domingo, 22 de maio de 2016

O bebê

a sorridente e solidária mulher
que me parecia um pouco santa
e um pouco mãe
me deu o filho
da puta
nos braços
pra eu carrega-lo
na nossa procissão

loiro
de olhos
azuis
parecidos
com os da minha
gata persa
ele me olha

se inclina pra trás
para me ver inteiro
me estuda
eu converso com ele

gosto tanto dele
e gosto da mãe dele
mesmo que dele
não tenha
podido cuidar

agora a mãe trabalhava
num mercado

"que bom que saiu das ruas"

ele gosta de mim

aninha a cabeça na minha
barba
como um canarinho
enquanto eu ajeito ele
na minha
cintura

eu gosto dele

ele tenta pegar as folhas da trepadeira da grade
rente a escadaria que subimos

lá em cima o ar é diferente

e eu gosto dele