terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Jabuticaba

Os olhos eram negros, talvez fossem pretos, não negros, afinal um preto é mais escuro que um negro, não? Pois enfim, os olhos da cor da noite, talvez mais escura que a noite, pois a noite pode ser um pouco azulada. Que seja, eram os olhos mais pretos que podiam existir. E os olhos eram um negro só, como se não houvesse íris. Uma negritude intensa que podia me engolir a qualquer momento, levando isso em consideração eu tinha uma agradável mania de encarar, pensando com todas as forças: me engulam, assim moraria em ti para sempre, me engulam, negros olhos!

Nunca fui engolido de verdade. Vai ver eu tenha exagerado um bocado, então posso tentar admitir que talvez eu tenha exagerado, mas o exagero é sempre tão belo, tão romântico, tão heróico. E em nome do heroísmo eu digo que os olhos eram bem pretos, eu sei que não eram dos mais pretos, até podiam ficar meio verdes com o Sol, mas se eu contasse isso, não teria o mesmo charme, teria? Pois que seja, os olhos eram pretos, os mais pretos que podiam existir; e eu esperava ser engolido para fazer parte dela todas as vezes que meus olhos encontravam aquele abrigo.