quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sem-vergonha

De vez em quando, sinto coisas estranhas. E por estranho, digo indefinível, pelo menos dentro do meu conhecimento linguístico. Faz tempo, mas eu frequentemente sentia uma espécie de queimação dentro de mim. Uma queimação que vinha junto com uma massa maior que minhas laringe e faringe e esôfago, daí tomava água, tentando jogar essa massa pra dentro de mim. Foi só quando tive uma queimação estupendamente mais forte que entendi que podia muito bem ser um problema gástrico.
Quando tenho bons momentos (seja felicidade, alegria ou simplesmente uma demonstração mútua de respeito e consideração) com pessoas que desgosto, estou chateado ou não vejo há muito tempo, sinto uma espécie cãimbra nas mandíbulas, mas diferente daquela cãimbra que se sente quando uma comida ou bebida deliciosa toca a língua (se é que isso é chamado de cãimbra).
Quando lembro da minha falecida avó, costumo sorrir, daí me arde o que eu imagino ser o canal lacrimal. Uma ardência seca que sobe do nariz aos pontos lacrimais (onde saem as lágrimas), então o meu nariz coça e eu espirro.
Mas a sensação mais estranha, veio agora a pouco. Uma vergonha tomou o quarto escuro e eu simplesmente não consegui mudar a música, deixando-a tocar em loop por no mínimo oito vezes. A palavra vergonha, eu conheço, mas esse meu sentimento estranho e ao mesmo tempo tão familiar não condiz com o conceito de vergonha. Quer dizer, a vergonha é um sentimento causado por algum tipo de evento particular, a reação que vem de um embaraço, mas eu só senti as notas agudas da música que ouço repetidamente adentrando o meu cérebro. A reação da música é a vergonha. Sem nenhuma memória que vem de um inconsciente, sinto-me envergonhado. Vergonha sem especificação, sem nome, sem definição. Só uma grande e aguda coisa ou negócio ou seja lá como isso se chama.
A música toca mais uma vez.