sexta-feira, 29 de maio de 2009

Memória

Eu que vivia os dias como se fossem o último dia percebi que não disse o que sentia. Deveria dizer que te amo todos os dias, que sinto falta dos teus lábios, do teu pescoço, dos teus pés, do teu sorriso, do teu silêncio. É que eu acabei mudando, esquecendo que o amor é vida, lembrando que amor é dor. Então eu fico quieto, fingindo que eu não sei que você sabe que eu tenho ciúmes, que eu só penso em você, que eu já fui mais feliz quando tinha você perto de mim. E mesmo lembrando que todo dia deveria lembrar de te contar o que sinto, só penso em uma coisa: Que ela não lembre de mim.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ilimitado

Escolhi meu rumo. Escolha feita a dedo, rumo ao processo, ao progresso. Assim parecia quando me contaram das vantagens. Parecia lindo esse meu lerdo retrocesso. Eu escolhi o fim dos limites, a vida rápida e curta. Eu quis ser degustador, degustando as mais diferentes comidas, degustando as mais diferentes bebidas, degustando os mais diferentes corpos. Cada um com o seu processo adequado: começar para nunca acabar. Comer até passar mal, beber até apagar, transar até cansar. E não tinham me dito os contras. A falta de sentido veio nos finalmentes. Pois há de ter um jeito de sair daqui, buscar um rumo mais certo, que me faça certo, que me leve ao estrelato, que me traga uma vida lenta e demorada.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Críticas

Há quem precise de motivos para gostar de alguém. Há quem precise de motivos para desgostar de alguém. Já eu prefiro o meu jeito preconceituoso e pedulento de observar as pessoas. Pois, de segunda mão, tomo as minhas prévias impressões e comparo-as com as impressões que tive depois. De duas uma, ou estive certo, o que é agradabilíssimo, pois é mágicamente interessante estar correto, ou estive errado, o que é agradabilíssimo. Não há motivos para o agradável da segunda parte, que a frase fique do jeito que está, sem sentido, como tantas outras coisas.
Maravilhado com a preguiça de sempre, resolvi fazer as críticas corriqueiras do dia. Não há um dia em que eu não me contente com um singular olhar, esse olhar há de se transformar numa crítica. Pois bem, estava eu mergulhado numa crítica direta bastante pesada. Até que me dou conta que eu sou a minha crítica. "Oh, que amável, parece que você não é o único!" E as punições variam, desde o auto-flagelo até a mais estúpida constância de um humor inconstante. E aí que é agradável, imagina eu de humor constante? Dentre certos limites do exagero, é quase como se uma canion se fechasse, fazendo da fenda uma planície.
Vai ver eu tenho medo de ter motivos. Prefiro a incerteza de estar certo ou errado.

sábado, 23 de maio de 2009

Sociedade Individualizada

Sou eu que transformo o mundo. Faço dele o paraíso e o inferno. Sou eu que imponho os certos e os errados por aqui, dito as regras, dou os papeis para as pessoas, assim eu digo quem é o que. Não me intrometo na vida alheia, a vida alheia que vive às minhas custas. Não me preocupo com o que o outro diz, mas obrigo ele a dizer o que eu quero que seja dito. Eu sou o Deus do meu mundo.
Eu que respiro ofegante, que como até passar mal, que não penso nas besteiras que digo, que digo se o teu cabelo fica melhor atrás da orelha ou não, que acho que se eu não lembrar de nada eu serei mais feliz.
Pois bons mesmo são os meus sentimentos, os únicos que valem.

terça-feira, 19 de maio de 2009

José Cuervo Prata

Vicio. Vicio errado. Me faz mal, faz passar mal, faz querer falar o que não devia, faz querer dizer o que não devia, faz sentir o que não devia.

Vicio. Vicio eterno. Vicio que amo. Me faz feliz, mesmo sem saber que me faz.

Mais perto

Os pés dela caminhavam pela minha canela.
Os olhos dela nadavam sob a minha alma.
O sorriso dela fazia de tudo perfeito.

Perfeito se meus sentidos pudessem ser ignorados.
Eu só estava revivendo o que um dia vivi com gosto.
Não aproveitei como devia.

