domingo, 5 de outubro de 2008

Chiclete

Ah, o amor é tão belo. Arte singela, mas limada, cheia de preciosidades. O romance, temperado com a mais forte paixão, é o mais saboroso prato. Sabor de calor, de cheiro, de toque. Sabor de vermelho, de rosa, de roxo, de preto. Sabor do obscuro, que está lá pelo prazer, apenas. Sabor que, como chiclete, some com mordidas repetitivas, mas ainda sim deliciosas mordidas.

E espera-se mais, sempre mais. Já disse que o ser humano espera mais. E também já disse que mais nunca é bom, mais é exagero, pedir demais. E as mordidas carinhosas passam a ser violentas. Os beijos carinhosos viram discussão boba. As declarações viram mentira. O romance, recheado com o mais lindo amor, vai perdendo o tempero, o gosto. Romance sem paixão deixa de ser Manjar de Deuses pra ser chiclete velho.

Fogo, amor se resume em fogo. Não exatamente o amor, em si, mas o fogo é a sua torre de marfim, espessa, rígida. Torre que segura os mais fortes abalos, portanto inabalável. Só a água destrói o fogo. Destrói, não apaga. Fogo deixa de ser fogo, vira nada, passa a ser o simples frio, calmo e monótono frio.

Quando se masca um chiclete, por mais saboroso e duradouro que seja, e toma-se água, o chiclete perde seu gosto. Junto com a água o sabor desce a goela, obrigado, sem o prazer de estar na boca, apenas para sentir o calor da saliva. Sagrada saliva, que é deixada pelo sabor por causa da água. Se fosse o fogo, a saliva gemeria, gritaria, enlouqueceria. Prazer imenso que o fogo tráz a Sagrada saliva.

E daí o coração pergunta-se o motivo do fim. Ele não entende, não há motivos concretos. O coração amava, amor é o importante, amor é a base de tudo, a base das relações internacionais, das religiões, a minha base, talvez seja a sua base, leitor. Acontece que nós, humanos tolos, nos seguramos em bases fracas. O fogo, por mais que queime, é a mais forte base, torre de marfim que desgasta-se facilmente, mas quem apoia-se no fogo sabe: por mais doce que seja a goma de mascar, há de uma hora acabar o gosto.