sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Fresta d'alma

Ele não precisava de muito para ter certeza que os olhos dele estavam bem abertos, que ele sabia o que acontecia em volta dele, que ele estava certo e que todos estavam errados. A propósito, ele tinha esse problema de ter certezas. As certezas dele eram sempre muito voluntariosas, ao passo que também eram voláteis e passageiras. Era sempre a mesma história, ele não precisando de nada, ou achando que não precisava. Pouco sabia que os olhos eram uma espécieme de porta entraberta, aquela que finge mostrar a luz pela fresta, mas na verdade só mostra a sombra. Ele tinha certeza que não precisava nada, só não sabia que precisava de novos olhos.
Os olhos, ao meu ver, são importantíssimos na vida de um homem. Por isso que eu digo que ele precisava de olhos novos. Ele deixava de ter vida de homem para ter vida de bicho, sem saber o que acontecia em volta dele, sem saber quem estava certo e quem estava errado. Pois a luta incessante contra a cegueira que consumia aquele bicho selvagem era cruel, era também fútil. Não sei ao certo lhe dizer como seria a vida dele se os olhos fossem bons como eram quando era moleque, olhos ágeis e esperto, muito verdadeiros, muito bons. Só sei dizer que ele largou esses olhos de moleque há muito tempo. A bondade acaba num piscar de olhos. Ele que era luz, fechou os olhos e viveu na escuridão para sempre.