quarta-feira, 22 de abril de 2009

É o velho que come

Ela arranhou a cintura dele, do jeito mais doce e sensual que podia ter arranhado. Ele não deixou por isso, foi atrás, encostou narizes, falou palavras bobas, pediu um beijo. Ela disse que ele era muito novo, que seria o mais novo que ela beijaria. Ele não deu bola, disse que foda-se e que não se importava com idades. Ela disse que já era experiente, que casou aos 16, que descasou aos 18. Ele disse que não estava nem aí, pois ele também tinha 19, que nem ela. Ela não gostou de ser comparada aquele menino, ela era bem mais experiente, bem mais culta, bem mais bela. Ele só dava atenção aos lábios dela, que dançavam como bichos no cio numa dança de acasalamento a espera dos lábios dele. Ela começou um questionário, esperando se mostrar mais velha, e de fato ela parecia mais velha, toda superior às palavras dele:
- O que você gosta?
- Eu gosto de muita coisa...
- Aposto que você passa o dia no orkut, assiste MTv e ouve música do rádio.
- Não gosto de TV, muito menos de rádio.
- Você não vê TV?
- Sou viciado em seriados, mas seriados não contam como TV, pois assisto-os no computador.
- Gosta de filmes?
- Até gosto...
- ... - E ela começou com uma lista de filmes cults, mostrando que ela era mais cult.
- Não tenho tempo prá assistir filmes, eles demoram muito.
- E gosta de ler?
- Li pouco esse ano, estava fazendo cursinho, mas sim, gosto de ler.
- Estou lendo Guimarães Rosa! - Ela mostrava-se cult de novo, pois ler literatura brasileira e ouvir MPB é cult.
- Guimarães Rosa é livro de colégio.
- Quê?
- O único livro de colégio que gosto é de Machado de Assis. Gosto dele, pois ele usa muito da psicologia. Falando em psicologia estou lendo o Saramago, gosto também do Zygmund Bauman, do Roussel, do Foucult, do... - E ele fez uma lista de psico-socio-escritores. Ele não falou dos gregos por achar que ela ia falar que gregos são clichês, afinal ele queria mostrar que era mais inteligente que uma adolescente metida a velha.
- ... Mas... Quer dizer que você lê! - Ela olhava perplexa da maturidade daquele rapaz.
- É, pode-se dizer que sim.
- Tá bom, eu te beijo.
- Quê?
- Eu não ia te beijar por você ser novinho, mas vejo que tem maturidade o bastante, você merece o meu beijo.
- Deixa de ser criança! Eu quero é te comer!