terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Abstêmio

"A abstinência é a renúncia voluntária à satisfação de um desejo ou necessidade."
Lalande, 1993

Pois há quem diga que a abstinência é sofrida. Mas eu refuto, não é sofrida. Na realidade, aos meus olhos, a abstinência é um pouco de auto-consciência, de auto-evolução.
Estava com os amigos, divertindo-me como normalmente, daí recebo um convite, que há um ano atrás era o convite mais corriqueiro possível: vamos sair para beber? Então eu aceitei, já que não há nada melhor que aproveitar as férias como elas são: férias. Mas fui refletindo, filosofando, e por mais que eu tenha um bocado de lembranças (ou pedaços de lembranças) boas de todas aquelas deliciosas tequiladas, eu não sinto falta. Se não sinto falta, não preciso; não há motivação para eu me ver viciado novamente.
Talvez eu possa soar um tanto puritano, ou até mesmo medroso, mas não se trata de pureza, de religião, ou até mesmo de medo; trata-se de uma não-necessidade. Deus nada tem a ver com a minha revirginização, ou mesmo com a minha sobriedade. E não tenho medo de reexperimentar os melefícios a ponto de tornar-me necessitado desse vício. Não é nada disso, é apenas um "estou bem como estou".

Pois se eu lhe contar, meu leitor, que até mesmo dos jogos eu cansei, você acreditaria? Fiquei farto daquele jogo unilateral de ser o mais forte, de evitar dizer sentimentos por puro orgulho. Unilateral por só eu ser o jogador, do outro lado não tinha nada além duma idealização dum rival que buscava vencer, assim como eu fazia. Que tolo, não houve rivalidade em momento algum, eu criei uma guerra imaginária.

Então eu lhe digo, que dei fim aos desejos, às vontades. Talvez até eu me sinta monótono, mas que há de mais aconchegante que esse sentimento de segurança?