sábado, 18 de abril de 2009

Confessionário

- Padre, posso começar?
- Por favor, filho.
- Então, eu menti...
- Reze duas Ave Marias e um Pai Nosso.
- Calma, não acabei.
- Você quer contar a mentira?
- Quero, não posso?
- Por favor, filho.
- Pois disse que eu estava grato pela nossa amizade, e só pela amizade, sem mais.
- Não vejo pecado nisso.
- E beijamo-nos, como se nada que eu tivesse dito fosse verdade.
- Eis a mentira?
- É.
- Então... acho que pode rezar mais um Pai Nosso. Isso, dois Pais Nossos resolvem. Daí estará absolvido.
- Mas não quero rezar, nem ser absolvido dos pecados.
- Que é que veio fazer aqui?
- Me confessar!
- Mas com qual intuito?
- Falar o que não sabem.
- E por quê não os conta?
- Não quero.
- Está a mentir?
- Talvez esteja, não importa.
- Talvez você precise de mais uma Ave Maria.
- Já disse que não rezarei.
- Então conta!
- Contei já.
- E que lhe foi dito?
- Que eu devia rezar três Aves Marias e dois Pais Nossos, nada demais.
- Está dizendo que isso é nada demais?
- Pois acho que estou, mas me sinto melhor, precisava contar.
- Não te entendo, meu filho.
- Se eu quisesse ser entendido eu rezava as Aves Marias, os Pais Nossos, contava tudo.
- Pois quando precisar estou aqui.
- Talvez nem volte, mesmo assim agradeço por me ouvir.
- Volte filho, eu que ficaria agradecido.
- Adeus, padre.