quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O novo é velho

As crianças são tão tolas, tão simples, tão puras. E a pureza que elas demonstram não é nada senão um jeito de nós, os velhos, vermos as crianças. As crianças são todas sujas, pois não sabem que é certo, que é errado. Tudo é bem certo, desde que os pais digam. Se os pais disserem, é certo, mas é preciso que o digam.
No fim, o novo, pequenino puritano, é o velho, o mais pútrefe e fétido velho. Desde que não saibam que o errado é errado, o novo é o velho.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Herança materna

"E bom é todo aquele que não ultraja, que ninguém fere, que não ataca, que não acerta contas [...], que foge de toda maldade e exige pouco da vida, como nós, os pacientes, humildes, justos."
Friederich W. Nietzsche

Que bom que ela me ensinou a ser bom. E me ensinou bem. É tanta bondade a dela! Que desgraça a bondade!
Ela só esqueceu de me ensinar a ser ruim também, pois um homem, para ser completo, tem de ser tão bom quanto ruim, afinal o mundo é mundo por ser completo, tanto bom quanto ruim. Então eu tive de aprender com os meus próprios meios, minhas próprias dores.
Ela devia mesmo é ensinar-me a gritar, a bater, a escarrar no próximo. Já que o amor ao próximo já está tão fora de moda, tão antiquado. Ela devia mesmo é ensinar-se a ser ruim, ruim sem pudores, ruim sem arrependimentos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jabuticaba

Os olhos eram negros, talvez fossem pretos, não negros, afinal um preto é mais escuro que um negro, não? Pois enfim, os olhos da cor da noite, talvez mais escura que a noite, pois a noite pode ser um pouco azulada. Que seja, eram os olhos mais pretos que podiam existir. E os olhos eram um negro só, como se não houvesse íris. Uma negritude intensa que podia me engolir a qualquer momento, levando isso em consideração eu tinha uma agradável mania de encarar, pensando com todas as forças: me engulam, assim moraria em ti para sempre, me engulam, negros olhos!

Nunca fui engolido de verdade. Vai ver eu tenha exagerado um bocado, então posso tentar admitir que talvez eu tenha exagerado, mas o exagero é sempre tão belo, tão romântico, tão heróico. E em nome do heroísmo eu digo que os olhos eram bem pretos, eu sei que não eram dos mais pretos, até podiam ficar meio verdes com o Sol, mas se eu contasse isso, não teria o mesmo charme, teria? Pois que seja, os olhos eram pretos, os mais pretos que podiam existir; e eu esperava ser engolido para fazer parte dela todas as vezes que meus olhos encontravam aquele abrigo.

Choro dos anjos

Pois eu espero.
Quem sabe o tempo faça o seu trabalho.
Quem sabe o tempo acabe com essa chuva.
Quem sabe o tempo se desfaça, com o tempo.

Pois eu espero.
Só me acorde quando esse verão acabar.
Só me acorde quando essa chuva parar.
Só me acorde quando o Sol voltar.

Pois eu espero.
Pois hei de ser feliz.
Pois hei de ser feliz.
Pois eu já fui feliz.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ilusão

Não sei daonde ela tirava aquela esperança tola. Os dois sabiam que nunca se amariam de novo.

Conflito

"Quanto à linha de conduta: para diante. É a honesta lógica das ações."
Raul Pompéia

Há os sãos e os débeis, há também os sós, há aqueles como eu, que são sãos, débeis e sós e obviamente há os mentirosos. Eu desgosto do povo da minha raça, dramáturgos inconsequentes impossibilitados de seguir em frente que temem o próximo passo. Mas os mentirosos não desgosto, os odeio.
Pois quando somos moleques os pais te dão uma lista de regras para decorar. Decoramos que temos que mastigar de boca fechada, respeitar os mais velhos e não devemos fazer aquele barulhinho nojento ao beber coca-cola. Decoramos também que devemos sempre seguir cegamente as regras da lista, senão ficamos de castigo, sem tv e sem video-game, e em alguma linha da lista há uma clara regra: Não mentir.
Quando nós, os moleques, vemos os pais mentindo sentimos que não há um porquê de seguir cegamente as tais regras. Por isso arrotamos, andamos descalços, zombamos de estranhos, mentimos. Não vejo maldade em não seguir as regras cegamente, nem vejo em arrotar, andar descalço ou zombar de estranhos, muito menos vejo na mentira. Pois é natural que mintamos, afinal as pessoas precisam mentir para se manter saudáveis, sociáveis, gostáveis. É natural que precisemos de alguém que nos goste, então mentimos.
Quando nós viramos adultos, pais, nós criamos uma lista imensa de regras. Regras que a sociedade obriga ao pai: crie as regras para que o teu filho seja um bom ser humano. E nós mentimos para as crianças que é feio peidar, que é feio gritar depois das onze, que é feio jogar bola no meio da rua, que é feio olhar pornografia na internet. Nada é mais feio que a nossa atitude, mentimos para as crianças, assim como nossos pais fizeram. E se não o fizessem o que seriamos? Um monte de macacos trogloditas incapazes de conversar com um ser do sexo oposto sem olhar para as suas partes íntimas. Seriamos incapazes de mentir, ou seja, incapazes de nos matermos saudáveis, sociáveis, gostáveis. E seriamos todos como eu: sãos, débeis e sós.
Mintamos, por favor, afinal o dia lá fora está lindo, não está?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Deslembranças

