segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Declarações em vão

O vestido amassado não marcava a calcinha, mas deixava ela a mostra quando a garota respirava fundo. O cabelo loiro desajeitado e o olhar de ressaca davam a impressão de que toda a moralidade tinha sido despejada do alto de um arranha-céus. As pessoas olhavam com olhares repressores, julgando a posição da menina, fofocando sobre a vida que ela levava. É fato que essas pessoas não conheciam a vida dela, mas ainda sim inventavam informações e desgraças, falando sobre a sua vadiagem, seu alcoolismo, sua vida sexual muitissimo ativa.
Fui o único que resolvi falar com ela. Que foi, bela moça? Os olhos azuis se enxiam de água aos poucos, ela me abraçou. Pensei em dar conselhos que ajudassem-na a solucionar os problemas que eu nem sabiam quais eram, mas preferi fazer o que sei fazer de melhor, me calei. As lágrimas dissolviam a maquiagem, que por sua vez escorriam na minha camisa branca.
Deixei estar. Que me suje, que chore, desde que se sinta protegida por mim, eu pensei. Mas ela leu meus pensamentos e se envergonhou, saiu apressada em busca da porta. Óbvio que não pude evitar de olhar para as pernas maravilhosas enquanto ela saia, óbvio que eu podia deixar de fazer esse comentario tolo.
Volta aqui! Peguei-a pelo braço e ela disse: eu te amo, seu idiota! Pois não me disse antes por quê? Quantas vezes eu não esperava ser amado novamente, quantas vezes não procurei nos olhos das pessoas que passam pela rua o amor? Eu te amo também, mas acontece que você me machucou, eu disse. Ela não tem o direito de pisar e de amar, tem? Existe o orgulho, acima de tudo. E quando eu vou saber que ela vai me machucar de novo?
Tão bela. Se me lembro bem, nos beijavamos nos finais de semana chuvosos. Mas me jogou fora, como se eu fosse um papel usado. Eu a beijei depois da declaração, pois era isso que era esperado de mim. Mas logo em seguida liguei pra minha namorada, fui viver a minha vida, tinha mais coisas pra fazer, sei lá, me esqueci como amar.