segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Conflito

"Quanto à linha de conduta: para diante. É a honesta lógica das ações."
Raul Pompéia

Há os sãos e os débeis, há também os sós, há aqueles como eu, que são sãos, débeis e sós e obviamente há os mentirosos. Eu desgosto do povo da minha raça, dramáturgos inconsequentes impossibilitados de seguir em frente que temem o próximo passo. Mas os mentirosos não desgosto, os odeio.
Pois quando somos moleques os pais te dão uma lista de regras para decorar. Decoramos que temos que mastigar de boca fechada, respeitar os mais velhos e não devemos fazer aquele barulhinho nojento ao beber coca-cola. Decoramos também que devemos sempre seguir cegamente as regras da lista, senão ficamos de castigo, sem tv e sem video-game, e em alguma linha da lista há uma clara regra: Não mentir.
Quando nós, os moleques, vemos os pais mentindo sentimos que não há um porquê de seguir cegamente as tais regras. Por isso arrotamos, andamos descalços, zombamos de estranhos, mentimos. Não vejo maldade em não seguir as regras cegamente, nem vejo em arrotar, andar descalço ou zombar de estranhos, muito menos vejo na mentira. Pois é natural que mintamos, afinal as pessoas precisam mentir para se manter saudáveis, sociáveis, gostáveis. É natural que precisemos de alguém que nos goste, então mentimos.
Quando nós viramos adultos, pais, nós criamos uma lista imensa de regras. Regras que a sociedade obriga ao pai: crie as regras para que o teu filho seja um bom ser humano. E nós mentimos para as crianças que é feio peidar, que é feio gritar depois das onze, que é feio jogar bola no meio da rua, que é feio olhar pornografia na internet. Nada é mais feio que a nossa atitude, mentimos para as crianças, assim como nossos pais fizeram. E se não o fizessem o que seriamos? Um monte de macacos trogloditas incapazes de conversar com um ser do sexo oposto sem olhar para as suas partes íntimas. Seriamos incapazes de mentir, ou seja, incapazes de nos matermos saudáveis, sociáveis, gostáveis. E seriamos todos como eu: sãos, débeis e sós.
Mintamos, por favor, afinal o dia lá fora está lindo, não está?