Sempre foi claro: passado não importaE eu acabei assistindo o passado se apagar. Será que ele merecia ser apagado? Sumiu da vida num simples toque. Um toque que sabe lá Deus de quem foi, quem sabe tenha até sido Dele mesmo.
Não quero dizer que me doeu, pois a premissa é: passado... e só... Mas acabou me encomodando. Não sei se me entendes, leitor. Tu podes até me considerar bipolar ao me ouvir dizer que passado é nada, mas esse nada importa, pois de fato é real, sou bipolar perante a esse aspecto.
Admito que houve tristeza. Foram dias tão bons, quando todos nós formavamos um só. Por mais que fosse "sexo, drogas e rock'n'roll", foi o meu delicioso passado.
E daí? Com quem falo para obter as velhas lembranças de volta? Com Deus, com os flashes de memória? Com "nós", que dum jeito osmótico e natural virou "cada um por si"?

domingo, 18 de janeiro de 2009

Fantasmas

Essa falta de eloquência que reside entre nós é assustadora! Pelo menos eu, digo por mim, pois por mim eu sei que posso falar, queria falar de vez em quando. E por mais que eu abra a boca não consigo tirar nada daqui. Ela disse que eram pedaços de casos mal resolvidos, já eu digo que são assombrações.
Talvez eu goste dessa assombração, dessa perdição toda, estar perdido, me fazer de perdido. E vai chegar 2032 e eu ainda vou gostar de me perder, pois é isso que me faz vivo. Eu mesmo consigo achar essa vivência bizarra, já pensou como seria bom me sentir vivo ao dançar, ao rir, ao correr? Mas não, tenho que gostar de estar perdido.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Caminhos

Parece sem jeito, até meio desesperado, mas as coisas tomam seus rumos, seus verdadeiros rumos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sonhador

Eu faria uma parábola com as noites em que ela não sonhava com nada, com ninguém, nem comigo. Não que ela sonhasse comigo assiduamente, ou que ela sonhasse, é que eu costumo sonhar, daí acho que todo o mundo tem que sonhar. Enfim, acontece que eu acho que as parábolas são uma enrolação boba, acho que é mais sutíl chegar ao ponto sutilmente, não ficar de besteirinhas para dar a entender alguma coisa. Só acho que ela não sonha por não acreditar que deva sonhar, só isso.
Eu diria: Pois os sonhos que essa menina deixou de ter enquanto dormia, eram os sonhos que ela deixava de ter acordada. E se ela não sonhava, acredito que era melhor se ela vivesse numa constante insônia, mas numa insônia descansável, pois ela podia sonhar acordada, pelo menos acordada.
E agora eu só digo: Se ela não quer sonhar, que não sonhe, fico com os meus.

Fresta d'alma

Ele não precisava de muito para ter certeza que os olhos dele estavam bem abertos, que ele sabia o que acontecia em volta dele, que ele estava certo e que todos estavam errados. A propósito, ele tinha esse problema de ter certezas. As certezas dele eram sempre muito voluntariosas, ao passo que também eram voláteis e passageiras. Era sempre a mesma história, ele não precisando de nada, ou achando que não precisava. Pouco sabia que os olhos eram uma espécieme de porta entraberta, aquela que finge mostrar a luz pela fresta, mas na verdade só mostra a sombra. Ele tinha certeza que não precisava nada, só não sabia que precisava de novos olhos.
Os olhos, ao meu ver, são importantíssimos na vida de um homem. Por isso que eu digo que ele precisava de olhos novos. Ele deixava de ter vida de homem para ter vida de bicho, sem saber o que acontecia em volta dele, sem saber quem estava certo e quem estava errado. Pois a luta incessante contra a cegueira que consumia aquele bicho selvagem era cruel, era também fútil. Não sei ao certo lhe dizer como seria a vida dele se os olhos fossem bons como eram quando era moleque, olhos ágeis e esperto, muito verdadeiros, muito bons. Só sei dizer que ele largou esses olhos de moleque há muito tempo. A bondade acaba num piscar de olhos. Ele que era luz, fechou os olhos e viveu na escuridão para sempre.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Solúvel... bem solúvel

Dissolve o amor,
Dissolve a arte,
Dissolve você, leitor,

Dissolve eu...

