Rubem Alves
Minha mãe me diz assiduamente:
- Reza para o teu Deus, meu filho! Pede, sem vergonha! Pede, pois você precisa, e Ele te ajudará!
E eu não tenho coragem. Me falta coragem, isso. Me falta, pois meu Deus não é o Deus de todo mundo. Meu Deus não é Deus dos milagres, Deus das ajudas, não é o Deus Santo de todos os Santos.
Meu Deus é o Sol, que me esquenta; é a Natureza, que me inunda os olhos com belezas; é a Lua, que me seduz. Meu Deus também é o Diabo, meu Deus castiga!
Nunca quis discutir com a Dona Daisy sobre esse assunto divino, sempre disse:
- Não rezo, não peço.
Aqui é a verdade, não rezo e não peço, pois meu Deus não me ouve, meu Deus não me dá. Talvez eu não acredite em milagres, ou eu não acredite que alguém faça o meu dever, ou eu só gosto de ser contrário a todos. Enfim, meu Deus ajuda, apenas.
A ajuda que o meu Deus dá é baseada na fé. Ele me segura, me dá forças pra sobreviver, não mais do que força. Não me dá dinheiro, presentes, vitórias.
E o bom religioso, aos meus olhos, não me passa de um drogado. Deus é vício, droga é vício, Deus é droga. A religião, desde sempre, foi um método de pedir a um ser superior por graças superiores, pedir, sempre pedir. Creio que a única coisa que a religião tem de bom é a crença, a fé, não Deus. Deus é a fé em sua forma objetiva. Por esse motivo que eu não consigo dizer "Pai nosso que estais no céu...", não consigo rezar para a minha própria fé, assim como não rezo para a minha felicidade, ou para a minha tristeza.
Meu Deus, se me ouvires, saiba que amo a ti, preciso de ti, preciso da tua força.