quarta-feira, 1 de julho de 2009

Esforço em vão

Quando eu era moleque, chamava os ciclos viciosos de círculos viciosos. Minha mente matemática dizia que era completamente plausível que os ciclos tornassem-se círculos, mas fui crescendo e descobrindo que os ciclos só se formam círculos se forem infinitos. É, a expressão remete à forma do círculo, que não tem começo nem fim, vai ver ficamos velhos e caducos, contrariando o certo justamente para criarmos um certo. Pois já velho fui notando que os ciclos são tão viciosos que todos os ciclos já são viciosos, ou seja, tudo é sempre igual e tende a mudar, mas voltar a ser igual, até mesmo os diferentes círculos.

Depois que me dei por cópia quis cortar o círculo, diferenciar os fins dos começos. Mas as tentativas de trazer um sorriso às bocas mal-humoradas são desgastantes, é que para sorrir, o orgulho deve ser ferido. Falo aqui do orgulho como se esse fosse invulnerável, no entanto a razão pelo meu desejo de cortar o círculo veio do meu orgulho ferido. É como se eu quisesse fazer desvanecer aquela máxima de os filhos virarem os pais, os filhos dos filhos virarem os filhos, eu queria ser algo novo. Que tolice, é bonito um filho com orgulho dos pais! E é esse orgulho que incita a existência do círculo. Tão bom ter heróis como os meus heróis.

Hoje eu sinto que estou mais velho. Como se essa semana de sossego tivesse me posto na cabeça que poucas coisas são importantes e essas devem ser valorizadas. Talvez amanhã me sinta moleque de novo, me importe com as bebedeiras e as bucetas que venham ao meu caminho. Daí depois de amanhã eu sou velho de novo. E novo. E velho. E novo. E velho. Com pequenas interrupções em seu trajeto vicioso e pleonástico: ora a adolescência espreitando às mudanças entre o novo e o velho, ora a morte declarando o fim do velho e dando início ao novo.

Hoje, que sou mais velho, percebo que ontem eu também me sentia velho. Se me senti mais velho ontem, qual o motivo de comemorar a velhice hoje? Por que não comemorar o dia 2 de julho? Parabéns Eduardo, o senhor viveu o dia 2 de junho 20 vezes! É circular, estático, monótono. É dia após dia, sendo todos os dias dias que jamais vivemos, mas que, de forma ou outra, não nos serão completamente novos. Eu não comemoro aniversários, comemoro tempo. Parabéns Eduardo, o senhor viveu 15 anos 9 meses e 10 dias com o seu irmão!

Só não consigo mudar sozinho. E nem vejo mais motivos para que me ajudem a mudar, que fique assim, bom aos olhos.