Principalmente eu...

... E acaba, simplesmente.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Erros e acertos

Às vezes esperamos que os erros que cometemos sejam erros para sempre; mas de vez em quando os erros, depois de muito tempo, tornam-se acertos. Então, de vez em quando, esperamos acertar errando, mas isso nunca acontece. Os erros são sempre erros, sempre serão erros, por mais que, aos olhos daquele leitor pré-potente, aos olhos daquele leitor otimista, pareça que os erros sejam um dia um prazer. Não, meu leitor, o erro que nós cometemos vai sempre ser erro.
E um dia eu vou tentar olhar como acerto de novo, como eu olho de minuto em minuto, e vou perceber que nunca foi acerto. É esse jeito bobo que temos de tentar acertar as coisas, fazer elas funcionarem; afinal, o prazer é infinitamente mais persuasívo que a dor, este o erro, aquele o acerto. E se um dia você olhar para mim e falar que foi um acerto, eu vou acreditar. Acreditarei do mesmo jeito que tenho acreditado todo esse tempo. Enquanto os meus fracassos nunca forem fracassos, forem lutas não vencidas, eu vou tentar acreditar. Vou fazê-lo com todas as forças, vou abrir os braços e pedir para que você torne, um dia, aquele erro num acerto.
Eu sei que nós estaremos nos enganando, mas que mal há em enganar a tristeza? Não vejo maldade em ver um sorriso estampado nesse rosto de barba rala. E leitor, nós poderiamos ser felizes, eu e você, só nós dois.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Aos juízes

Fico grato ao público demonstrar o seu amor. Há quem diga que um homem bem elogiado é muito mais feliz que um homem bem sucedido, pois assim sou bem feliz, bem elogiado. Os meus juízes sofrem duma inviabilidade de julgar. Eles não sabem que o fato de eu vencer o que venci não é louvável, muito menos sabem que o que os outros venceram (inúmeras vezes mais do que eu venci) não passa de um nada. Não digo que os outros são nada, só digo que os meus juízes não tem senso de comparação, pois têm a capacidade de comparar o meu tudo com o nada dos outros.
Também digo que eles não entendem os fracassos. Aos olhos deles, qualquer fracasso e fracasso. E eu não digo que não sou fracassado, mas ao passo que eu fracassei por um objetivo intangível, outros se contentam com a não possibilidade de fracassar, optanto pelo mais ou menos. E os juízes se perguntam da minha capacidade, dos meus inúmeros fracassos, é verdade que ele lutou, mas lutou o bastante?
Não pense que não gosto de ser julgado, afinal não há nada melhor que um bom julgamento para fazer tudo valer a pena. Mas só acho que os meus juízes podiam ser mais imparciais, mais morais, mais lúcidos e mais aptos a julgar o que eles julgam.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Reciclável

O gosto pela coisa vai tomando um pouco do meu ego vazio. É o mais seguro que eu conseguia sentir sem tratar a situação como um alarme falso, pois então eu tentei sentir desse jeito sutil, mas não se trata de sutileza. Por um segundo eu precisei por os pés no chão prá entender essa confusão toda.
Eu vejo tudo como uma enorme confusão, já que meus conceitos são sempre reciclados e de acordo com os novos conceitos, tá tudo errado. É como misturar Céu e Inferno numa única orgia. Pois aí meus conceitos encontram a minha ferida, pois nela reside o Céu e o Inferno, não numa orgia, mas num sedento jogo tolo de paixão.
Pois se há merecimento em tudo isso, quem é que é capaz de julgar esse merecimento? É Deus que dá as cartas aos que merecem e tira-as dos que não são merecedores? Então Ele não teria tempo de fazer nenhum outro tipo de trabalho, além do julgamento, certo?
Se for assim, não há nada além do merecimento; se não for, devo reciclar meus conceitos reciclados.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Feel the blog

Eis que pois, senão quando, a luz se apaga...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

1.1

Pois sobre o primeiro dia do ano: muita gente diria que prá um primeiro dia foi um péssimo dia. Eu digo que nunca quis um dia diferente, pois nada é melhor do que estar onde eu sonhei estar o ano todo.
Como é bom ouvir esse povo se estressar...