo prazer de ver sofrer.
Enfim, com ou sem direitos eu dormi. Agora me tortura a consciência. Tocando na mais profunda ferida minha: vestibular.

O exercício da crônica

"Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador cotidiano, a coisa fia fino. Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as artimanhas peculiares, possa injetar sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a sua marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa pra mais tarde como um convite de sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, "tacam peito" na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica com uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores, e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos estes "marginais da imprensa", por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros as espicaçam; este é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.

Coloque-se porém o leitor, o ingrato leitor, no papel do cronista. Dia há em que, positivamente, a crônica "não baixa". O cronista levanta-se, senta-se, lava as mãos, levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração -- e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus auxiliares: 'É... não há nada a fazer com Fulano...' Aí então é que, se ele é cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz: 'Vamos, escrever, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre esta cadeira que está aí em tua frente! E que ela seja bem-feita e divirta os leitores!' E o negócio sai de qualquer maneira.

O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantadas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas, estará gastando metade do seu ordenado em mandar sua crônica de táxi -- e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna."
Vinicius de Moraes

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Conto de fadas

Ela pôs as crianças pra deitar, que jamais dormiriam com aquela hiperatividade toda. A mãe estava cansada, pois tivera um duro dia de trabalho, mas as crianças não davam folga, queriam brincar, pular na cama.
Atenciosamente, a mãe disse:
- Posso contar-lhes uma história, meus pequenos. Se quiserem ouvir, deitem-se e calem-se. Se quiserem brincar, brinquem, mas amanhã não haverá brincadeira.
O mais levado dos meninos fingiu não ouvir, pensou que, como não poderia brincar amanhã, jamais iria dormir. Já os outros dois deitaram na cama, olhando fixos pra mãe. As crianças amavam as histórias dela, pois ela dizia que as histórias eram verídicas, que eram ao mesmo tempo belas e fantasiosas. As estórias eram inacreditáveis a um adulto, mas para os pimpolhos era a maior diversão.
- Shh! Para de fazer balhulhu, a mãe quer contar histórinha pra gente. Deita! - bravou a mais nova.

O levado deitou-se, ninguém entendia o motivo do respeito que ele tinha pela pequena menina, talvez fosse pelo motivo de ela ser a unica menina da família. Enfim, o silêncio reinou no quarto.
- Era uma vez um homem.
- Oh! Como ele era mamãe?! - A pequenina amava os homens, tão belos os homens.
- Calma minha filha, já chego aí. Esse homem se chamava Artur, era alto, loiro dos olhos claros, belíssimo, porém cansado. Sempre trabalhava até tarde. Um dia Artur saiu mais cedo do trabalho e resolveu passar num café, pertinho do serviço. No Vidi tinha o melhor café do mundo, pelo menos diziam os críticos. Artur não se importava se era o melhor ou o pior, só achava maravilhoso.
- Café é bom mãe? - O mais velho, o levado, perguntou.
- Não sei, também sempre quis experimentar meu filho... Quem sabe um dia, né? Bom, nesse dia Artur foi a caminho da 'sua mesa'. O belo homem era cliente há tanto tempo que tinha uma mesa especial. Nessa mesa, naquele dia, estava sentada uma moça linda, maravilhosa na realidade. Marcela tinha os olhos escuros, pele branca, cabelos ondulados negros como os olhos do Profeta. - Profeta era o senhor da cidade, tinha olhos mais negros que a escuridão - Artur sentou-se do lado da moça, sem dizer uma palavra, apenas sorriu. Ela corou a face e retribuiu sorriso. Daí começaram a conversar, sobre a vida, sobre os dias, sobre o tempo, sobre o trabalho. Sabe como são os homens né? "Você vem sempre aqui?". Marcela riu lindamente, não esperando pelo clichê...
- Mãe, o que é clichê? - Perguntou o segundo filho dos três, o mais inteligente.
- Fala mais baxo! Ele tá druminu! - A caçula bravou entre um bocejo e outro, a menina sempre estava a bravejar.
- Clichê é uma coisa que... Como posso explicar? É uma coisa que se diz bastante, uma frase muito repetida. Tá. Daí Artur, recém apaixonado, passou a ir todos os dias no café, pra ver se encontrava Marcela novamente. Mas não encontrou. Pelo menos não nos primeiros dias. Demorou um pouquinho pra ela aparecer, depois da primeira vez passou a freqüentar o No Vidi todos os dias, só para ver Artur. O namoro começou em pouco tempo.......

