segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Falta tempo

"Inventaram o 'ler dinâmico' (...), por quê não inventam o 'sexo dinâmico'?"
Rubem Alves

Parece irônico apontar que os livros de Machado de Assis nunca foram os mais vendidos, já que ele é considerado um dos ícones da literatura brasileira. Na realidade Machado nunca esteve no topo das vendas. Há cem anos atrás, quando faleceu, seus textos ainda eram extemporâneos e não faziam sucesso, hoje a leitura não faz parte da realidade brasileira.

Não só o Brasil, como o mundo, tem entrado em processo de agilização. O tornar ágil do trabalhador globalizado proíbe esse de usar o seu tempo para ler um livro. Ler dispende muito tempo, já que se trata de um mastigar de informações, não de decorar um texto alheio. A realidade do país é outra: degustar a informação já mastigada, proveniente das notícias da televisão e da internet. Essa atitude, a princípio, parece inofensiva, já que os hábitos da vida tecnológica tonaram-se universais, mas ela acaba criando uma imagem negativa e vulgarizada sobre a leitura. Ler tornou-se sinônimo de gastar tempo.

Os sofredores não são só os escritores, que acabam sem compradores dos seus livros. Sofrem também os próprios não-leitores, que abdicam o tempo da leitura para outro tipo de lazer. Ler incita o pensar e permite estar sempre em contato com as normas da Língua, possibilitando um escrever e um falar correto. Portanto, ler jamais é sinônimo de gastar tempo.