terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bilhete

Anotei aquelas palavras prá lembrar de dizer o que eu queria. Mas ficou por isso, uma lembrança vaga de todos os sentimentos que eu queria passar por palavras. Eu entendia que, mesmo que eu sentisse, minhas palavras não sairiam. Então, sem pensar duas vezes, beijei-lhe a face e larguei nos teus ombros as poucas lembranças que eu tinha.
Era um bilhete rápido, com três ou quatro frases, afinal era só um lembrete, não uma mensagem. Como as palavras não sairiam, imaginei que você olharia aquela falta de lexico como um tiro no escuro, um ultimo suspiro. Mas não, era só o que eu queria falar. Embora eu não tivesse falado, meus olhos disseram que você imaginou muito mais. Eles diziam que você ouvira, naquelas raras frases, tudo o que eu queria dizer. Todas aquelas minhas palavras recheadas de sentimento estavam ali, jogadas num papel 3x2, pequenino, frágil e esquecível.
Pois eu prefiria que você esquecesse, conquanto não houvesse modos de lutar contra a sua memória. Como fui tolo em acreditar que você leria e jogasse no bueiro mais próximo... Agora os meus sentimentos estão presos naquele bilhete, eternamente escravos da sua lembrança.