Morgana calou-se. Viu que as crianças dormiam, abriu as asas e voou para o quarto, encantada com as próprias lembranças. "Quem me dera poder ver um humano novamente, são tão belos os humanos".

domingo, 5 de outubro de 2008

Chiclete

Ah, o amor é tão belo. Arte singela, mas limada, cheia de preciosidades. O romance, temperado com a mais forte paixão, é o mais saboroso prato. Sabor de calor, de cheiro, de toque. Sabor de vermelho, de rosa, de roxo, de preto. Sabor do obscuro, que está lá pelo prazer, apenas. Sabor que, como chiclete, some com mordidas repetitivas, mas ainda sim deliciosas mordidas.

E espera-se mais, sempre mais. Já disse que o ser humano espera mais. E também já disse que mais nunca é bom, mais é exagero, pedir demais. E as mordidas carinhosas passam a ser violentas. Os beijos carinhosos viram discussão boba. As declarações viram mentira. O romance, recheado com o mais lindo amor, vai perdendo o tempero, o gosto. Romance sem paixão deixa de ser Manjar de Deuses pra ser chiclete velho.

Fogo, amor se resume em fogo. Não exatamente o amor, em si, mas o fogo é a sua torre de marfim, espessa, rígida. Torre que segura os mais fortes abalos, portanto inabalável. Só a água destrói o fogo. Destrói, não apaga. Fogo deixa de ser fogo, vira nada, passa a ser o simples frio, calmo e monótono frio.

Quando se masca um chiclete, por mais saboroso e duradouro que seja, e toma-se água, o chiclete perde seu gosto. Junto com a água o sabor desce a goela, obrigado, sem o prazer de estar na boca, apenas para sentir o calor da saliva. Sagrada saliva, que é deixada pelo sabor por causa da água. Se fosse o fogo, a saliva gemeria, gritaria, enlouqueceria. Prazer imenso que o fogo tráz a Sagrada saliva.

E daí o coração pergunta-se o motivo do fim. Ele não entende, não há motivos concretos. O coração amava, amor é o importante, amor é a base de tudo, a base das relações internacionais, das religiões, a minha base, talvez seja a sua base, leitor. Acontece que nós, humanos tolos, nos seguramos em bases fracas. O fogo, por mais que queime, é a mais forte base, torre de marfim que desgasta-se facilmente, mas quem apoia-se no fogo sabe: por mais doce que seja a goma de mascar, há de uma hora acabar o gosto.

Sobre o layout novo

NGC 4594, popularmente conhecida como Sombrero, também conhecida como M104 no Catálogo de Messier. Sombrero é uma galáxia espiral com núcleo brilhante rodeado por um disco achatado de material escuro. Dista de 28 milhões de anos-luz da Terra.
Essa brilhante galáxia é conhecida como sombrero devido a sua aparência característica que se assemelha a um chapéu de mexicano. Foi descoberta em 1912 por Vesto M. Slipher no observatório Lowell.
A galáxia NGC 4594 possui uma magnitude aparente de +8,3, uma declinação de -11º 37' 23" e uma ascensão reta de 12 horas, 39 minutos e 59,4 segundos.

O Sombrero é uma das bilhões de galáxias que são chamadas de extintas. Galáxia extinta é aquela que deixa de produzir luz e calor, ou seja, estrelas. Numa galáxia normal, estrelas nascem e morrem. Em galáxias extintas as estrelas apenas morrem. Isso acontece devido a inatividade do buraco negro que fica no centro da galáxia.

Identifiquei-me com o Sombrero, por milhares de motivos que o meu silêncio exige que eu me cale.
Postei novamente só para explicar o motivo da foto impessoal. Digo o seguinte, leitor, é ultra-pessoal.

Nonsense

"Na crônica, tudo pode."
Robinson Bucci

Passei a procurar erros nas atitudes das pessoas, observando defeitos perpetuos e passageiros. Procurando detalhes infimos que faziam aquele ser humano em porco imundo. Foi nesse monte de olhares desgostosos que vi a atitude nos meus erros, as mais perpetuosas e passageiras atitudes.

