domingo, 7 de março de 2010

Zumbido

"Que estranho... Eu que sempre gostei do silêncio estou incomodada com esse barulho." Ela reclamava sobre o zumbido que o silêncio fazia.

E o zumbido ficou forte de novo, entrando nos nossos ouvidos.

"Eu posso falar, se vocês quiserem." Ele falou, tentando ser engraçado, tentando ser útil.

Zumbido.

"Esse silêncio está me deixando com dor de cabeça." Eu falei.

Zumbido.
Zumbido.
Zumbido.

"Ah, vou pegar uma cerveja. Alguém quer?" Ninguém me respondeu. Abri a geladeira que sempre estava recheada de Kaisers, mas no momento tinha Skols, para a minha alegria.

Zumbido.

"Alguém fala alguma coisa?" Ela disse.

Zumbido.

"Eu vou embora." Ele disse.
"Por que?" Eu perguntei.
"Sei lá, tá tarde, tá silêncio..." Ele respondeu.

Zumbido.

"Tchau." Ela disse.
"Tchau." Ele respondeu.
"Deixa a chave na porta, não precisa trancar." Eu disse.

Zumbido.
Ela deita no meu colo, sem dizer nada e o zumbido some.
Eu deito ao lado dela, no sofá apertado, colando o nariz.

"Você está cheirando a cerveja." Ela sorri. Os lábios dela tocavam os meus quando se mexiam.
"Desculpa, quer que eu saia daqui?" Perguntei, preocupado. Meus lábios tocavam os dela quando se mexiam.
"Não quero não." Ela sorriu de novo.

Nos beijamos. Nos beijamos como adultos bem resolvidos, não como adolescentes impulsivos. Sabiamos o que estávamos fazendo. E só nos beijamos.

O som das nossas respirações ofegantes, dos nossos corações acelerados, das nossas bocas se beijando, das minhas mãos passando pelas costas dela.
Silêncio, do mais puro, sem zumbido. Uma explosão de sentidos e barulhos quase imperceptíveis. Do tipo que nós dois gostávamos.