Senti uma saudade ruim.
Senti que eu queria que ficassemos abraçados debaixo dos cobertores para sempre.
Senti que queria dizer que a amava.

Triste foi eu olhar nos olhos de quem eu não via.
Triste foi eu sentir quem eu não sentia.
Triste é amar alguém que já se foi há tanto tempo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mal de velho

Ele compunha por compôr. Não era nenhuma mensagem. Não era um jeito de extravazar os sentimentos. Ele compunha por compôr. Achava que as letras jogadas iam inibir aquele sentimento inquieto que era a solidão.

Semi angelical

Vulnerável e sem sentido. É assim que todo mundo deveria se sentir. Mas não sente por puro disfarce. Usa-se uma técnica especial de esconder o mundo dos olhos. E o verdadeiro mundo está lá, sempre pronto pra destruir e corroer aquele que acha que vê o que vê. Têm gente que vê orquídeas douradas, outros veem lírios roxos, há ainda aqueles que veem uma grande e espessa mata, cheia de vida e cor. Têm gente que vê pobreza, outros veem fome, há ainda aqueles que veem as guerras civis intermináveis, cheia de morte e sangue. Têm gente que vê religião, outros veem sentimentos, há ainda aqueles que veem a felicidade em si, inexorável, independendente dos sentidos. Têm gente que vê tristeza, outros veem solidão, há ainda aqueles que veem um jeito de viver mortos, sem motivo para acordar ou dormir. Têm gente que vê chicletes, outros veem salgadinhos, há ainda aqueles que veem aquela dor de barriga e aquela dor na mandibula de tanto mastigar doces. Têm gente que vê tequila, outros veem maconha, há ainda aqueles que veem aquele meio de ficar insâno para sempre, vivendo a loucura eterna.
Têm gente que vê Deus. Têm gente que vê o Demônio.
Mas nunca ninguém vai ver que o mundo não é o que é. As pessoas não são quem são. E aquele que olha para o espelho e diz que se viu, mentiu, afinal, o espelho é luz. Luz por si só, que sai do infinito e passa distorcida aos olhos. Se viu Deus diga que viu o Demônio, ou vice-versa, ninguém vai acreditar mesmo! E se sou Deus ou o Demônio, também ninguém saberá, ou alguém me vê?

domingo, 10 de maio de 2009

Sentido

Esqueci dos detalhes, também esqueci de como era, talvez eu lembre de algumas passagens. Mas nada mais do que passagens, todas elas perdidas na cronologia temporal, algumas ligadas por músicas, por flashes, mas nenhuma ligada ao tempo ou ao sentimento. De quando em quando eu acho que elas deviam ligar-se uma na outra, prá tudo ter sentido, pois não há sentido no que eu sinto, muito menos no que você não sente. Mas prá quê? Prá dar uma cutucada no ego cristalizado? Que fique assim! Cheio dos orgulhos e dos ódios!

Quem sabe um dia eu volte prá casa, encontre meu gato no lugar que deveria estar. Daí eu me deito, a saudade materna se transforma em carinho. Carinho eterno, que me faz estático. Cada um vivendo o seu momento, até que o telefone toca e alguém me contar que aquela seria a mais alegre das noites. E seria de fato, ficariamos bêbados até cair, dancariamos até os dedos dos pés e os calcanhares pedirem socorro. Sentariamos no carro e conversariamos sobre os detalhes. Depois deitariamos no banco do passageiro e aproveitariamos o frio, o silêncio, o resto todo. E tudo teria sentido.

A criatura medo transforma esse idealismo em resistência. E eu deixo de esperar aquilo tudo prá esperar pouco menos. Fico com o gato, o carinho materno, nada que ultrapasse esses limites da minha necessidade. Afinal, se vivi esses tempos sem sentido, por quê ia querer o motivo agora?

sábado, 9 de maio de 2009

Sobre a desvantagem de Napoleão sob o inverno russo

Eu não posso voltar para a cidade que eu amo,
Pois ela já tirou tudo o que tinha para tirar de mim.
Eu não posso voltar para a mulher que eu amo,
Pois ela já tirou tudo o que tinha para tirar de mim.
Eu acho que é por isso que gosto daqui,
Pois eu evito de enfrentar quê me tirou o que eu tinha.