Depois dos erros quis a filosofia pra explicar o inexplicável. Acontece que eu não preciso nada explicado, tudo, agora, parece-me auto-explicável. Daí a filosofia só serviu-me de prazer, de passatempo. E o tempo foi passando, daí notei que não tenho esse tempo pra passartempo.
Pois é, Deus, daí-me tempo.

Ah, minha Loucura, tão intensa, tão breve, tão infinitamente presente nas perspicazes atitudes! Ah, essa Loucura incrível que me move, dum jeito estupidamente gélido e cambaleante por sobre os caminhos tortuosos! Vale-me fazer reclamações, mas não o faço, já que a Loucura me traz a poética em pensamentos. Traz-me também a esperança de todos os dias. Que loucura essa Loucura! A Loucura da filosofia, do passatempo, dos erros de todo o mundo.

Eu sempre serei louco, sei disso.
E sei que sempre terei de explicar o porquê da minha loucura, mesmo não sendo louco.

sábado, 4 de outubro de 2008

Perfeito

Casa, casa, eu disse casa!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Crônica ao falecido poeta das estrelas

"Olavo Bilac pegou Machado de Assis como refém. O mundo é cruel!"
Professor Valdir

Maldito, porco safado, filho duma puta, parnasianista de merda.

Desculpe-me o linguajar carregado, você leitor que desgosta das imunidices da língua. Explico o motivo do surto.
Estava eu na junta militar, aqui em São José, esperando para ser atentido. Com cara de nerd, estava Olavo Bilac pregado na parede. Assim que o vi pensei:
- Péssimo escritor, aliás, todo parnasiano é péssimo.
Ficou por isso, um comentário crítico, apenas.

Nessa quinta-feira o professor Valdir nos ensinava o frio parnasianismo. Daí contou do Bilac.
Olavo Bilac foi "o" autor da época, popular, amado por todos e... nacionalista ao extremo. Olavo foi o autor do Hino da Bandeira, que me parece uma cantiga infantil com palavras de gente grande.
O meu ódio pelo porco autor surgiu ao descobrir que, há 90 anos atrás, Bilac criou uma brilhante idéia chamada "Serviço Militar Obrigatório".

Os homens sabem bem o que é essa desgraça. Enquanto mulheres menstruam, homens vão à junta militar (ironia, sarcasmo, não quero ver ninguém me falando que aquela dor é muito pior que o incomodo desta).
Enfim, primeiro, existe o medo de ser chamado para servir, segundo, perde-se muito tempo indo nas juntas de alistamento.

Bom, existia, até o ano de 1988, o hábito maravilhoso de os adolescentes vingarem-se do imundo Bilac. No Rio de Janeiro era comum os que passavam pelo chato processo do de Alistamento Militar irem até o túmlo de Olavo Bilac e urinarem sobre o nome do sujeito.
Pensei eu: Também quero! É por causa de Bilac que tenho que freqüentar juntas militares há 2 anos.
Acontece que em 88 o querido Roberto Marinho reuniu todos os falecidos da Academia Brasileira de Letras numa espécie de cemitério especial. A idéia é interessante, preservar os grandes autores. O triste é me proibirem de urinar no Bilac.

Lá no cemitério da Academia, Bilac fica numa gaveta alta, dificultando a mijada. Não fosse por isso, colocaram Olavo sobre o Machadinho. Pegaram pesado! Agora mijar no Bilac tinha de ser um ato cirurgico, pois há o perigo de respingar no Machado.
Sim, é um perigo! Já que em gente legal nós não urinamos! Maldito Bilac, pegou Machado de Assis como refém!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre um receio de ser esquecido

"Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial."
Virginia Woolf

Pouco tempo atrás fiquei um grande espaço de tempo sem escrever, portanto postar. Acabei me irritando, já que sentia escrever para um público inexistente.
"Escrever pra ninguém, coisa de bastardo" pensava eu. Resolvi tirar os comentários, daí eu não poderia saber quem me lê, ou se alguem me lê, depois disso voltei a escrever sem me sentir panaca.
O escrever foi deixando de ser "postar no blog" para ser um vício. Aliás, agradeço a Ya (This is the Sun... ali do lado) por me incentivar, primeiramente, a criar o Bye-S, depois, a escrever. Por pior que fossem os meus textos eu ouvia "gostei, você me dá vontade de escrever". Ser lido era um orgasmo!
Hoje a Ya não escreve, muito raramente, mesmo assim não me desanimei com a escrita, que de pouco em pouco foi tornando-se o mais maravilhoso vício que já tive. Textos seguidos de textos, ruins ou bons, muitos, todos esperando para serem postados, adormecidos nas folhas do meu caderno.
Agora, ser lido é um beijo na face, que me faz sentir lembrado. Escrever é um orgasmo, o mais solitário e libinoso dos orgasmos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Retomando um velho assunto

"A descrença é uma doença terrível: destrói com seu bafo corrosivo o aço mais puro."
Álvares de Azevedo.

