domingo, 23 de maio de 2010

Tango

Fechou os olhos e se viu fazendo passos que nunca conseguiria fazer de olhos abertos. Com os braços e as pernas entrelaçados com uma belíssima mulher, dançava um tango como qualquer outro: repleto de sensualidade. Seus lábios tocavam a nuca nua da dançarina e as mãos dela subiam as coxas dele. Parecia que era o rei do mundo, um sedutor invulnerável, um garanhão. Ao abrir os olhos, se viu sentado na poltrona. Mastigava uma Ruffles e sugava Coca-Cola por um canudo grosso. Ele era levemente gordo, levemente velho, levemente desleixado. O banho tinha ficado para o dia seguinte, como o sonho de dançar. Fechou os olhos mais uma vez, mas agora foi para cair no sono. E sua musa inspiradora retoma os complicados passos. O violino chora. Ele sorri.