sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ê pai

Sei, não nasci pra ser pai. Achava que tinha que montar uma família grande, três filho, cachorro, papagaio, o Willy, mas não, acho que não. Pai tem que ser forte sempre, lutar sempre, ganhar sempre. Pai é herói. E eu não sou herói.
E ser herói não é fazer um mundo melhor, é espantar monstros de armário e de baixo da cama, é comer jujubas brancas que os filhos não comem, é matar baratas e é salvar lagartixas presas.

Não estou com vontade de jujubas, diz o herói, e pedimos que ele coma as jujubas brancas, pois são nojentas. Come pai, por favor, é muito ruim. Se ele estiver sendo um bom herói ele come, faz cara de prazer e diz Vocês não sabem o que estão perdendo, com vontade de ensinar aos filhotes que ser pai também é ser herói, uma lição distorcida que um dia será entendida.

E eu, que odeio as jujubas brancas, vou dizer o que? Ah, não estou com fome. Mas pai, diriam eles, come só essa, tá acabando! E eu poria-as na boca e engoliria duma vez, fazendo cara de nojo enquanto ninguém vê. Que jeito nobre de ser herói, ou anti-herói.
Ser pai? Cuido do meu gato... E olha lá.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Escreve mais

Parou. Queria escrever como escrevia antes. Queria mostrar que ainda era gente, que ainda era especial. Mas que nada. Estagnou por um período Sempre. Que sempre é só até que dure nós sabemos, mas esse sempre anda sendo muito. Anda sendo um sempre eterno, daqueles sempres que nunca existem.
Pois queria mostrar existência, mostrar pouco de si e pouco do mundo. Mas só sabia de saber coisas bobas, coisas que nunca entendi, que nunca entenderei, que nunca deveriam ser entendidas. As coisas que se não existissem, ninguém ia sentir falta. Sentiria é falta de saber. Só sei que sei as coisas bobas.

E parou. Queria escrever.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Flecha

Disse muito. O fiz como um meio de tirar todo o peso das costas, e o fiz bem, pois o peso não ficou. Acho que não acredita em declaração amorosa, ou em verdades, ou em mentiras. Bem acho que não acredita em muita coisa senão viver o dia-a-dia, um atrás do outro. Seria bem bom que acreditasse assim, afinal eu ia ver que no montante não fiz mal de dizer muito. Ruim mesmo seria se acreditasse diferente, ia fazer de tudo grande coisa, e meus feitos não são feitos para serem grandes feitos, são feitos para dar pena. E diria que eu que faço bem, que eu que sinto bem, que eu que amo bem. E daí tudo seria errado, diferente, e eu não estaria tão bravo para não mostrar. Seria bem como um conto de fadas a médio prazo, pois que foi um conto de fadas a curto prazo foi.
Que bom, teu caminho perfurante apenas pessou diante do meu olhar, perfurando tudo que eu tinha, mas apenas passou. Que bom que passou.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Levando a vida

O bom dos sonhos é que eles são recicláveis, mutáveis, assim como os sonhadores o são. Da noite pro dia, esquece-se do velho sonho, pois um novo sonho toma o lugar do velho sonho. E o ser humano é assim, necessitado de sonhos. Todos nós precisamos sonhar.
Ao objetivar o sonho sonhado, nós não simplesmente festejamos, buscamos criar outros sonhos, cada vez mais inalcançáveis. E é bom que sonhemos desse jeito, pois o chato da vida é dar-se por vencido e esperar que ela mesma te leve. Quem tem de levar somos nós, nós levamos a vida.
Que bom que existem sonhos.