Talvez tenha sido o meu jeito violento de abordar Deus, ou talvez só tenha sido um jeito de ela atacar a minha breve depressão. Enfim, mama criticou a minha crítica.
Li e reli o texto "Sobre Deuses", mas não consegui ver muita ofensa depressiva, apenas vi uma ofensa depressiassiva contra os religiosos fervorosos.

Explico o que quis dizer: Deus, aos meus olhos, existe, é onipotente e é mui grandioso. Fiz crítica ao modo de enxergar Deus, não a Ele, propriamente dito.
Entendo que Deus é Deus, humano é humano, ninguém é servo de ninguém. Conquanto, o Senhor não é meu empregado para fazer tudo o que eu ordeno, assim como eu não sou empregado Dele.
Deus é filho da mente humana e os humanos são filhos de Deus, portanto não há um Pai que ordene um Filho.

Deus é fé, objetivamente, como disse outrora. Talvez o seu Deus seja o convencional Deus dos milagres, ou seja o meu Deus da vida, ou você seja o seu próprio Deus. Enfim leitor, de pouco vale o Deus, o importante é crer.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Miau

Ah, são tão tolos os cães... Latem, e pulam, e correm, e latem, e correm, e mordem, e babam, e lambem, sempre num rebolado desengonçado para acentuar o balançar do rabo.
São tolos, bôbos, é por isso que são os melhores amigos do homem. Homem gosta de cão por gostar de estar sempre ao lado de um ser estúpido e infantil. É por isso que homem gosta de homem. Homem não é amigo de mulher, pois mulher é inteligente, homem é amigo de homem, portanto tosco.
Mulher também gosta de cachorro, já que gostam de sempre estar no poder, mandando num bicho burro e tirando proveito da carência dele.
Ninguém gosta de gatos. Gatos, por excelência, são inúteis. Gatos comem, dormem, engordam, dormem, pedem carinho, dormem e gastam.
Os humanos não gostam de gatos, já que se parecem com mulheres, não com homens. Mulher assusta, serve para ser vista, apenas. Ah, mulher também gasta! Os felinos são animais inteligentes, malandros vadios... Malandragem assusta, entretanto, mulheres também.

Gosto de gatos, não suporto homens.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sobre as promessas

Há uns 6 meses, nem isso, fiz uma promessa. Não foi diretamente a Deus, mas eu creio que foi ele quem ouviu. Que lindo, dei um cheque sem fundo! Fiquei me perguntando se o Senhor, como um agiota, não vai querer vir armado atrás de mim:
- Ô muléque! E aquela promessa?
E eu, morrendo de medo:
- Desculpe, meu Deus, não tive tempo de pagá-la!
- É, e eu não tenho tempo de ficar ajudando todo Cristão que me faz promessas! Agora não vai me pagar, vagabundo?
- Vou sim Senhor, só me de alguns dias! Por favor!
- Sete dias, senão corto-lhe os dedos!
- (Puta, fodeu) - num pensamento ultra exasperado.
- Sou Deus, portanto ouço o que pensa. Falou merda, agora corto a mão. Sete dias e ficará sem mão!

E a promessa? Já fiz outra, pra ver se Ele esquece da minha mão. Ah, essa eu estou pagando, poxa.

sábado, 20 de setembro de 2008

Sobre a felicidade na escola

"Há pedidos para que a felicidade seja ensinada nas escolas. Mas as tentativas podem entrar em conflito com outras coisas que a escola deseja incultar."
Adam Phillips

Seria bastante engraçado:
- Que droga, hoje tem aula de felicidade, vamos matar?
Daí entra aquela professora rechonchuda de bocechas rosadas em sala de aula:
- Calem a boca, pirralhos! Sentem-se! - na pior das TPMs, cheia de ódio e rancor dos alunos tagarelantes - Hoje aprenderemops a sorrir! Sorriam! SORRIAM, EU DISSE! Mandei sorrir, Joãozinho! - E ela, como excepcional educadora, abre aquele belo sorriso amarelo para exemplificar a boa tarefa.

