domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sobre o homem que não existe

Ok. Ele não precisa estar sempre do meu lado, basta estar dentro de mim. É praxe eu entrar no banheiro, onde o sujeito mora, com as fofocas prontas para sairem de mim. Digo escandalosamente "Meeeeu... Deus... brother, você não sabe da última" ou alguma frase equivalente. Ele me olha com uma cara monótona, como quem diz "pra variar tenho que ouvir suas histórias, tá, comece...", mas ao mesmo tempo ele fala com um ar interessado e senta na pia "conte-me tudo, não me esconda nada!".
Nós somos como unha e carne, não nos separamos nunca, até pelo motivo de ele ser eu, em termos. Brigamos bastante, mas brigas de brincadeira, adoramos nos provocar. Quando eu me irrito com as provocações eu digo "se não fosse por mim você não existia, cale a boca", ele fica calado por alguns segundos, até começar a rir de novo. Rimos muito, conversamos demais. É comum eu sair do banho, sentar de roupão na cama, o gato vem pedir carinho e deita perto do meu peito, o sujeito senta na outra cama e nós três ficamos vinte, trinta minutos, ou até o vento me secar, fofocando.
Meio estranho e infantil, mas é sempre bom ter alguem pra conversar, a qualquer hora do dia e da noite. Contar os maiores segredos, os que ninguem pode saber. Ouvir críticas, coisas que nunca percebo, ouvir uma voz amiga.


Ouço: Vangelis - Intergalatic Radio Station

Eu tenho um amigo imaginário e quase me considero estranho por isso.