Você, aluno baderneiro, joga o papel nos colegas e manda uns chavecos para cima da garota ao lado. Depois de, violentamente, chamada a sua atenção, você diz alegremente:
- Estou aprendendo a ser feliz, "tia". Não há nada melhor que esse maravilhoso sentimento!

(Ah Deus, eu deveria estar escrevendo uma redação, não besteiras.)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Ditador

O General relinchava furiosamente apontando ao público:
- Nós não queremos ouvir mais a voz "deles", queremos ouvir a nossa voz, a voz do povo!
E o povo gritava, no auge do seu fervor.
Senti que só eu via que algo estava errado. "Mas quem seriam 'Eles'?". Uma coisa estava clara, aos meus olhos: "Eles", quem quer que fossem, não eram inimigos, eram vítimas, assim como o povo era.
Os gritos ensurdecidos com o meu pensar rugiam ao longe. Um toque no ombro silenciou a minha mente e deu força àquela sociedade que gritava. Era um curandeiro, já bem velho, que me chamara batendo o cajado em meu braço. Com um olhar misterioso disse:
- Queres saber quem são "Eles", não queres?
E eu, numa adrenalina incontível, olhei cheio de esperanças no fundo dos olhos daquele senhor:
- Por favor!
- Então vai encontrá-los. Vire na encruzilhada à esquerda.
Dos bolsos tirou um arma e num movimento mais ágil que o meu pensamento apontou para os meu olhos. Num segundo tudo ficou rubro... e a vista enegreceu... pra sempre...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sobre Deuses

"Dostoiévski: 'O que os homens desejam não é Deus mas o milagre'. Os deuses são invocados, não por serem amados, mas por serem poderosos. Santo que demora para fazer milagre é abandonado... A afirmação de que 99% dos brasileiros acreditam em Deus pode assim ser traduzida: 99% dos brasileiros acreditam ser possível manipular Deus a fim de realizar os seus desejos. Cada religião é um livro de receitas sobre 'como manipular Deus'."
Rubem Alves

Minha mãe me diz assiduamente:
- Reza para o teu Deus, meu filho! Pede, sem vergonha! Pede, pois você precisa, e Ele te ajudará!
E eu não tenho coragem. Me falta coragem, isso. Me falta, pois meu Deus não é o Deus de todo mundo. Meu Deus não é Deus dos milagres, Deus das ajudas, não é o Deus Santo de todos os Santos.
Meu Deus é o Sol, que me esquenta; é a Natureza, que me inunda os olhos com belezas; é a Lua, que me seduz. Meu Deus também é o Diabo, meu Deus castiga!

Nunca quis discutir com a Dona Daisy sobre esse assunto divino, sempre disse:
- Não rezo, não peço.
Aqui é a verdade, não rezo e não peço, pois meu Deus não me ouve, meu Deus não me dá. Talvez eu não acredite em milagres, ou eu não acredite que alguém faça o meu dever, ou eu só gosto de ser contrário a todos. Enfim, meu Deus ajuda, apenas.
A ajuda que o meu Deus dá é baseada na fé. Ele me segura, me dá forças pra sobreviver, não mais do que força. Não me dá dinheiro, presentes, vitórias.

E o bom religioso, aos meus olhos, não me passa de um drogado. Deus é vício, droga é vício, Deus é droga. A religião, desde sempre, foi um método de pedir a um ser superior por graças superiores, pedir, sempre pedir. Creio que a única coisa que a religião tem de bom é a crença, a fé, não Deus. Deus é a fé em sua forma objetiva. Por esse motivo que eu não consigo dizer "Pai nosso que estais no céu...", não consigo rezar para a minha própria fé, assim como não rezo para a minha felicidade, ou para a minha tristeza.

Meu Deus, se me ouvires, saiba que amo a ti, preciso de ti, preciso da tua força.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Igreja dá dinheiro

Acabei por descobrir que sou um pouco mais estranho do que eu imaginava. Há uns... umas três semanas atrás, o Woss, que era o meu melhor amigo nesta terra, foi embora. Daí veio pro quarto o Tobias. Logo de início não gostei dele, mas passado o tempo vejo que já o vejo como um sujeito divertido.
Esses dias o Bruno saiu do quarto, também bastante amigo meu. Chegou um manauense, o Anderson, que adivinhe... É, eu não gostei dele... Passado uns dias, tudo bem, já é bem vindo.

Cheguei a uma conclusão: a princípio, não gosto de ninguém. Soa estranho, mas é verdade.
Sinto que nesse meu pensamento anti-humanos criei uma religião na qual consiste em "O melhor da Terra não é o Homem".
Veja se me entendes... Aquelas mesmas idéias Espiritas, nas quais há vida após a morte, nas com uma pitada dos meus pensamentos infantis. É a minha macumba, minha. Devo inventar um nome!

A religião tem como base o egoísmo, claro que não podia faltar, vindo de mim. A premissa é? todo ser humano é imprestável, até que esse prove o contrário. Esse prestar não é o prestar egoísta, é prestar no sentido de bondade mesmo.
Fiquei pensando no ato de desculpar, tão aclamado nas outras religiões. Na verdade desculpar é manter a paz, evitando conflitos e guerras. Desculpar não eleva espirito. Agora desculpar-se não importa! Simplesmente "deixe pra lá".
Não vale também a vingança, já que a paz no mundo ainda é necessário. (Eu sei, vingança é uma delícia! Mas se contentem com o esquecer!)

Ah, que besteira. Fico por aqui, já que não tenho tempo de limar a minha tola filosofia, pois o estudo me espera.
Desculpe-me se feri os seus princípios com a minha brincadeira.

domingo, 14 de setembro de 2008

Sobre a bandeira e os veados

"De louco e de patriota, todos temos um pouco."
Lima Barreto

Barreto quis afrouxar o pensamento de Freud, creio eu. "De louco, de médico e de homossexual todos temos um pouco."
Aposto que Lima pensou:
- Ah, brasileiro que é brasileiro é macho!

Acredito eu que Lima Barreto era um utópico que fugia da vergonha das bichas do mundo afora. Freud era mais realita. Vemos poucos patriotas hoje em dia; vemos médicos amadores e homossexuais em potencial, esses não são nem um pouco raros.
Talvez Barreto quis aliviar a filosofia freudiana, olhando para o seu interior másculo e amante da terra brasileira. Enfim, não é difícil ver os mais sãos decaírem em insanidade. Pela necessidade diária aprendemos a medicina caseira, ou seja, primeiros socorros e a fantástica prática do auto-medicamento.
E homossexual? Esse comportamento esconde-se ao fundo da mistériosa mente humana, pois a sociedade inibe o desejo pelo mesmo sexo.
Falando em homossexualidade, os homossexuais não sofrem de discrepância no comportamento sexual, como o povo imagina. David Morris, em "O Macaco Nú", dizia que os anômalos são os assexuados, que não se interessam pelo sexo.
Enfim, de patriota eu não tenho nada. De resto? Tanto faz, mas de patriota não!

sábado, 13 de setembro de 2008

Sobre a memória

"A memória excessiva não nos deixa respirar, a falta de memória pode conduzir-nos à insanidade da falta de ética."
Laura Ferreira dos Santos

Não me faltava a vontade de escrever, me faltava o tempo. Arranjei uns segundos para poder ler alguma coisa do Rubem Alves e ver se descobria alguma coisa sobre o Planeta Terra. Acabei por ler sobre a memória, acabei por descobri o que queria do show.
Além de ler e descobrir, acabei por desejar imensamente escrever. E isso tomaria mais do meu tempo, e daí?

Graças ao bom Deus, não me faltou ar jamais. Já que nunca me foi muito clara a memória na minha vida. Sempre tive uma inimizade pela mesma. Talvez fosse pela vergonha, pelo medo que o passado me traz. Essa briguinha que tenho com a memória me faz um sujeito sem histórias pra contar.
Naquela roda de amigos, todos rindo e contando as suas aventuras e desventuras, eu fico por ouvir, por dois motivos: sempre prefiri ouvir a falar e eu nunca tenho histórias. E quando as histórias vem em minha mente eu chamo-as de Estórias, tentando não me sufocar. Claustrofobia, quem sabe.
E a falta de ética? Insanamente ela é essencial na minha vida. Sou completamente anti-ético, dentro da minha cabeça. Sinto que às vezes gosto de não conhecer ninguém que possa ler mentes, pois minha mente funciona como um Bakunin, um anarquista, ou como um Chê, um revolucionário. Enfim, não presta de nada: anarquista revolucionária.
O que me faz esse tão semi-educado homem? O Silêncio. Poucos sabem que o silêncio que é a base de todos os meus relacionamentos. Já muito ouvi dizer que eu poderia falar mais, pois o silêncio incomoda. Não a mim, em nenhum momento o silêncio me incomoda, faz-me um bocado aliviado por não falar a verdade, ou não ter de mentir, ou não falar bobeiras.
Talvez a dissimulação seja a fuga para o silêncio, mas me basta de mentiras. Fico com o silêncio.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sobre o brilho do diamante louco

É, não sou um diamante, longe disso. Se quero ser precioso podemos dizer que sou a abundante e simplória ametista. Pedra bela, porém quebradiça.
Lembro-me uma vez que dei à uma amiga - uma, antigamente, eterna paixão platônica - um pedaço de ametista no dia dos namorados; eu sei, ela nem percebeu a intenção do pobre apaixonado Silka.
Tá, admitamos, sou louco. Há quem diga que as minhas manias, as minhas roupas, as minhas músicas, o meu amigo imaginário são de louco, por isso acho que acabei por me acostumar e agora também me vejo como um louco.
Enfim, não tão louco, nem tão precioso, quanto Syd Barret - Barret foi o criador do Pink Floyd, sujeito brilhante, inteligentíssimo. Ele era o verdadeiro Diamante Louco, ficou louco devido ao uso excessivo de drogas - e nem tão brilhante quanto, mas às vezes essa singela ametista brilha. Ao brilhar os olhos correm para ela, a ametista, a pedra esquecida, torna-se preciosa novamente.
Brilho que faz os meus olhos brilharem ao ver os olhos alheios brilhando. Abrindo a minha boca num sorriso alegre, não exatamente brilhante. Orgulho, de vez em quando, me faz lembrar a pedra que sou.

Brilha brilha, estrelinha... Brilha, pois o escuro da noite não mais lhe pertence.

Aliás, meu cabelo tem sido ameaçado. As ameaças me fizeram ter pesadelos, sim, pesadelos. ... Se eu ficar careca a culpa não é minha!
Ajuda-me Deus!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sobre o calor das amizades

"Pedir demasiado é a maneira mais segura de receber ainda menos do que é possível."
Bertrand Russel

Lembro-me claramente, há mais ou menos um ano, que um amigo me disse "Ah! De que me vale a família? O Silka é mais família!" E eu, em meio ao meu egoísmo meninista, sorri orgulhoso. Digo egoísmo por não pensar mais orgulhosamente daquele comentário pedulento, que outrora soava tão bem, hoje me soa rude demais, sujo demais, triste demais.
Digo-lhe o motivo: a família, sobretudo, é a amizade. No calor da amizade adquirimos família, irmãos, primos, cunhados, mas são familiares passageiros, aqueles que um dia não serão mais família. Já a família de verdade jamais deixa de ser família, deixa de ser amizade. No entanto, qual o motivo de não criar um vínculo de amizade daqueles que estarão próximos ao longo de toda a vida?
Talvez eu esteja expressando-me mal. O objetivo não é degenerar a amizade, é elevar a família a um patamar superior, mais sagrado, mais concreto do que a amizade em si.
Essa degeneração eu não quis criar por esperar vendar os olhos para tudo de negativo nas amizades. Acontece que Bertrand Russel já disse, espera-se muito, mas esse muito é excessivo, mais do que recebe-se. E a amizade tira essa liberdade de pedir sempre mais, de sobrefuljar alguma necessidade d'alma.
A família não; pede-se mais, obtém-se mais, e pede-se, e obtém-se, e a alma, antes sangrando de dores, cicatriza calmamente, com os cuidados dos pais, da motivação pela vida dos irmãos. A alma pede sempre mais, por esse motivo as amizades não são eternas. Daí te digo o seguinte, se for pedir, diz assim: "Mamãe, ajuda esta alma ferida? Cuida desse teu filho?" E a amizade? Aproveite! Sorria! Abrace e compartilhe!